18 Junho 2015
Foi em meio a duas crises mundiais que motivou a imigração japonesa para o Brasil. Em duas fases marcantes para a economia bilateral, iniciamos essa saga recapitulando a crise financeira que assolava o mundo, que culminou com a quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929, e que já tinha chegado ao Japão onde empresas faliram. Dois anos antes, em 1927 com o declínio do comércio da borracha o governador Ephigênio Salles, plagiando iniciativa similar do governador do Estado do Pará, procurava alternativas econômicas para seu Estado e ofereceu aos japoneses 1 milhão de hectares, em troca de mão-de-obra especializada. Os empresários japoneses Kinroku Awazu e Genzahuro Yamanishi, ante a magnitude do empreendimento e a distância de sua terra natal, acabaram desistindo da ideia.
A reportagem é de Tanair Maria, publicada pelo Jornal do Commercio, 16-06-2015.
Já o visionário parlamentar japonês, Tsukasa Uetsuka, ao tomar conhecimento do projeto acreditou na sua viabilidade assumindo a responsabilidade de executá-lo. Embora a doação das terras tenha sido rejeitada pelo Senado Federal, Uetsuka, determinado, comprou uma área de 1,5 mil hectares banhada pelo rio Amazonas e pelo Paraná do Ramos, a leste da cidade de Parintins, aproximadamente 20 minutos de barco.
A localização estratégica permitiria escoar a produção tanto para Manaus quanto para Belém. A opção adotada foi o cultivo da juta oriunda da Índia que seria o carro chefe da produção e serviria de base econômica para a colônia. A fibra era fundamental para o comércio internacional onde era usada nos sacos de café e outras mercadorias e poucos países a produziam em larga escala. No dia 21 de outubro de 1930, foi lançada a pedra fundamental na antiga Vila Batista que recebeu o novo nome de Vila Amazônia. Tsukasa Uetsuka procurando melhor preparar os imigrantes que iriam encarar os desafios do empreendimento transformou uma escola de artes marciais, no Japão, na “Escola Superior de Imigração” (Kokushikan Koutou Takushoko Gakko). Cuja denominação passou a identificar seus alunos, os koutakuseis, rapazes entre 18 a 20 anos que aprendiam técnicas agrícolas, noções de construção civil e língua portuguesa.
No dia 20 de junho de 1931, chegaram a Manaus os primeiros 35 koutakuseis e três formandos da Faculdade de Agronomia de Tóquio, acompanhados do professor Sakae Oti. O presidente da Amazon Kutakukai, Adercy Itiu Marnoka, conta que naquela época a crise financeira mundial era alarmante, e a maioria dos países haviam fechado suas portas para os imigrantes, entre eles, os Estados Unidos. “Ele era um visionário e convenceu jovens formados no curso secundário a virem ao Amazonas”, explicou.
O declínio
O ataque surpresa da Marinha Imperial Japonesa à base naval norte-americana de Pearl Harbor, às 8 horas da manhã, de 7 de dezembro de 1941, marcou a entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial e o início da Guerra do Pacífico. No Brasil e em todo o mundo os imigrantes japoneses passaram a ser vistos como inimigos nacionais perderam o direito à posse da terra, foram proibidos de fazer reuniões públicas e falar seu idioma. O fluxo imigratório foi interrompido.
Na Amazônia muitos deles foram feitos prisioneiros de guerra e levados para Tomé-Açu, no Pará, onde já existia uma grande colônia instalada e ainda hoje é uma importante colônia japonesa. Apesar dos contratempos o cultivo da juta continuou. Na visão do presidente do Corecon-AM, Marcus Evangelista, desde a agricultura nos anos 1930 até a indústria dos tempos atuais, o Japão segue cumprindo papel importante na economia do Amazonas. Se em um passado distante os japoneses chegaram ao Estado e desenvolveram habilidades no campo, hoje as empresas nipônicas lideram e representam 40% dos investimentos no PIM Polo Industrial de Manaus) e 25% do faturamento do modelo. Entre os anos de 2008 e 2014, o PIM movimentou investimentos de mais de R$ 16 bilhões oriundos de empreendimentos japoneses.
Para o economista e especialista em Desenvolvimento Regional e Econômico da Amazônia e do PIM, José Alberto Costa Machado, um dos segmentos com maior presença japonesa no PIM é o setor de Duas Rodas, que há dois anos enfrenta crise. No entanto, os japoneses não desistiram de investir na Zona Franca. “A tradição das empresas fala mais alto”, disse. A situação vivida por empresas do Japão é similar há de outras empresas, com uma diferença: os japoneses, quando se instalam em uma determinada região, não se instalam com o propósito de sair no dia seguinte. “Eles fazem um investimento que normalmente é de longo prazo, que requer um prazo mais longo para se ter o retorno deles”, completou.
Atualmente, o PIM conta com 37 empresas japonesas, de forma direta ou indireta. No setor de duas rodas destacam-se a Moto Honda da Amazônia Ltda., a Yamaha Motor da Amazônia Ltda. E a Kawasaki Motores do Brasil Ltda. O setor de compopor nentes conta com 16 empresas, dentre elas a Daido Indústria de Correntes da Amazônia Ltda. Quatro empresas representam o setor de eletroeletrônicos: a Sanyo da Amazônia S/A, a Panasonic do Brasil Ltda., a Sony Brasil Ltda. E a Pioneer do Brasil Ltda. E as demais estão distribuídas entre os seguimentos fotográfico, farmacêutico e outros, setor comercial e de serviços, transporte marítimo, atividades financeiras e atacado e varejo.
Zona Franca
O Consultor Econômico Financeiro da Profinco, Hélio Pereira da Silva, começou sua carreira na área de Incentivos Fiscais em outubro de 1994, analisando o projeto industrial da primeira indústria multinacional japonesa, a MHA (Moto Honda da Amazônia Ltda.). “Sou atualmente consultor na área de Incentivos Fiscais na Moto Honda da Amazônia”, informou.
Segundo Hélio, um dos sócios da gigante japonesa era a Moto Importadora Ltda., concessionária da Honda do Japão, com venda de Pick-up, furgão, motocicletas, triciclos, quadriciclos, motores estacionários, motobomba e outros, daí surgiu o nome Moto Honda da Amazônia Ltda., uma junção dos nomes. Ele conta que chegou a receber convite do investidor amazonense, Nathan Xavier Lemos de Albuquerque, para elaborar o projeto. No entanto, não foi possível aceitar, porque era funcionário público, assim indicou outro profissional. “Profissional valioso e competente da época (1975), Ronaldo Bonfim, que prontamente atendeu o nosso pedido, resultando em um excelente trabalho, sendo o projeto aprovado ainda no tempo da Codeama, onde eu era lotado como analista de projetos”, explicou.
Nesses 33 anos de existência, o escritório Profinco, participa de vários projetos de empresas multinacionais japonesas, como por exemplo a Metalfino, Daido, Musashi, Honda – HDA/HCA/HTA, Sumidenso e Yasufuku. “As empresas japonesas, assim como todas as empresas multinacionais são muito organizadas, oferecendo produtos de qualidade, elevando o nível técnico dos produtos fabricados na ZFM, em vista disso são fundamentais para o desenvolvimento socioeconômico do nosso polo industrial”, avaliou.
A relação entre o Amazonas e o Japão caminha para o primeiro centenário. Com a prorrogação dos incentivos fiscais do Polo Industrial de Manaus até 2073, a região se candidata à sequência de diferentes investimentos. Para as empresas japonesas, uma oportunidade para mudar a realidade atual e projetar um futuro melhor a partir de terras amazônicas.
Gigante japonesa
Segundo o gerente de Relações Interinstitucionais, Mário Okubo, a vinda da Moto Honda para o Distrito Industrial, em novembro de 1976, foi motivada pelos incentivos ficais. “O Brasil era mercado importador de motocicletas do Japão, com a criação da Zona Franca e dos incentivos Fiscais, o mercado ficou atraente e competitivo para investimentos de grande porte, e a Honda decidiu investir no Brasil com a instalação de uma fábrica”, recapitulou.
Para Okubo, hoje a Moto Honda em Manaus além de ser a maior fábrica do grupo em quantidade produzida e verticalização, realizando em uma só planta vários processos produtivos em cumprimento ao PPB (Processo Produtivo Básico), também motivou vários fornecedores a se instalarem em Manaus para atender a sua demanda produtiva. Assim, movimentando a economia com a geração de emprego e renda. “Com isso, a participação da Honda no desenvolvimento do PIM é de grande importância. Além de ser uma empresa que está sempre na busca da qualidade de seus produtos, investe em tecnologia de ponta, cumprindo a legislação e respeitando o meio ambiente, quanto aos impactos ambientais. Atualmente a gigante emprega mais de 30 mil pessoas. Nesse momento de crise econômica, a meta é de reduzir custos, investir em novas tecnologias, criando opções de crescimento, evitando o desperdício. Para Okubo o principal gargalo da Zona Franca é a logística para o escoamento da produção, mas ele admite que a falta de crédito e financiamento bancário para a aquisição de motocicletas também tem contribuído para a retração na produção. “Acreditamos no modelo Zona Franca, por isso continuamos a investir em tecnologia e no fator humano”, garantiu.
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Imigração janonesa no Amazonas: o novo capital nipônico no Brasil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU