23 Junho 2015
Publicamos abaixo amplos trechos do discurso do Papa Francisco aos desempregados, trabalhadores e empresários proferidos nesse domingo, em Turim, na Itália.
O texto foi publicado no jornal La Stampa, 22-06-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Saúdo a todos vocês, trabalhadores, empresários, autoridades, jovens e famílias presentes neste encontro e lhes agradeço pelos seus discursos, do qual surge o senso de responsabilidade diante dos problemas causados pela crise econômica e por terem testemunhado que a fé no Senhor e a unidade da família lhes são de grande ajuda e apoio.
A minha visita a Turim inicia com vocês. E, acima de tudo, expresso a minha proximidade aos jovens desempregados, aos beneficiários e às pessoas em trabalho precário; mas também aos empresários, aos artesãos e a todos os trabalhadores dos vários setores, em particular aos que sofrem mais para seguir em frente.
O trabalho não é necessário apenas para a economia, mas para a pessoa humana, para a sua dignidade, para a sua cidadania e também para a inclusão social. Turim é historicamente um polo de atração do trabalho, mas hoje está fortemente afetada pela crise: o trabalho falta, aumentaram as desigualdades econômicas e sociais, muitas pessoas empobreceram e têm problemas com a casa, a saúde, a educação e outros bens primários.
A imigração aumenta a competição, mas os imigrantes não devem ser culpabilizados, porque eles são vítimas da iniquidade, dessa economia que descarta e das guerras. Faz chorar ver o espetáculo destes dias, em que seres humanos são tratados como mercadorias!
Nessa situação, somos chamados a reafirmar o "não" a uma economia do descarte, que pede para nos resignarmos à exclusão daqueles que vivem em pobreza absoluta – em Turim, cerca de um décimo da população. Excluem-se as crianças (natalidade zero!), excluem-se os idosos e agora excluem-se os jovens (mais de 40% de jovens desempregados)! Quem não produz é excluído, do modo "usa e joga fora".
Somos chamados a reafirmar o "não" à idolatria do dinheiro, que leva a entrar a todo o custo no número dos poucos que, apesar da crise, enriquecem, sem cuidar dos muitos que empobrecem, às vezes até a fome.
Somos chamados a dizer "não" à corrupção, tão difundida que parece ser uma atitude, um comportamento normal. Mas não em palavras, com os fatos. "Não" aos conluios mafiosos, às fraudes, aos subornos e coisas desse tipo.
E só assim, unindo as forças, podemos dizer "não" à iniquidade que gera violência. Dom Bosco nos ensina que o melhor método é o preventivo: o conflito social também deve ser evitado, e isso se faz com a justiça.
Nessa situação, que não é só turinense, italiana, é global e complexa, não se pode apenas esperar a "retomada" – "esperemos a retomada...". O trabalho é fundamental – a Constituição italiana declara isso desde o início –, e é necessário que a sociedade inteira, em todas as suas componentes, colabore para que ele exista para todos e seja um trabalho digno do homem e da mulher. Isso requer um modelo econômico que não seja organizado em função do capital e da produção, mas em função do bem comum.
E, a propósito das mulheres – você (a trabalhadora que havia discursado) falou disso –, os seus direitos devem ser protegidos com força, porque as mulheres, que também carregam o maior peso no cuidado da casa, dos filhos e dos idosos, ainda são discriminadas, também no trabalho.
É um desafio muito comprometedor, que deve ser enfrentado com solidariedade e olhar amplo. E Turim é chamada a ser, mais uma vez, protagonista de uma nova era de desenvolvimento econômico e social, com a sua tradição manufatureira e artesanal – pensemos, no relato bíblico, que Deus fez justamente o artesão... Vocês são chamados a isto: manufatureira e artesanal – e, ao mesmo tempo, com a pesquisa e a inovação.
Por isso, é preciso investir com coragem na formação, tentando inverter a tendência que viu cair nos últimos tempos o nível médio de instrução e muitos jovens abandonarem a escola. Você (ainda a trabalhadora) ia para a escola à noite, para poder ir em frente...
Hoje, eu gostaria de unir a minha voz à de muitos trabalhadores e empresários para pedir que possa ser implementado também um "pacto social e geracional". [...]
Gostei muito que vocês três falaram da família, dos filhos e dos avós. Não se esqueçam dessa riqueza! Os filhos são a promessa a ser levada adiante: esse trabalho que vocês assinalaram, que vocês receberam dos seus antepassados. E os idosos são a riqueza da memória.
Uma crise não pode ser superada, nós não podemos sair da crise sem os jovens, os meninos, os filhos e os avós. Força para o futuro e memória do passado que nos indica aonde se deve ir. Não ignorem isso, por favor. Os filhos e os avós são a riqueza e a promessa de um povo.
Em Turim e no seu território, ainda existem notáveis potencialidades para se investir para a criação de trabalho: a assistência é necessária, mas não basta: é preciso promoção, que regenere a confiança no futuro. Aqui estão algumas coisas principais que eu gostaria de lhes dizer.
Acrescento uma palavra que eu não gostaria que fosse retórica, por favor: coragem! Isso não significa: paciência, resignem-se. Não, não, não significa isso. Mas, ao contrário, significa: ousem, sejam corajosos, vão em frente, sejam criativos, sejam "artesãos" todos os dias, artesãos do futuro! Com a força daquela esperança que o Senhor nos dá e nunca desilude. Mas que também precisa do nosso trabalho.
Por isso, eu rezo e acompanho vocês com todo o coração. O Senhor abençoe a todos vocês, e Nossa Senhora os proteja.
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''Devemos dizer não ao modelo baseado no capital e na produção.'' O discurso do Papa Francisco em Turim - Instituto Humanitas Unisinos - IHU