17 Março 2015
Luiz Eduardo Soares
Compartilho agora a versão completa de minhas reflexões:
Milhares de pessoas nas ruas. Vozes em protestos se misturam a brados nas redes, sussurros em gabinetes, bate-bocas em reuniões apressadas e nervosas. Zoeira babélica frita mentes zen. Momento extraordinariamente rico para o país e para a reflexão. Tudo o que é rico é arriscado: o futuro se liberta da previsibilidade que domestica a liberdade da ação humana. Incerteza é o outro lado da criatividade, da potência coletiva. Bem-vindo o risco, bem-vinda a indeterminação, bem-vinda a política.
Momento precioso para quem ainda dispõe de alguma reserva de serenidade e respeito pelo Outro: plural, diverso, contraditório, polifônico. Interpretações dissonantes buscam eixo imantado que atraia os pedaços de significação e formate núcleos discursivos inteligíveis, consistentes e persuasivos.
A única certeza que tenho: qualquer definição unilateral, unidimensional do que está acontecendo será reducionista.
Portanto, tanto a exaltação, quanto a condenação se equivocariam, uma vez que só se sustentariam se imputassem aos fenômenos em curso um sentido único. Isso também implica o reconhecimento de que parte das críticas estará correta, dado o ambiente heterogêneo. Haverá cartazes evocando palavras de ordem de ultra-direita, defendendo, por exemplo, golpe militar.
Mas seria um erro deduzir que as manifestações a isso se resumem. Haverá cenas de preconceito de classe, gestos elitistas, rompantes ressentidos, reações grosseiras a conquistas sociais. Mas seria equivocado reduzir a esses espasmos reacionários a energia multitudinária. Afinal, também estão nas ruas bandeiras universalistas democráticas, a começar pelo repúdio à corrupção, que já foi foco de manifestações lideradas pelo próprio PT no passado.
Negar a infiltração epidêmica da corrupção no aparelho de Estado, ironizá-la como se fora merapreocupação pequeno-burguesa, dividir responsabilidades com o conjunto do universo político –afinal, “todos são iguais”, o que esperar do “cretinismo parlamentar”?--, atribuí-la ao sistema econômico –“o capitalismo é intrinsecamente corrupto”--, nenhum desses tratamentos seria aceitável para o PT da origem, nenhuma dessas formas de subestimação é compatível com qualquer definição elementar de República.
Por outro lado, também seria ingênuo subestimar os acenos regressivos e obscurantistas, presentes nas cenas do dia 15 de março. O sopão babélico das ruas exala perfume democrático e o azedume venenoso das mais sombrias e perversas fantasias. Por isso, a disputa desloca-se das ruas para as salas de edição da grande mídia, para as oficinas dos experts e para os gabinetes políticos. Tudo isso será o que se disser que foi. Os efeitos não dependerão do fenômeno, mas de suas leituras. E o jogo aí será pesado. Entretanto, restará a quem ainda ousa pensar o espaço para a reflexão.
Minha modesta contribuição não servirá à guerra de interpretações. Espero que sirva ao diálogo paciente e aberto entre os que procuram compreender. Até para que, baixada a poeira, liquefeitos os fogos de artifício partidários, silenciados os dós de peito retóricos, o ativismo cidadão comece a construir caminhos que conduzam a mais democracia, mais participação, mais respeito à diversidade, menos desigualdades, menos violência, menos racismo, misoginia e homofobia, menos corrupção, menos desmoralização da coisa pública e da política. E à afirmação inadiável de compromissos com a sustentabilidade.
Tendo dito isso, eis a conclusão de minha leitura do que está acontecendo: Em 2014, o PT transformou uma eleição triangular em confronto bipolar. Para fazê-lo, teve de recorrer a elevada dose de violência simbólica para espremer a candidatura de Marina. A terceira via --como ideia, valor, simbologia, experiência e emoção-- virou suco. Este reducionismo cumpriu-se ao preço de converter a divergência em traição e a crítica em condenação. A mutilação eleitoral correspondeu, e nisso consistia o essencial de sua operação, à hipertrofia do caráter agonístico da disputa política. A existência de segundo turno, naquele ambiente, congelou o dualismo e lhe infundiu emoções e símbolos bélicos.
Como a rua ingressou no repertório da democracia brasileira, desde 2013 –a memória mais relevante e ativa não é 1964, é 2013--, ante as sucessivas demonstrações de vulnerabilidade do governo Dilma (cuja política econômica segue o figurino repelido na campanha e cuja postura, ante a crise, inclusive o petrolão, permanece olímpica), a intensidade massiva, a energia agonística precipitada no torniquete simbólico-eleitoral (três viram dois, a golpes de cinzel), emerge, faz-se fenômeno, fenômeno de massa. Os significados são múltiplos, como sempre. A heterogeneidade é imensa. Mas a pregnância nas retinas do país é feroz. O que está em jogo é a emergência de novas narrativas, plurais, nas quais o eixo gravitacional desloca-se, historicamente, de 1964 para 2013.
As ruas, hoje, nada têm a ver com as jornadas de junho. Porém, o rio que flui é um só. Falo da energia, da intensidade, da experiência de estar na rua ao lado de outros. Falo da alegria rediviva de escrever em conjunto outra história. Falo da redescoberta da participação. Falo da falência, mais uma vez, da representação tradicional, desacreditada, corrompida. Falo de uma nova fome de legitimidade republicana. Não se trata de moralismo, mas de moralidade, respeito à coisa pública, respeito à sociedade, à Constituição. Quem disser que moralidade é coisa da direita, não entendeu nada. Ou melhor, ajudou a jogar no chão a bela história do partido dos trabalhadores.
Orango Quango
A pergunta que interessa é: entre os que foram às ruas e/ou apoiaram ativa ou passivamente as manifestações de ontem, havia gente que esteve nas ruas ou apoiou as manifestações de junho de 2013?
Se tomamos como base a segunda fase de junho (o momento de massificação dos protestos e diluição das pautas), parece claro que sim. A franja lunática de extrema-direita, que pede intervenção militar ou divina, estava presente, ainda que talvez menos desinibida. Também estavam a direita mais “moderna” e menos caricata, ideologicamente neoliberal e/ou historicamente identificada com os governos do PSDB.* Ou seja, o pessoal que desde o início entendia que as pautas que haviam desencadeado os protestos não eram as deles, mas viram ali a possibilidade de, aproveitando o embalo, dar um susto no governo e, com ajuda da mídia, encaixar as suas pautas.
Na minha pequena amostragem, a Avenida Atlântica no Rio, a composição era essencialmente essa. Era um protesto de classe média-média, com alguma classe média alta e alguma pouca classe média baixa. Não sei se havia ali alguém que algum dia esteve “em disputa”.
Mas não só não penso que dê para generalizar o que vi para um caso como São Paulo, a pergunta não é apenas sobre quem estava nas ruas ontem, mas sobre todos que temos ouvido falar nas ruas, nos bares, nos ônibus nessas últimas semanas. Há muita gente que não está mobilizada (ainda), mas está participando desta onda anti-governo. Entre estes, muitos que, mesmo que não tenham saído às ruas, também participaram da onda de junho de 2013. Comparado aos dois primeiros grupos, este – mais de classe média baixa e baixa – participou do contágio afetivo de junho, mas com uma ideia bem menos clara de quem era quem e o que estava passando. Mas um contágio afetivo é exatamente isso: uma participação que necessariamente precede uma adesão refletida e deliberada.
Isso nos obriga, por um lado, a reconhecer algumas coisas sobre junho. Por exemplo: aquele famoso episódio do programa de TV em que os telespectadores se manifestaram a favor de protestos com vandalismo não era o sinal de uma súbita e definitiva mudança de mentalidade, o momento em que a população brasileira descobriu que é justo se revoltar contra os reacionários. O que as pessoas estavam dizendo ali era outra coisa: estamos adorando essa interrupção da realidade ordinária, que cena linda é a autoridade confusa e com medo, vamos rir da sua cara também, Datena etc. Não era “todas as armas são legítimas até a vitória final”, mas “neste exato momento, dane-se a autoridade, estamos nos divertindo”. Um erro grave de avaliação que alguns fizeram ali foi confundir uma coisa com a outra – passar de “as pessoas estão nos apoiando” a “as pessoas abraçam incondicionalmente a nossa causa”. Nada impedia que a passagem fosse feita, claro, e em muitos casos foi; o erro está em achar que não há passagem, e uma coisa é automaticamente a outra.
O que está acontecendo agora funciona da mesma forma. Não é que essas pessoas tenham subitamente se descoberto a favor do estado mínimo e das privatizações. (Com a pauta socialmente conservadora, de maioridade penal à homofobia, é mais complicado; esta é alimentada diariamente por programas de rádio e TV, igrejas, e tem uma insistência gigantesca na cabeça das pessoas.) Mas elas estão sentindo uma série de coisas, que vão da deterioração do quadro econômico à frustração cotidiana com os serviços públicos e com a insularidade do sistema político, e há uma narrativa vaga que diz para eles: “o nome disso que vocês estão sentindo é corrupção, é PT etc.”. Essa narrativa simplista oferece não só a perspectiva de uma gratificação imediata – o que é resolver crises sistêmicas derrubando o governo de plantão, senão preferir a gratificação imediata a uma solução verdadeira? – como a possibilidade de uma vez mais estar participando de algo coletivo, de sentir novamente aquela sensação de pertencer a uma força maior, capaz de meter medo nas autoridades.
Porque, sejamos claros, o nome de uma das coisas de que estas pessoas estão padecendo é “junho”: se junho já era a expressão de várias coisas que estavam sendo sentidas e não ditas, agora as pessoas ainda têm a memória daquela alegria coletiva, daquela sensação de aumento da capacidade de agir, e o sentimento de promessas não cumpridas, de falta de diálogo, de que nada mudou.
E aí encontramos uma vez mais o velho adágio segundo o qual em política não existe vácuo. Se nós, imprensados pela absoluta incapacidade de escuta demonstrada por sistema político e governo, o bombardeio midiático, a inexperiência e nossas próprias paixões tristes, não soubemos continuar dando forma e direção àqueles afetos – alguém ia aparecer para fazer isso. É óbvio que o que houve ontem não é a continuidade de junho de 2013. Mas isso é óbvio *para nós*. Podemos ter certeza que é óbvio assim para várias pessoas que também fizeram parte de junho? E não devemos suspeitar que uma das forças (e ameaças) disso que está passando é exatamente que possa se apresentar para elas como tal?
Se isto é assim, a resposta à pergunta sobre como reagir a esse quadro já está dada: voltar para disputar o espaço que havia ficado vazio. E, dentro do quadro político atual, apenas os protagonistas de junho de 2013 terão a legitimidade para fazê-lo, porque são os únicos capazes de se posicionar fora da bipolarização forçada que trabalhou para tornar aquilo que se expressou em junho em uma questão de petismo versus anti-petismo (e, com isso, jogou desejos legítimos de mudança no colo da direita).** “Legitimidade” aqui quer dizer estar nas melhores condições de ocupar este espaço; não significa poder dar por ganho um apoio e uma legitimidade de fato que precisam ser construídos pacientemente, com capacidade de diálogo e muita disposição para aprender com os erros já feitos e por fazer. A nova geração lançada à ribalta por junho de 2013 terá de amadurecer rápido.
Não será fácil, por pelo menos quatro motivos evidentes. Primeiro, que a esquerda sempre levará aquela desvantagem de que fala Deleuze quando diz que à esquerda interessa que as pessoas pensem, ao passo que à direita, não.*** Nem temos condições, nem podemos nos dar o luxo de oferecer facilidades e gratificação imediata às pessoas, sejam elas “impeachment” ou “insurreição”. É dura a vida de quem tem ao mesmo tempo que comunicar esperança e entusiasmo e ser realista quanto à complexidade do mundo. Segundo, jogando contra há uma mídia permanentemente disposta a confundir e escamotear mensagens que não interessam e amplificar as que interessam. (Nunca na história desse universo se viu um movimento ter message management feito ao vivo pela imprensa como ontem, quando jornalistas ficavam dizendo “esta é uma pauta do movimento”, “esta não é”.) Terceiro, tanto esta mídia quanto o governo, cujo discurso obviamente tem um alcance bem maior, tem interesse em alimentar a ideia de bipolarização.
Quarto e último, precisamos criar discursos e visões capazes de mobilizar afetos e desejos solidários, não individualizantes. Não que não seja legítimo as pessoas se preocuparem com a inflação, com a diminuição do poder de compra etc. Mas jogar apenas neste terreno é jogar apenas no terreno do inimigo. Muita gente avisou que a ênfase excessiva no consumo como fator de inclusão social era um ovo de serpente, porque reforça a lógica atomizadora que reduz as pessoas a unidades de maximização de utilidades e transforma tudo em consumo, inclusive a política. Uma das forças da pauta do transporte estava no fato de ela tratar de um serviço coletivo, um bem a ser compartilhado com outros. Em menor grau (porque mais localizadas), lutas por bens comuns, como o Parque Augusta, tem a mesma potência. Ou seja, precisamos operar a partir de uma lógica que é distinta de quase tudo que se diz no debate público -- e ainda assim dizer e propor coisas que façam sentido, que sejam plausíveis e que inspirem uma grande massa de pessoas que não necessariamente concorda conosco, mas pode estar aberta a nos ouvir e ver que, nessas ideias diferentes, pode haver alguma coisa de profundamente razoável.
Notas
* Digo “e/ou” porque acho que até hoje não se deu valor ao significado não-racional da era FHC para a elite brasileira. Os tucanos de então eram um modelo aspiracional fortíssimo: gente bem-nascida, de ternos bem cortados, que falava várias línguas, com diplomas no exterior... Tenho sempre a impressão de que a identificação passa por aí tanto quanto propriamente pelas políticas.
** Uma coisa que esta semana deixou claro é que a tática que o PT vem usando desde junho – de chamar sua base histórica para a rua na base da chantagem de um risco iminente – é altamente contraproducente. Ela dialoga com a militância e não com a sociedade; insiste numa retórica de luta de classes que poderia ser validada por nova rodada de medidas populares, mas, na falta dessas, alimenta o discurso de “divisão” e “Venezualização”; insiste num branding que reforça o sentimento de que PT e movimentos sociais são corpos estranhos à sociedade. (Por contraste, a direita polariza, mas sempre fazendo o discurso de "cidadãos brasileiros, gente como você, que só quer um país melhor": às camisetas vermelhas, responde com camisetas da seleção.) Acima de tudo, repete o erro do pós-junho de 2013: jogando qualquer insatisfação com o estado de coisas na vala comum de “elite branca golpista”, manda a mensagem de que desejos de mudança – muitos dos quais são perfeitamente legítimos – só podem encontrar guarida em outro lado. Por último, apostou em medir forças diretamente, e demonstrou aquilo que já se sabia há um tempo: a capacidade de mobilização das grandes organizações de massa diminui. (Se Sun Tzu fosse Dante, haveria um círculo do inferno só para generais que mostram seu exército inteiro ao inimigo e provam que estão enfraquecidos.) A longo prazo, é um truque que só faz reforçar o anti-petismo --e, por tabela, a direita -- e enfraquecer o petismo. Nada disso é de estranhar: politicamente, o PT entrou em piloto automático há alguns anos e nunca mais saiu.
*** "Esquerda", aqui, pode incluir gente do PT, mas por óbvio não quer dizer "governismo". Aliás, a célebre frase de Deleuze, segundo a qual não existiria governo de esquerda, fica muito mais clara se a lemos como "não existe *governismo* de esquerda".
Marcelo Castañeda
Humildade e respeito com a direita que se manifesta; repressão e prisão para manifestantes à esquerda, como no Rio de Janeiro. Eis um dos motivos pelos quais não apoio Dilma.
Pedro Sobrino Laureano
O um se divide em dois. De 2013 a 2015.
Marx dizia que os grandes acontecimentos históricos aconteciam duas vezes, primeiro como tragédia, depois como farsa. Seria muito simplista caracterizar 2015 como a farsa da “tragédia” de 2013.
À esquerda, tende-se a ler as manifestações deste domingo como uma sendo apenas o aglomerado de alguns setores da classe média e da alta burguesia, apadrinhados por “artistas”, apresentadores, jogadores de futebol e todo um cortejo realmente sinistro de “formadores de opinião”. Nada contra, é claro, artistas, apresentadores e jogadores de futebol; muitos deles são figuras emblemáticas do país. Mas talvez o que estejamos assistindo é a uma nova elite cultural, em que são as celebridades, os ex-jogadores e muitos “artistas” que, invertendo a fórmula do Mcdonalds, “odeiam muito tudo isso” e se capacitam a interpretar o rumo dos acontecimentos.
Neste sentido, não basta lamentar a ascensão desta nova “elite cultura” ou, ainda, simplesmente nos refugiarmos na ideia de que o “tempo dos intelectuais”, ou daqueles que podem interpretar a “voz anônima do povo” simplesmente acabou. É preciso disputar o espaço que Luciano Huck, Wanessa Camargo, Ronaldo Fenômeno e Lobão têm ocupado cada vez mais.
Recusar qualquer legitimidade as manifestações de hoje é um erro. O terreno, é claro, foi preparado, aberto, pelo próprio PT, e dizer que aqueles que criticam o PT são, necessariamente, “coxinhas”, é fazer o jogo fácil da oposição. Por outro lado, a direita também se fecha em palavras de ordens absolutamente supérfluas, como “Fora Dilma”, “Impeachment já”, chegando até, em setores (ainda) claramente minoritários, à defesa da ditatura militar.
Mas o que defendem Dilma e os que a criticam falham em enxergar que o esgotamento é geral. A polarização PT x PSDB, com o PMDB fazendo às vezes de partido fisiológico, do coringa que serve para quebrar a banca, estrangula a política brasileira. Não se trata de dizer, apenas, que devemos recorrer a novos atores políticos, como o PSB e o PSOL, mas sim que um novo ator político, aquele que esteve ausente durante tanto tempo, pode reentrar em cena: “as ruas”. E “as ruas”, naquilo que tem de subversivo, não se reduzem à polarização anti/pró PT.
Neste sentido, se 2015 é a repetição de 2013, devemos observar algumas mudanças.
As manifestações pró-Dilma promovidas pela CUT, pelo MST e por setores da sociedade civil estão claramente separadas das manifestações anti-Dilma, pró-impeachment. Isto é, aquilo que em 2013 era unido encontra-se, hoje, separado. Aquilo que em 2013 era uma “geleia gera”, um caldo absolutamente heterogêneo e “pós-moderno” de reinvindicações, hoje, tende a se polarizar. Todos esperavam que 2013 fosse em algum momento se repetir. O mais assustador seria que absoluta incapacidade do setor político em responder às mínimas demandas colocadas pelas ruas (o preço da tarifa de transporte público aumentou na maioria dos estados, e qualquer ideia de reforma política parece mais distante a cada dia) pudesse resultar em nada.
Neste sentido, aquilo que Marx descreveu para história parece não obedecer mais ao esquema tragédia e retorno através da farsa. Na atual conjuntura, farsa e tragédia coincidem. E a dupla cegueira que acomete as reivindicações tanto à esquerda como à direita são estruturadas em torno do mesmo ponto cego: a necessidade de uma reinvenção democrática.
Não se trata apenas de ser anti ou pró- Dilma/PT, mas de atestar a crise generalizada de nosso sistema político. Não basta se queixar do Estado, já que nossos atores políticos, hoje, são a encarnação da impotência. Neste sentido, um verdadeiro movimento que se concentrasse em ideias, e não em figuras, teria como suas bandeiras a vontade de uma renovação democrática no país, da reforma política à democracia participativa, da multiplicação dos mecanismos de participação ao reconhecimento dos aspectos constituintes dos movimentos de rua. Aspectos que, muitas vezes, estes próprios movimentos são incapazes de enxergar.
Bernardo Pilotto
Moro no centro, próximo da praça Rui Barbosa. Não tivemos panelaço no pronunciamento do 08 de março nem durante a coletiva dos ministros ontem a noite.
Mas hoje, após a passeata de ontem e da demonstração de força dos manifestantes, o panelaço e a gritaria foi forte. Bem forte. E isso que não havia pronunciamento. Era apenas uma reportagem do JN sobre a coletiva de hoje a tarde.
Tô, desde ontem, tentando compreender ao máximo o que é esse movimento. Conversando com quem foi, com quem não foi. Uma coisa me parece certa: o "Fora Dilma" se fortaleceu e não foi só um evento episódico!
Cesar Benjamin
Eu não gosto dessa insistência da presidente Dilma em se apresentar como "torturada". Tortura não é habeas corpus para nada. Falando em tese, e sem fazer nenhuma referência indireta à presidente, uma pessoa pode ter sido torturada há quarenta anos e não valer grande coisa, hoje.
Além disso, minha experiência me diz claramente que as pessoas que foram torturadas não banalizam essa experiência, que é muito dolorosa, no corpo e na alma. O mesmo vale para a pobreza. Eu estava nos Estados Unidos quando Barack Obama se candidatou pela primeira vez. Fiquei positivamente impressionado com o fato de ele não se referir nenhuma vez, durante a campanha, ao fato de ter sido pobre na infância, filho de mãe sozinha que vivia com a "bolsa família" de lá. Fez uma campanha de homem adulto. Ganhou pontos comigo.
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