10 Março 2015
A estrutura dos Lineamenta para o Sínodo de 2015 parece ser inovador: não há só uma pergunta "prévia" que abre uma discussão geral sobre a coerência entre os resultados do Sínodo extraordinário e realidade familiar, mas a estrutura dos próprios Lineamenta se move nessa direção, oferecendo também uma "hermenêutica" determinada e apaixonada do relatório final do Sínodo passado.
A análise é do teólogo italiano Andrea Grillo, professor do Pontifício Ateneu S. Anselmo, em Roma, do Instituto Teológico Marchigiano, em Ancona, e do Instituto de Liturgia Pastoral da Abadia de Santa Giustina, em Pádua.
O artigo foi publicado na revista Settimana, n. 10, 08-03-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
O tempo "intermediário" é incerto. O progresso pode ser substituído pelo desinteresse, pela resignação, pela demissão e pela regressão. A melhor maneira de não "voltar atrás" foi o de abrir os Lineamenta rumo ao Sínodo de 2015 à integração mais radical. A não autossuficiência da Igreja institucional em relação à Igreja viva e à sociedade aberta não podia ser mais bem dita do que com essa pergunta das perguntas. Uma "metapergunta" abre o trabalho intersinodal a uma interrogação mais radical e mais pudica. Ei-la: "A descrição da realidade da família, presente na Relatio Synodi, corresponde àquilo que se destaca na Igreja e na sociedade de hoje? Quais são os aspetos que faltam e que podem ser integrados?".
A pergunta prévia assim formulada não fecha, mas abre. É quase a carteira de identidade de uma "Igreja em saída", também na sua expressão mais alta. Assim, a Igreja não renuncia a sair, mesmo quando está na privacidade da sua casa. Para evitar voltar atrás, ela deve deixar a porta aberta, deve formular a pergunta das perguntas. E uma resposta a essa pergunta prévia é muito importante, eu diria decisiva.
O Sínodo e o "critério pastoral"
Mas não é suficiente. A estrutura desses Lineamenta parece ser inovador também por outro dado: não há só uma pergunta "prévia" que abre uma discussão geral sobre a coerência entre os resultados do Sínodo extraordinário e realidade familiar, mas a estrutura dos próprios Lineamenta se move nessa direção.
De fato, depois de terem reproposto o texto integral que encerrava o Sínodo de 2014, eles propõem não só uma série de questões que dizem respeito às três partes do documento final do primeiro Sínodo, mas também uma "hermenêutica" determinada e apaixonada desse documento.
As perguntas, em outras palavras, são encaixadas em uma estrutura de afirmações vinculantes, que visam a orientar a leitura das perguntas e a formulação das próprias respostas. Deve-se notar, em primeiro lugar, a longa introdução que abre as perguntas sobre a primeira parte da Relatio e que, depois de recordar fortemente a inserção do Sínodo na lógica proposta pelo texto da Evangelii gaudium e das suas características de primado das "periferias existenciais" e da "Igreja em saída", indica-se, com muita força, a perspectiva de uma pastoral "não meramente aplicativa da doutrina".
Eis o texto: "As perguntas que se propõem em seguida, com referência expressa aos aspetos da primeira parte da Relatio Synodi, tencionam facilitar o devido realismo na reflexão de cada um dos episcopados, evitando que as suas respostas possam ser oferecidas em conformidade com esquemas e perspetivas próprias de uma pastoral meramente aplicativa da doutrina, que não respeitaria as conclusões da Assembleia sinodal extraordinária e afastaria a sua reflexão do caminho já traçado".
Parece-me que aí se pode ler a fidelidade ao projeto de continuidade com o Vaticano II e com a sua abordagem pastoral "alta" e "corajosa". Poderíamos chamar esse primeiro critério de pastoral: ele orienta o sentido de todo esse perguntar e responder.
Cristologia, contexto e possibilidades impensadas
De igual intensidade parece ser a introdução à segunda parte das questões, que dizem respeito ao "evangelho da família" e que giram em torno do olhar voltado a Cristo, que torna a Igreja capaz de grandes novidades e de coisas antes impensáveis, justamente por causa da inexauribilidade do mistério que contempla. Precisamente a orientação para Cristo abre a Igreja a possibilidades impensadas.
Poderíamos chamar esse segundo princípio de releitura da tradição bíblica e dogmática de critério cristológico. Ela informa por si todas as perguntas formuladas em torno da segunda parte. Faz parte dele a escolha de uma "arte do acompanhamento" como cumprimento do cuidado pastoral: "Os Padres assumiram positivamente a perspetiva indicada pelo Papa Francisco, em conformidade com a qual, 'sem diminuir o valor do ideal evangélico, é preciso acompanhar, com misericórdia e paciência, as possíveis etapas de crescimento das pessoas, que se vão construindo dia após dia' (Evangelii gaudium, 44)".
Por fim, um terceiro critério guia a leitura das perguntas sobre a terceira parte. Inserido na "virada pastoral" já delineada nas duas primeiras partes, o terceiro critério – que poderíamos chamar de critério contextual – chama cada Conferência Episcopal a elaborar estratégias de acompanhamento e de discernimento adequadas, em relação aos temas fundamentais da pastoral familiar.
Cada ponto individual de tal pastoral é relido à luz dessas aquisições de fundo, que não podem ser desmentidas: "É necessário fazer de tudo para que não se recomece do zero, mas se assuma o caminho já percorrido no Sínodo extraordinário como ponto de partida".
A qualidade das perguntas e os tempos das respostas
É preciso salientar, por último, um duplo aspecto positivo desses Lineamenta. Por um lado, a formulação das perguntas parece muito mais convincente, pertinente e coerente em relação ao questionário anterior, embora importante. Esse já é o fruto do trabalho sinodal, do preparo do terreno e da semeadura que já ocorreu no primeiro ano de trabalho.
Mas também há outro aspecto qualificante: os tempos para a resposta. Se as respostas deverão ser recebidas até o dia 15 de abril, isso significa que a longa parábola de cinco meses – desde o tempo do Advento ao tempo pascal – pôde e ainda poderá hospedar um rico debate eclesial, em nível local e universal. Esse tempo estendido e hospitaleiro também poderá favorecer respostas ponderadas, análises profundas e contribuições de qualidade.
Os Lineamenta estão cheios de pontos de interrogação. Era inevitável. Neste ano de caminho, a Igreja formulará uma série de respostas articuladas, fiéis e corajosas. Nessa esperança, está traçado o caminho a ser feito juntos, sem temor das diversidades.
Com base nessas novas evidências, pede-se que todos "respondam". Talvez não a todas as perguntas, talvez nem a maioria. Mas, onde o povo de Deus elaborou uma própria "experiência de família" (feliz ou infeliz), o ministério dos bispos precisa pôr-se à escuta.
Isso não deve ser esquecido: ao responder ao questionário, cada cristão exerce um magistério precioso, do qual a tradição do Evangelho precisa. Acima de tudo, sobre o tema da família.
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Lineamenta: critérios para responder às perguntas. Artigo de Andrea Grillo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU