05 Agosto 2015
Assim como Mario Vargas Llosa se perguntou certa vez em que momento o Peru havia se estropiado, no México a cada passo do terror criminoso sempre retorna a mesma pergunta: "Já tocamos o fundo?"
O escritor e jornalista americano Francisco Goldman, morador da Cidade do México há anos, acredita que encontrou uma resposta no protesto de domingo na capital pelo assassinato do jornalista Rubén Espinosa e de quatro mulheres que estavam com ele. "Vendo ao meu lado um grupo de jovens amigas que não paravam de chorar, que talvez conhecessem alguma das vítimas, e escutando a irmã de Espinosa dizer que seu irmão havia sido e continua sendo seu anjo, pensei que sim, já tocamos o fundo."
A reportagem é de Pablo de Llano, publicada pelo jornal El País, 04-08-2015.
Mas ele não tem certeza, porque o fundo do poço da violência no México é de areias movediças. "Na realidade, a sensação é como se fôssemos nos movendo de um lado para outro, como um caranguejo, nesse lodo podre, de uma surpresa horrível a outra surpresa horrível."
A repórter Marcela Turati, integrante da Jornalistas a Pé, uma rede de repórteres destacada na defesa da imprensa, opina que o assassinato de Espinosa mostra que a ameaça não tem limites: "Seu crime enche de horror toda a classe. Com seu assassinato, se rompeu o que ele pensava que o protegeria: de nada valeu que trabalhasse para meios nacionais importantes, que viesse até a Cidade do México, que era considerada uma cidade-bolha onde a violência dos governos locais não chegava. Esse assassinato revolta a todos e nos faz questionar se algo funciona neste país para proteger os jornalistas, se algo pode ser feito para que não ocorram mais crimes, se alguém se importa".
"O paradoxo", diz a respeito o diretor de Horizontal.mx, Guillermo Osorno, "é que o México também é um dos países com maiores instrumentos públicos para a proteção da liberdade de expressão: temos uma lei federal, uma promotoria, um mecanismo de proteção a jornalistas e uma área especializada em proteção a jornalistas na Comissão Nacional de Direitos Humanos. E então, como explicar a alguém de fora a terrível deterioração da violência contra os jornalistas? O problema é o próprio Estado. Cinco em cada dez agressões contra jornalistas são cometidas por funcionários públicos que geralmente trabalham nos governos locais, e até agora nenhum funcionário foi castigado. A indiferença e a impunidade estão gerando zonas de silêncio em todo o país."
O veterano Gerardo Arreola concorda que a morte de Espinosa é um divisor de águas no alcance da violência contra a mídia. "Marca um salto: ocorreu depois que a vítima sofreu perseguição por seu trabalho, foi executada com a clara intenção de enviar a mensagem de represália e ocorreu no coração da Cidade do México."
Para Alejandro Almazán, a reação da justiça deve ser contundente e rastrear cada circunstância que possa ter relação com o caso, como as tensões que as autoridades tinham com Espinosa por seu ativismo: "Javier Duarte [governador de Veracruz] deve ser investigado. Todas as conjecturas o indicam como responsável. E se o governo de Mancera [prefeito do Distrito Federal] insistir no motivo do roubo ou vincular as vítimas ao crime organizado estará validando um regime que assassina jornalistas e ativistas", afirma.
"O governo de Duarte nada fez para proteger os jornalistas", critica Juan Villoro. "Além disso, tentou promulgar uma lei que detinha os que informavam sobre a violência nas redes sociais, o que foi impedido pela Suprema Corte. Recentemente, o governador pediu aos jornalistas que se 'comportassem bem'. Assim criminalizou de forma antecipada as possíveis vítimas.
Veracruz tem sido um bastião do Partido Revolucionário Institucional (PRI). Enquanto esse partido governar, o jornalismo estará em risco. Há urgência de alternativas que, infelizmente, não apareceram. Em tal grau que há alguns anos a melhor alternativa de oposição para as eleições à prefeitura de Xalapa foi um gato, proposto por ativistas civis."
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Assassinato do jornalista Rubén Espinosa enche de horror toda a classe no México - Instituto Humanitas Unisinos - IHU