Por: André | 19 Março 2015
Em dois anos de pontificado, Francisco impôs uma liberdade de expressão e uma simplicidade que suscitam um entusiasmo global. Hubert Védrine (foto) também considera o papa como um político.
Fonte: http://bit.ly/1BVP1vf |
Hubert Védrine é um diplomata francês, membro do Partido Socialista, que atuou no governo Mitterand. Foi ministro das Relações Exteriores do governo Jospin.
A reportagem é de Marie-Lucile Kubacki e publicada no sítio da revista francesa La Vie, 04-03-2015. A tradução é de André Langer.
“Eu me interesso por todos os grandes reformadores. Por essa razão, incluo esse papa no meu campo de observação. Eu o considero como um grande político, particularmente na maneira como encara a sua tarefa fundamental, a reforma da cúria. Ele tem uma maneira notável de combinar declarações fortes e inquietantes com uma grande paciência. Ele parece ter um domínio perfeito do tempo, dos anúncios e dos ritmos, uma combinação de provocações calculadas, de sutiliza e de escuta.
Poderíamos deduzir que ele espera que uns e outros se desmascarem para, em seguida, neutralizar seus opositores. Mas eu penso que ele é mais sutil e que, deixando de lado o não-dito e o eufemismo, ele apenas forçou os cardeais e os bispos a saírem da inércia. Nesse sentido, seu discurso à cúria é extraordinário e não penso que tenha visto outro igual.
Com sua acusação, moral, certamente ele assume o risco de provocar uma coalizão contra ele, mas, no fim das contas, ele foi eleito para fazer a reforma da cúria! Isso me lembra o Mikhaïl Gorbachev, que deixa atordoados por sua perestroika os dirigentes que o escolheram. Eu espero que o Francisco dê passos bem calculados, que conheça o seu terreno e que saiba o quão longe “pode ir” para que não provoque uma oposição verdadeiramente hostil.
Certamente, sua cota de popularidade lhe dá uma margem de manobra que o protege do surgimento de uma oposição declarada, no momento oculta, mas isso não será suficiente para superar uma enorme força de inércia...
Por mais que surpreenda, não vejo que seja alguém impulsivo, mas um grande estrategista. Também é interessante notar a escolha do nome Francisco, que encarna uma das mais belas correntes da Igreja. Certamente, isso não diz nada sobre a maneira como ele deve governar, dirigir e reformar, mas o fato de se colocar sob esse patrocínio é uma maneira de mostrar que ele não se liga às correntes da Igreja marcadas pela força, pelo maquiavelismo clássico, pela infalibilidade e pelo poder absoluto. É uma maneira de estar em outro lugar, de manifestar uma forma de simplicidade, de frugalidade, uma fraternidade que as pessoas no mundo e, em primeiro lugar, na Igreja, esperam hoje de seus dirigentes”.
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“O Papa Francisco me lembra o Gorbatchev”, diz Hubert Védrine - Instituto Humanitas Unisinos - IHU