28 Setembro 2015
"Mr. Speeeeaker", grita o locutor, enquanto bate três vezes o martelo na mesa. "Senhor Presidente da Câmara: The Pope of the Holy See!" Ovação. Aplausos. Todos de pé. E Jorge Mario Bergoglio, com o seu passo pesado por causa dos problemas no quadril, passa sorridente em meio a deputados e senadores, aperta a mão do secretário de Estado, John Kerry, e sobe ao banco dos oradores.
A reportagem é de Marco Ansaldo, publicada no jornal La Repubblica, 25-09-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Um sucesso. E muito cansaço. Francisco não demonstra, mas esses dez longos dias de viagem entre Cuba e as três grandes cidades dos Estados Unidos não passam indenes pelo seu físico. Assim foi em julho, oito dias atravessando Equador, Bolívia e Paraguai. Superados brilhantemente, embora a 4.000 metros de altura você sente como que um prego penetrando no seu cérebro. Mas não importa. O que importa, como ele lembrou na primeira visita histórica de um pontífice ao Congresso norte-americano, é o "diálogo".
E o diálogo, as palavras, que aqui pensavam ser fatigantes, em uma língua complicada para ele como o inglês, funcionaram, ao contrário. Às vezes, beira o espanhol, em outras, o italiano. Mas algumas aulas particulares antes de sair, testando e retestando os discursos, valeram a pena. E a prova de fogo foi ontem. Vencida em todos os aspectos.
O papa argentino enfeitiçou os norte-americanos. O homem na rua, assim como o senador. "The frugal Pope", como o apelidou a CNN, dá conta de que o diálogo é capaz de se transformar em negociação política. Eis, então, os milagres da diplomacia vaticana. Primeiro, o degelo entre Cuba e EUA, hoje, o acordo entre Colômbia e as FARC.
Francisco, humilde, empenhado, cansado, um papa humano, no fim, põe todo mundo de acordo. Fidel e Obama. Cuba e os Estados Unidos. O chefe do governo colombiano e o líder guerrilheiro das FARC, que se encontram pela primeira vez, por iniciativa do mediador pontifício.
"Esta é a terra dos livres e dos valorosos", é a sua primeira frase. John Boehner, o presidente da Câmara, católico, que por 20 anos trabalha para que um papa vá ao Congresso, estava visivelmente nervoso. Francisco o olhou e lhe disse: "Parabéns pela gravata verde, a cor da esperança". Logo se tranquilizou.
Depois, o cansaço se fez sentir. Bergoglio tomou um gole d'água, como no dia anterior, durante a missa na Catedral de São Mateus. Mas, enquanto fala, toma confiança com a linguagem. Ajuda-se com as mãos. O discurso é claro e preciso. Mas as pernas o cansam. No altar, está o Mons. Piero Marini, mestre de cerimônias litúrgicas, para ajudá-lo, nas escadas, o general Domenico Giani, chefe da Gendarmeria Vaticana. Mas Francisco, generoso, não renuncia a um único compromisso.
Na verdade, ele inventa outros novos. Na Filadélfia, no fim de uma coletiva de imprensa, o prefeito, Michael A. Nutter, abriu os braços e, sorrindo, admitiu: "Vamos ver, às vezes não sabemos nem o que o papa vai fazer exatamente".
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Com piadas e falando em inglês, Francisco ''enfeitiça'' Washington - Instituto Humanitas Unisinos - IHU