Por: Jonas | 27 Julho 2015
“A razão fundamental de tantos imigrantes haitianos é que o Governo Dominicano e muitos empresários, durante décadas, atraíram essa mão de obra barata, indocumentada e empobrecida para explorá-la. Seu único valor é que trabalham de sol a sol por míseros salários. Cumprido esse trabalho, são indesejáveis”, analisa a cientista política Rosario Espinal, em artigo publicado pelo jornal Hoy, 01-07-2015. A tradução é do Cepat.
Fonte: http://goo.gl/7c8QCB |
Eis o artigo.
Comecemos pelo essencial: a maioria dos haitianos em território dominicano não o deixará, nem serão repatriados e nem legalizados, porque o Estado Dominicano e muitos empresários precisam dessa mão de obra barata para explorá-la. Agora, vejamos as circunstâncias.
A maioria dos dominicanos não quer os haitianos no país. Para adocicar essa rejeição se apela à solidariedade com o terremoto; e na busca por culpados por sua presença, com frequência, utiliza-se o argumento de que há um plano internacional para que a República Dominicana assuma a pobreza do Haiti.
Essa pobreza é, sem dúvida, o fator que leva à imigração, mas a corrupção dos funcionários dominicanos de fronteira abre a comporta.
Repito: a razão fundamental de tantos imigrantes haitianos é que o Governo Dominicano e muitos empresários, durante décadas, atraíram essa mão de obra barata, indocumentada e empobrecida para explorá-la. Seu único valor é que trabalham de sol a sol por míseros salários. Cumprido esse trabalho, são indesejáveis.
Estes seres subumanos são rejeitados pela elite haitiana, pelos dominicanos, os norte-americanos, os europeus e inclusive pelos caribenhos ‘cariconeños’. Seu grande pecado é ser muito pobres e muito negros.
A imensa maioria dos haitianos nunca teve direitos formais na República Dominicana, nem tampouco os reivindicaram. Essa era a chave da “relativa tranquilidade” entre haitianos e dominicanos, até que chegou a Sentença TC 168-13.
Essa Sentença declarou oficialmente ilegais, de maneira inapelável, generalizada e retroativa, todos os descendentes de estrangeiros indocumentados, desde 1929. Quis ser tão avassaladora, que de um caso levado ao Tribunal Constitucional, por Juliana Deguis, aplicou-se a qualquer um na mesma situação; e de um recurso atual se chegou a 1929.
Desde então, há um vespeiro nacional e internacional. Tudo o que se diga ou faça sobre o tema produz um enfrentamento ou uma acusação, e até insultos da pior espécie.
Para moderar as consequências aberrantes da Sentença, o Governo Dominicano teve que reconhecer a cidadania de uma parte dos descendentes de imigrantes indocumentados, nascidos em território dominicano, segundo estabeleceu a Lei 169-14. Por sua parte, o Plano de Regularização legalizará uma fração dos imigrantes depois que forem revisadas quase 290.000 solicitações.
Diante do vespeiro, alguns haitianos se auto-repatriaram e outros farão isto à força, mas, ao final, a maioria voltará, porque expulsá-los e reingressá-los é um grande negócio. Além do mais, quem cavará os buracos subterrâneos, os túneis, avenidas e edifícios? Quem colherá o café, o cacau e o arroz? Quem cortará a cana? Os dominicanos, por míseros salários? Oh, não!
Os beneficiados políticos por este vespeiro não serão os sindicalizados nacionalistas que falam de polo patriótico. O tema haitiano não divide eleitoralmente a sociedade dominicana porque a imensa maioria não quer os haitianos no país. O beneficiado politicamente será Danilo Medina, que aproveitará os espaços para pronunciar discursos de soberania, que o elevem à categoria de herói nacional.
O custo do vespeiro é alto para República Dominicana, porque envelhece publicamente a alma, aprofunda as desavenças entre dominicanos e haitianos, entre países amigos e República Dominicana e com organismos internacionais de direitos humanos.
Eventualmente, o vespeiro diminuirá em intensidade, quando se tornar evidente que a maioria dos haitianos não deixou o país e que a maioria ficou sem documentos, porque o Governo Dominicano e os empresários precisam dessa mão de obra para continuar explorando-a. Legalizados sairiam mais caros.
É puro teatro; e o vespeiro seria divertido se não tivesse tantas pessoas empobrecidas como as prejudicadas centrais.
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República Dominicana. O vespeiro com os haitianos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU