Por: Cesar Sanson | 28 Julho 2015
Para o Premio Nobel da Economia não é surpreendente que uma figura anti-austeridade, como Jeremy Corbyn, surja como sério concorrente à liderança do Partido Trabalhista britânico. "Fora da Alemanha a ideia de que a austeridade é prejudicial está disseminada”.
A reportagem é publicada no portal esquerda.net, 27-07-2015.
“Não estou surpreendido que assistimos ao crescimento do movimento anti-austeridade em torno do aumento das preocupações com a desigualdade. As promessas do New Labour no Reino Unido e dos Clintonites nos EUA têm sido uma decepção”, afirmou o ex-economista do Banco Mundial e professor na Universidade da Columbia nos EUA.
Joseph Stiglitz entende ser natural que os jovens sejam os defensores mais prováveis da candidatura de Jeremy Corbyn à liderança do Labour por se sentirem mal e estarem desiludidos com a política mainstream.
“Infelizmente, os partidos de centro-esquerda acovardaram-se. Juntaram-se a dizer: Ah, sim, nós temos que ter uma versão mais amável da austeridade, uma versão mais suave da austeridade. Mas uma das desilusões da zona euro, e da Europa de forma mais ampla são os partidos de centro-esquerda que eleitos se submetem à Alemanha e depois fazem uma retórica que é mais suave, mas o resultado não é muito mais suave”.
Stigliz citou um estudo que demonstra que nos EUA todos os ganhos econômicos desde os inícios da década de 1980 foram para os 10% mais ricos. “A parte inferior dos 90% da economia tem visto estagnação há já um terço de século”.
Os modelos econômicos partidos de centro-esquerda não têm servido e a sua mensagem não funciona. Então, para mim não é surpreendente que se veja, digamos, nos Estados Unidos que, obviamente conheço melhor, os progressistas [anti-austeridade] estejam a ganhando voz no Partido Democrata”.
Stiglitz argumentou que a crise desencadeada na zona euro, por aquilo que considera ser uma política errada de bullying sobre a Grécia, para que esta aceitasse um acordo que apenas oferece “depressão sem fim”, corre o risco de alimentar o sentimento anti-UE no vindouro referendo britânico sobre a manutenção na União Europeia.
“O Reino Unido tomou uma boa decisão [que] foi não aderir ao euro. Pode tê-lo feito pela razão errada, mas ainda assim foi a escolha acertada”, afirmou numa iniciativa organizada pelos seus eleitores em Londres.
Para Stiglitz o modelo monetário global da zona euro não foi um sucesso e não se consegue lembrar de alguma coisa que tenha sido mais divisionista para a União Europeia do que a forma como foi gerida a crise da dívida grega.
Segundo o economista, a melhor maneira de salvar o projeto político europeu é “permitir que o euro se vá… Não só foi evidente a falta de solidariedade, como não existiu sequer um mal-entendido sobre o que é solidariedade. Não se pode ter um grupo de países com os mesmos mecanismos econômicos sem algum grau de solidariedade”.
O mais recente acordo sobre a dívida grega e as políticas de austeridade impostas à Grécia pelos líderes europeus e o FMI estão fadados ao fracasso, diz ele.
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“Partidos de centro-esquerda acovardaram-se e submetem-se à Alemanha”, afirma Stiglitz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU