Por: André | 09 Março 2015
Os estatutos do novo dicastério econômico assinalam ao cardeal Pell o controle sobre os patrimônios de todas as oficinas vaticanas. Mas as propriedades e a gestão permanecem separadas. Na sequência, a história de uma batalha que ainda não terminou.
Fonte: http://bit.ly/1BhzZhX |
A reportagem é de Sandro Magister e publicada no sítio italiano Chiesa, 06-03-2015. A tradução é de André Langer.
As duas nomeações mais brilhantes feitas até agora na cúria pelo Papa Francisco são as dos cardeais Pietro Parolin e George Pell.
O primeiro, diplomata de alto nível, para a secretaria de Estado, e o segundo, determinado diretor anglo-saxão, para a nova secretaria para a Economia. Ambos fazem parte do C9, o conselho de cardeais que o Papa criou para estar próximo dele na reforma da cúria.
E, no entanto, entre eles não há entendimento.
É inclusive pior do que isso. Às suas costas, e em detrimento de ambos, reapareceu o turbilhão de documentos destruidores, de acusações venenosas, de egoísmos corporativos que atormentaram o pontificado precedente. Um péssimo viático para a tão anunciada reforma da cúria romana.
A nomeação de Pell, há um ano, foi precedida por um bombardeio de consultas com o objetivo de reorganizar a estrutura econômico-financeira vaticana. Essas consultas foram feitas a sociedades como McKinsey, Promontory, Ernst & Young, KPMG, que são algumas das mais prestigiosas no mundo, mas, certamente, não têm expertise quanto ao perfil exclusivo que caracteriza a Santa Sé.
Também não inspirava muita confiança a comissão vaticana ‘ad hoc’, devido aos mais que motivados protestos que chegaram ao Papa contra os seus dois mais à vista, o Pe. Lucio Angel Vallejo Balda, da Opus Dei, e a especialista em comunicação Francesca Immacolata Chaouqui.
É que é certo é que depois de tantos fogos de artifício, o Papa Francisco chamou Pell para que viesse da Austrália e o colocou à frente da nova secretaria para a Economia sem que ainda existisse um escritório, uma equipe e nem sequer um estatuto que indicasse de maneira clara os seus poderes e as suas competências.
O que se entende imediatamente é que a nova secretaria para a Economia absorverá totalmente, ou em parte, dois organismos preexistentes: a Prefeitura para os Assuntos Econômicos da Santa Sé e a Administração do Patrimônio da Sé Apostólica, ASPA.
No entanto, ambos os organismos continuam existindo e têm como chefes dois pupilos do tristemente famoso Tarcisio Bertone, os cardeais Giuseppe Versaldi e Domenico Calcagno, os quais não mostram nenhuma intenção de querer retirar-se elegantemente, apesar da manifesta ineficiência da Prefeitura e dos recentes problemas judiciais da APSA na pessoa de seu contador, mons. Nunzio Scarano, que se encontra em prisão domiciliar.
No dia 08 de julho, finalmente, um motu proprio coloca branco no preto que a gestão do patrimônio da APSA passará para a secretaria para a Economia.
Mas o cardeal Calcagno não se dá por vencido. No dia 08 de setembro, encontra-se com o Papa e arranca dele um “Rescriptum ex audientia”, com comentários autógrafos de Francisco, que parecem voltar a deixar as coisas no ar.
Todos os membros da APSA rebelam-se contra Pell; especialmente aguerridos são os cardeais Attilio Nicora e Giovanni Battista Re.
Mas ele segue em frente seguro de si mesmo, fortalecido pelo fato de que não está subordinado a ninguém com exceção do Papa, o qual, no entanto, parece dizer sim a todos, com uma visível ponta de cansaço pelo marasmo de uma cúria da qual nunca gostou e da qual prescinde sistematicamente, decidindo pessoalmente as coisas que realmente lhe importam.
E quando Pell toma como alvo a secretaria de Estado, revelando que encontrou nela um tesouro de centenas de milhões de euros administrados com o máximo segredo e quer trazer à luz também isso, ou seja, sob o próprio controle. A batalha se generaliza e contra o cardeal australiano manifesta-se também o cardeal Parolin.
De fato, a secretaria de Estado teme que a perda de controle sobre os próprios fundos e sobre as estruturas administrativas e financeiras vaticanas, em favor da nova secretaria de Economia, seja apenas o primeiro passo para uma ulterior diminuição de seus poderes e, por conseguinte, da capacidade de representar totalmente a Santa Sé nas relações internacionais.
Todos estes conflitos explodiram no consistório fechado à imprensa de fevereiro passado. Pell é apoiado pelos cardeais norte-americanos e alemães, mas na cúria não há ninguém que o apóie.
O ponto fraco de Pell é que ainda falta o estatuto que define os seus poderes. O rascunho que ele apresentou foi destroçado pelo Pontifício Conselho para os Textos Legislativos, presidido pelo cardeal Francesco Coccopalmerio.
O Papa vê, ouve, mas ninguém sabe onde ele pretende chegar.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Quem leva as contas da bolsa de Pedro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU