30 Julho 2015
De acordo com o pesquisador Wuelton Monteiro, integrante da equipe de gerência de malária da FMT-HVD, as pesquisas no Amazonas estão na última fase de execução
A reportagem é de Oswaldo Neto, publicada pela A Crítica, 28-07-2015.
Em pouco tempo, uma dose única de medicamento será o suficiente para tratar a malária e prevenir futuras recaídas. É o que afirma um grupo de pesquisadores da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) que, numa pesquisa de escala mundial, pretende provar a eficácia na substituição da atual substância utilizada na rede de saúde por outra que elimina os sintomas em apenas um dia. Os resultados vêm se mostrando animadores para a ciência até o momento.
O estudo é chamado de “multicêntrico” pelos estudiosos, visto que concentra, também, equipes do Peru, Índia, Bangladesh e Tailândia. No Brasil, as pesquisas envolvem centros de Manaus e Porto Velho, locais onde são registrados os maiores índices de malária da Região Norte.
De acordo com o pesquisador Wuelton Monteiro, integrante da equipe de gerência de malária da FMT-HVD, as pesquisas no Amazonas estão na última fase de execução. Monteiro explica que, para testar o comprimido, 150 pessoas foram recrutadas em Manaus para integrarem os estudos, que tiveram início em abril do ano passado. Conforme ele conta, essa última fase foi essencial para constatar a eficiência do medicamento.
“Esses indivíduos foram acompanhados no estudo durante seis meses, quando, além de verificar se eles estarão protegidos das recaídas, verifica-se se esse tratamento não tem efeitos colaterais, que podem prejudicar o uso futuro dele”.
Ainda segundo Monteiro, a pesquisa pode reduzir o tempo de tratamento da malária para um dia, após ser ingerida uma dose única. “O que a gente está tentando é diminuir o tempo desse tratamento. Com a tafenoquina substituindo a primaquina, a gente reduz o processo de sete dias para um único dia. Então o paciente receberia o diagnóstico no local, tomaria o comprimido e já ficaria livre dessas recaídas futuras”, explicou o pesquisador.
Combate rápido
De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (Susam), iniciou neste mês o período de maior incidência da doença no Estado, transmitida pelo parasita Plasmodium vivax. O vírus responde por 90% dos casos registrados no Amazonas e anualmente inclina a rede de saúde a tomar medidas como borrifação intradomiciliar e distribuição de medicamentos. No entanto, o tratamento dura de 7 a 14 dias, tempo superior ao proposto na pesquisa.
Para Monteiro, caso o comprimido seja aprovado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a distribuição irá possibilitar a diminuição de casos de reinfecção em várias partes do mundo. Isso porque, segundo ele explica, a maioria dos casos de malária são reincidentes, ou seja, acontecem devido às recaídas. “Se ele mora numa área endêmica para malária onde há mosquitos e pessoas infectadas, ela possivelmente terá reinfecções. Então, se o medicamento vier a ser utilizado pelo sistema de saúde como tratamento de escolha, é muito provável que a gente tenha o controle da malária”, explicou ele.
De acordo com o pesquisador, os resultados da fase 3 devem ser concluídos até o final de 2015, quando serão reunidos os dados dos outros quatro países que compõem o estudo.
Blog: Wuelton Monteiro, pesquisador da FMT-HVD
“Nós não temos ainda um estudo econômico pra saber se ele é mais barato, mas é muito provável, sim, que o laboratório, quando colocá-lo à disposição para o Sistema Único de Saúde SUS, tenha um custo-benefício significativo. Normalmente as drogas, no início, são mais caras, mas só que, no caso da tafenoquina, vai ser um único tratamento e não sete dias, como a primaquina, então ela deve ter um efeito de economia. Além disso, se ela vai prevenir episódios de malária são menos tratamentos futuros que serão necessários serem feitos. Se você diminui a quantidade de recaídas, você acaba economizando em tratamentos futuros. A tafenoquina é um único comprimido e poderá ser consumido após ser dado o diagnóstico. A longo prazo a gente espera que seja vantajoso”.
Malária transmitida por mosquito vetor
O parasita Plasmodium vivax é responsável por 90% dos casos no AM. A transmissão se dá por meio de um mosquito vetor, que prolifera o parasita após ter picado uma pessoa infectada pela malária vivax.
Os sintomas da doença incluem dor de cabeça, dor no corpo, fraqueza, calafrios, sudorese, náuseas, vômito e dor abdominal.Atualmente o esquema de tratamento da malária se dá por meio de medicação, variando de 7 a 14 dias. Áreas de invasão ou próximas de rios são as mais perigosas na transmissão da malária.
Vacina
A Organização Mundial de Saúde (OMS) aprovou, na sexta-feira, o que pode se tornar a primeira vacina do mundo contra a malária. A dose, chamada Mosquirix, foi desenvolvida pela farmacêutica britânica GlaxoSmithKline e a PATH Malaria Vaccine Initiative. A OMS informou que irá começar uma avaliação em outubro sobre quando e onde a vacina poderá ser usada. A enfermidade infecta cerca de 200 milhões de pessoas por ano.
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Pesquisa da Fundação Tropical desenvolve remédio para curar a malária em um dia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU