06 Julho 2015
Apesar dos muitos lamentos na Igreja, os jovens namorados desejam fidelidade, ternura, sinceridade. Esses são valores que estão no topo da sua escala de valores do amor. A sexualidade, portanto, está ligada ao amor na confiança; o fato de que seja institucionalizada, para os jovens, passa para o segundo plano.
A opinião é do teólogo e padre austríaco Paul Zulehner, professor emérito da Universidade de Viena, em artigo publicado no seu blog pessoal, 01-07-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Em 1783, o imperador José II emitiu um edito de matrimônio (Ehepatent), que decretava: "§ 22. O contrato de matrimônio é concluído quando uma pessoa de sexo masculino e uma de sexo feminino consentem em iniciar uma vida comum inseparável, para gerar filhos e para gozar dos direitos vinculados a esse estado".
Nesse edito de matrimônio, o amor não era sequer nomeado. Falava-se apenas de contrato. Portanto, não de sentimento, mas de vontade, unida a vários interesses. O matrimônio era uma instituição. O seu escopo: a garantia de uma descendência para o vilarejo. O sentido do matrimônio consistia, na época, em fundar uma família. Talvez, a sexualidade também era comunicativa – de todos os modos, devia ser generativa.
Era o tempo em que, em última análise, "casava-se" prado com prado, terreno com terreno. Na época, assim como acontece hoje em outras culturas, acontecia de se fazer com que os jovens se casassem.
"As nossas mães e os nossos pais diziam que o amor vem depois!", afirmava o leiteiro Tevye (no musical Anatevka), que tinha três filhas para casar.
De contrato a relação pessoal
Hoje, a maioria das pessoas não concebe mais o matrimônio como um contrato, mas como uma relação baseada na relação pessoal, como um apoio recíproco. No amor entre duas pessoas, a sexualidade está entretecida.
Apesar dos muitos lamentos na Igreja, os jovens namorados desejam fidelidade, ternura, sinceridade. Esses são valores que estão no topo da sua escala de valores do amor. A sexualidade, portanto, está ligada ao amor na confiança; o fato de que seja institucionalizada, para os jovens, passa para o segundo plano.
Muitos institucionalizam a sua relação amorosa só depois de muito tempo, em muitos casos, quando chega um filho e quando se sente que chegou o momento do casamento. Assim, o sacramento que é celebrado é um conjunto de matrimônio e de batismo, um sacramento de fundação da família.
Nos encontros com pessoas que se preparam para o casamento, eu nunca encontrei ninguém que diga: "Eu quero te amar, mas só por três anos e só neste vilarejo". Para a maioria das pessoas, o seu amor romântico é para sempre e eterno. Na modalidade do desejo. E para isso elas também gostariam da bênção de Deus.
Mas as pessoas também são realistas. Elas se dão conta de que o amor que assume essa forma personalizada é muito mais exigente e também mais frágil do que a instituição. Elas veem que, por culpa ou por evento trágico, um "amor eterno", depois de uma longa agonia e de algumas tentativas de reanimação, muitas vezes, também pode morrer.
Mas, nesse ponto, elas não querem ser obrigadas a uma relação que, contrariamente a todos os sonhos iniciais, tornou-se para elas o túmulo do amor. Por isso, dizem sim a um rito no início, mas dizem não à proibição da separação depois.
Não são poucos aqueles que argumentam que não existe mais o casamento se o amor morreu irremediavelmente. Os teólogos morais deveriam ouvir com atenção: de fato, a "res sacramenti", que é daquilo que se trata no sacramento do matrimônio, é justamente esse amor.
Então, o sacramento do matrimônio também morre se o amor morrer? Essa pergunta muito séria não deve ser liquidada às pressas nos debates do próximo Sínodo.
Os teólogos das Igrejas orientais (como John Meyendorff: Marriage, an Orthodox Perspective [Matrimônio, uma perspectiva ortodoxa], 1975) são da opinião de que, no caso em que o amor morre (por exemplo, por adultério da mulher – os homens não eram tratados da mesma forma), os dois eram até obrigados a se separar. Caso contrário, uma relação sexual entre os dois depois da morte do matrimônio seria "fornicação".
Mas o vínculo matrimonial...
Estudiosos católicos de direito matrimonial e sistemáticos que se apoiam em Santo Agostinho consideram que, ao contrário, mesmo depois da morte do amor, continua existindo o vínculo matrimonial objetivo. O contrato ainda vale, mesmo que o amor não exista mais.
Esse vínculo matrimonial (estabelecido por Deus), portanto, liga também aqueles cônjuges que não se amam mais ou, mais, que às vezes até se odeiam e se destroem, e muitas vezes envolvem negativamente a vida dos seus filhos.
Ora, como "vínculo matrimonial" também se pode imaginar a existência de memórias de festas do amor, assim como de dores fantasmas das feridas do passado, que permanecem mesmo quando cresce uma nova relação.
Os conselheiros matrimoniais aconselham, portanto, um período de "cura" – a tradição ortodoxa chama esse período de um "tempo de expiação", no qual haverá também uma cura das feridas.
Porém, quanto ao restante, as pessoas não entendem que o que as vincula é algo que, justamente, admitamos, acabou por culpa ou por causa da tragicidade dos eventos, e isso apesar dos sonhos e dos juramentos do início.
O fato de que justamente aqueles que defendem não as pessoas, mas os "vínculos matrimoniais", se concentram para descobrir se, por acaso, precisamente o vínculo matrimonial nunca existiu é um dos impasses da atual discussão na Igreja Católica.
Alguns afirmam, corrosivamente, que é possível que aqueles que, no início, se amavam, tenham contraído o matrimônio, gerado e criado filhos, mas, depois, por culpa ou por causa da tragicidade dos eventos, tenham perdido o amor, e o matrimônio tenha acabado. Mas que, para que possam organizar as suas vidas de uma maneira nova, deve-lhes ser atestado por um tribunal eclesiástico que não se tratava de fato de matrimônio.
Eu entendo que tais medidas "de xadrez", de tipo jurídico, não obtêm, por parte da maioria dos interessados, um grande interesse e que são rejeitadas pela maioria (com exceção dos empregados eclesiásticos que, sem as "declarações de nulidade", correm o risco de perder o emprego).
A Igreja Católica deve aprender muito ainda para respeitar o deslocamento da instituição à pessoa. O Concílio de Trento poderia dar uma ajuda nisso. Porque, na época, foram excluídos aqueles que defendiam que os casamentos secretos não eram casamentos. Ainda se tratava de uma concepção surpreendentemente pessoal. A relação, os filhos gerados no passado criavam, por si sós, vínculos sacramentais.
Dividir o amor?
É absurdo combater esse deslocamento da instituição à pessoa, com todos os seus efeitos colaterais, considerando-o um declínio moral. Deveria causar muito mais preocupação o fato de que alguns procuram hipotecar preventivamente a possível desilusão da morte do amor ao dizer para o/a outro/a com que se uniram: "Eu quero te amar, te respeitar e te honrar – mas só nos dias bons e não nos maus".
Isso tragicamente reduziria o amor pela metade. Porque um amor sem dor deixa de ser amor desinteressado. Eu aprendi a dizer para alguém que eu amo: "Eu posso sofrer de ti!" [Ich kann dich sehr gut leiden].
O problema, portanto, não é a personalização do amor, mas a sua divisão, que, por sua vez, é produzida pelo medo da morte do amor tão temido.
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Instituição e pessoa. "o sacramento do matrimônio também morre se o amor morrer?" Artigo de Paul Zulehner - Instituto Humanitas Unisinos - IHU