24 Junho 2015
A última palavra é de uma mulher, Alessandra Trotta, que eleva as mãos ao céu para "a oração de bênção de São Paulo aos Colossenses", e o papa se levanta junto com os valdenses e com todos os fiéis, enquanto a pastora metodista diz: "A paz de Cristo reine nos vossos corações... e sejam agradecidos".
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 23-06-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Há momentos que marcam a história. Passaram-se 841 anos desde que o comerciante Valdo fundou o movimento dos "pobres de Lyon", os pauperistas que, como cristãos leigos, pregavam o Evangelho na língua vulgar e, por isso, foram acusados de heresia em 1184 pelo Papa Lúcio III e excomungados. O resto são séculos de dor e massacres, perseguições repetidas depois da adesão à Reforma calvinista, guetos nos vales subalpinos.
Às 9h dessa segunda-feira, Francisco foi o primeiro pontífice a entrar em um templo dos valdenses, construído em Turim depois que Carlo Alberto, em 1848, reconheceu os seus direitos civis.
Aplausos, abraços, beijos chegariam no fim, assim como o Pai Nosso rezado juntos. Mas é em um silêncio perfeito, enquanto se veem olhares atentos e olhos lúcidos, que Francisco murmura entre as arquiteturas despojadas: "Por parte da Igreja Católica, peço-lhes perdão pelas atitudes e pelos comportamentos não cristãos, até mesmo não humanos, que, na história, tivemos contra vocês. Em nome do Senhor Jesus Cristo, perdoem-nos!".
O canto em espanhol que o acolhe é aquele que os valdenses refugiados no Rio da Prata tiraram do Eclesiastes: "Ensina-me a viver o hoje / para que amanhã o passado não tenha que me repreender".
O pastor Paolo Ribet está emocionado, "vou ler, que é melhor", e profere: "Muitas vezes me perguntei sobre qual era o modo correto de me dirigir ao senhor e encontrei a resposta na palavra que o Senhor Jesus Cristo nos ensinou para designar os seus discípulos: irmão. Pois bem. Querido irmão Francisco...".
Assim também saúda Eugenio Bernardini, moderador da Mesa Valdense: "Caro Papa Francisco, querido irmão em Cristo... O senhor atravessou um limiar histórico, a de um muro que havia sido elevado há mais de oito séculos".
Francisco também é o primeiro papa a ser convidado. É a "afinidade" entre Valdo e Francisco de Assis, explicam. E depois as palavras do pontífice, a ideia de unidade como "diversidade reconciliada". A assembleia se dissolve com uma risada quando o pastor cita Francisco: "A unidade dos cristãos não será o fruto de refinadas discussões teóricas. Virá o Filho do Homem e nos encontrará ainda nas discussões".
Bernardini pede duas coisas: "superar" a definição do Concílio que define os valdenses como "comunidade eclesial" e não Igreja, e a "hospitalidade eucarística", poder fazer a comunhão juntos. No Pinerolo, católicos e valdenses se doaram pão e vinho para a Páscoa. Francisco fala de um gesto que "faz saborear, em alguns aspectos, aquela unidade da mesa a que ansiamos".
Além disso, "a unidade se faz no caminho", explica: "Testemunhar o rosto misericordioso de Deus no cuidado dos pobres, dos últimos, daqueles que a sociedade exclui".
O pastor fala em favor dos "refugiados que batem à nossa porta", Francisco o agradece. Antes de voltar para Roma, o papa se encontraria por 20 minutos com um grupo de refugiados africanos.
Agora, diz aos valdenses, apesar das "diferenças sobre importante questões antropológicas e éticas", trata-se de caminhar juntos: "Peço ao Senhor que nos dê a graça de nos reconhecermos todos pecadores e de sabermos nos perdoar uns aos outros".
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O pedido de desculpas do papa aos valdenses: o início do diálogo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU