28 Setembro 2015
Diante de um dos últimos restos do World Trade Center e entre representantes das diversas tradições religiosas, no dia 25 de setembro, o Papa Francisco, de forma comovente, pediu que as famílias das vítimas dos ataques do 11 de setembro de 2001 honrem os mortos tornando-se instrumentos de paz e reconciliação.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada no sítio National Catholic Reporter, 25-09-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Depois de rezar ao lado de hindus, budistas, sikhs, judeus, cristãos e muçulmanos em um rito inter-religioso no memorial do Marco Zero, o pontífice disse esperar que a sua presença juntos em um lugar de tamanha destruição fosse um sinal de que a paz é realmente possível.
"Eu confio que a nossa presença juntos será um poderoso sinal do nosso desejo comum de ser uma força para a reconciliação, a paz e a justiça nesta comunidade e em todo o mundo", disse o papa, falando diante do muro de contenção das torres caídas, que é preservado no memorial.
"Para além de todas as nossas diferenças e desacordos, podemos viver em um mundo de paz", disse Francisco.
"Podemos e devemos construir a unidade com base na nossa diversidade de línguas, culturas e religiões, e levantar as nossas vozes contra tudo o que se interpõem no caminho de tal unidade", disse. "Juntos somos chamados a dizer 'não' a toda tentativa de impor uniformidade e 'sim' a uma diversidade aceita e reconciliada."
Dizendo que tal unidade "só pode acontecer se arrancarmos dos nossos corações todos os sentimentos de ódio, vingança e ressentimento", o papa pediu que as centenas de pessoas presentes na ocasião "implorem do alto o dom do compromisso com a causa da paz".
"Dessa forma, as vidas dos nossos entes queridos não serão vidas que um dia serão esquecidas", afirmou. "Ao contrário, estarão presentes sempre que nós nos esforcemos para ser profetas não de derrubar, mas de construir, profetas da reconciliação, profetas da paz."
Francisco falou nessa sexta-feira como parte de um rito que viu reflexões pungentes de líderes judeus e muçulmanos, uma oração de recordação do papa, e meditações hindus, budistas, sikhs, cristãs e muçulmanas.
A multiplicidade de cores e estilos diferentes dos vário trajes religiosos usados pelas cerca de 500 pessoas na plateia se destacou na sala de concreto monótono: capas rosas e faixas vermelhas dos cardeais, turbantes amarelo-pastel e cor de vinho dos líderes religiosos sikhs, vestes açafrão de budistas, estampas tradicionais de nativos americanos, yarmulkes bordados de judeus, vestes jubba bordadas de muçulmanos.
O rito foi marcado por imagens evocativas. Antes de entrar no memorial, o papa deixou uma flor branca sobre um dos novos espelhos d'água no local onde as torres estavam. Ele falou apenas a alguns metros de distância da "Última Coluna" de mais de 10 metros de altura, a última viga de aço removida do local do World Trade Center.
Antes do rito, Francisco se reuniu com 20 familiares dos primeiros socorristas que morreram ao tentar ajudar as vítimas dos atentados do 11 de setembro.
Encontrar-se com essas famílias, disse o pontífice, "fez-me ver mais uma vez como os atos de destruição nunca são impessoais, abstratos ou meramente materiais".
"Eles sempre têm um rosto, uma história concreta, nomes", disse o papa. "Naqueles familiares, vemos o rosto da dor, uma dor que ainda nos toca e grita ao céu."
"Ao mesmo tempo, esses familiares me mostraram a outra face desse ataque, a outra face da sua dor: o poder do amor e da lembrança", continuou. "A lembrança que não nos deixa vazios e deslocados."
"O nome de tantos entes queridos estão escritos ao redor das marcas das torres", disse. "Podemos vê-los, podemos tocá-los e nunca poderemos esquecê-los."
Francisco, depois, elogiou o espírito fraterno com que os nova-iorquinos ajudaram uns aos outros naquele dia terrível.
"Em uma metrópole que pode parecer impessoal, sem rosto, solitária, vocês demonstraram a forte solidariedade nascida do apoio mútuo, do amor e do autossacrifício", disse o papa. "Ninguém pensou em raça, nacionalidade, bairro, religião ou política."
"Tudo tinha a ver com a solidariedade, ir ao encontro das necessidades imediatas, fraternidade", disse. "Tinha a ver com o fato de ser irmãos e irmãs bombeiros. Os bombeiros de Nova York entraram nas torres em ruínas, sem se preocuparem com o seu próprio bem-estar. Muitos sucumbiram; o seu sacrifício permitiu que grandes números de pessoas fossem salvas."
Nas suas reflexões antes das palavras do papa, o imã muçulmano Khalid Latif afirmou que o encontro dos diversos líderes religiosos deve ser um impulso para que se tornem parceiros para a paz.
"Através do nosso conhecimento uns dos outros hoje, vamos além de uma mera tolerância das nossas diferenças e trabalhemos para uma celebração muito necessária deles", disse Latif, capelão na Universidade de Nova Iorque.
"Sejamos ousados o suficiente para construir parcerias com novos amigos e aliados, e, juntos, ser a razão pela qual as pessoas têm esperança neste mundo, não a razão pela qual as pessoas o temem", afirmou.
Na sua oração de recordação, Francisco pediu a Deus "luz e paz eternas" para aqueles que morreram nos ataques, a cura para aqueles que continuam sofrendo injúrias ou doenças, e que Deus possa "trazer a paz ao nosso mundo violento".
"Conforte-nos e console-nos, fortaleça-nos na esperança e dê-nos sabedoria e coragem para trabalhar incansavelmente por um mundo onde a verdadeira paz e amor reinem entre as nações e nos corações de todos", rezou ele, usando a mesma oração que Bento XVI usou na sua visita ao local em 2008.
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No Marco Zero, Francisco pede que famílias das vítimas sejam instrumentos de paz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU