06 Julho 2015
O ecumenismo que propomos é a unidade na diversidade, no reconhecimento recíproco daquilo que se é. E a sensação é de que o catolicismo está mais à frente do que os seus admiradores laicos.
A opinião é do pastor valdense italiano Paolo Ribet, que acolheu o Papa Francisco no Templo Valdense de Turim, no dia 22 de junho passado. O artigo foi publicado no sítio Riforma.it, 02-07-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Com a regularidade que já se tornou um hábito, Eugenio Scalfari comenta amplamente no jornal La Repubblica dessa quarta-feira, 1º de julho, a recente encíclica do Papa Bergoglio, Laudato si'.
O fato em si não chama a atenção, porque a publicação desse documento teve uma grande repercussão, e não são poucos aqueles que, no achatamento cultural, ético e espiritual que nos rodeia, veem no papa a única personalidade de relevo, capaz de dizer palavras claras ao mundo contemporâneo.
Além disso, o próprio fundador do jornal recorda ter se encontrado com o papa quatro vezes, a ponto de poder afirmar que "se tornaram amigos". Não há dúvida de que esses encontros e essa amizade marcaram fortemente o jornalista, antigamente fortemente crítico contra a fé e a Igreja Católica Romana e, hoje, pronto para o diálogo, a ponto de definir o Papa Bergoglio como "profeta e pastor" e "a figura mais relevante do século em que vivemos".
Mas não é isso que chama a minha intenção e me leva a intervir – trata-se, de fato, que comprometem apenas aquele que os expressa. E, além disso, são muitos aqueles que ficaram impressionados com a personalidade do Papa Francisco e com a sua capacidade de se abrir aos outros. A partir do momento da sua eleição, ele se encontrou com um grande favor popular, sinal, este, de que, mesmo depois de dois pontificados muito "altos", sentia-se a necessidade de uma figura mais pastoral e atenta aos problemas concretos das pessoas.
O que me perturbou, pelo contrário, foi o comentário que Scalfari fez sobre a visita ao Templo Valdense de Turim. Aqui, Scalfari, para explicar aos seus leitores quem são os valdenses, se aventura em uma reconstrução histórica que nos deixa chocados e que não compreendemos de onde foi tirada: de toda a reconstrução, salva-se apenas o nome do fundador, Valdo.
Os valdenses, de fato, são definidos como "cismáticos" e "cátaros", enquanto não eram nem uma coisa nem outra. Como explicou o moderador da Mesa Valdense, [Eugenio] Bernardini, no seu discurso, a sua intenção era a de libere praedicare, pregar na liberdade, propondo à cristandade do seu tempo um modo diferente de ser fiéis, seguindo a pobreza e não a riqueza, o rigor e não a corrupção, a fraqueza e não o poder constantiniano.
Os valdenses, como se sabe, têm essa matriz medieval que os torna interessantes; mas, muito frequentemente, esquece-se, como faz Scalfari, que eles aderiram em 1532 à Reforma Protestante e, assim, se inseriram no projeto mais amplo de civilização que criou o mundo moderno.
Mas isso as pessoas laicas italianas não veem – e Scalfari com elas. Estão muito acostumadas para identificar cristandade com catolicismo, e catolicismo com o Vaticano e a sua política de poder, a ponto de perder de vista a riqueza das propostas que provêm do mundo cristão em geral e do protestante em particular.
Além disso, Scalfari já disse várias vezes: as Igrejas protestantes são "seitas" divididas entre si e, portanto, são incapazes de propor qualquer coisa ao mundo moderno. O corolário dessa tese é que apenas o papado pode dizer ou dar algo de significativo. E é exatamente isso o que o Papa Bergoglio está fazendo, segundo a opinião de grande parte da imprensa laica – enquanto o Conselho Ecumênico das Igrejas, há décadas, propõe projetos de "justiça, paz e integridade da criação" na indiferença geral.
Mas há um segundo aspecto a ser considerado. O fundador do La Repubblica defende que "o objetivo de Francisco é o de abrir a Igreja a todas as comunidades protestantes e reuni-las", e ele lê a visita do dia 22 de junho nessa dimensão.
Mas, se assim fosse, seria exatamente o contrário do que se afirmou com uma certa solenidade naquele dia, isto é, que o ecumenismo que propomos é a unidade na diversidade, no reconhecimento recíproco daquilo que se é.
Francamente, parece-me que não se falou e absolutamente não se tem na agenda um "retorno a Roma" ou uma unidade sob o papado.
A sensação é de que o catolicismo está mais à frente do que os seus admiradores laicos.
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O ecumenismo é reconhecimento recíproco, não unidade a todo o custo. Artigo de Paolo Ribet - Instituto Humanitas Unisinos - IHU