Por: Jonas | 05 Março 2015
Marco Enríquez-Ominami (foto), 41 anos, é atualmente o político chileno com a melhor avaliação, segundo o ranking elaborado pelo influente Centro de Estudos Públicos. Ex-deputado rebelde da Concertación e duas vezes candidato presidencial independente, Enríquez-Ominami se projeta para 2017 imaginando uma eventual aproximação com a coalizão Nova Maioria, que é liderada por Michelle Bachelet. “Estamos preparados para irmos sozinhos, mas juntos somos mais fortes”, afirma ao jornal Página/12, em sua passagem por Buenos Aires, onde se reuniria com Daniel Scioli e Sergio Massa.
Fonte: http://goo.gl/FCNdi1 |
M.E.-O., como é conhecido no Chile, valoriza as quatro reformas aprovadas em um ano de governo da líder socialista: a educacional, a tributária, a eleitoral e o voto no exterior. Ao mesmo tempo, acredita que a classe política deve discutir o tema da ética, a raiz do “Nueragate”, um caso de tráfico de influências que envolve o filho da mandatária.
Entre conferências acadêmicas e o trabalho em sua ONG, Fundação Progresa, o cineasta de profissão dirige um documentário sobre os rapanui ou povos originários da Ilha de Pascua. “Sou a favor da autonomia dos povos originários. A ilha está a 5.000 quilômetros da costa do Chile, na Polinésia Francesa, possui identidade e política próprias. É governada por um conselho de anciãos”. Além disso, planeja fazer um longa-metragem com a história de seu pai biológico, o mítico guerrilheiro Miguel Enríquez.
A entrevista é de Mercedes López San Miguel, publicada por Página/12, 04-03-2015. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
Com qual dirigente da região você mais se identifica?
Com Mujica. Para nós seria inviável seguir o caminho de Chávez, Lugo, Kirchner e Correa, que construíram seu projeto político a partir do poder, porque no Chile não há reeleição. O nosso caminho será uma mistura de convicção e política de aliança. Levamos cinco anos de ruptura, competindo em eleições. A pergunta que surge é em que condições e a que custo faremos essa aliança.
Refere-se a uma aliança com a Nova Maioria.
Sim, mas também há um mundo de esquerda que não está na Nova Maioria, os ambientalistas e humanistas; um conjunto de movimentos importantes. Nosso sonho é que tenhamos uma grande prévia de centro-esquerda, como a Frente Ampla no Uruguai. Em 2009, os dirigentes da Concertación se opuseram e todos nós perdemos (ganhou a direita). Estamos preparados para irmos sozinhos, mas juntos somos mais fortes.
Bachelet avançou com a reforma da educação e aprovou a mudança do sistema binominal, duas de suas defesas. Como você avalia isto?
O que está fazendo é muito importante e muito corajoso. Sinto-me parte e inclusive transformador de Bachelet, ainda que não tenha votado nela. Em um ano, foram aprovadas reformas que demoraram 25 anos: a tributária, que na minha avaliação é insuficiente, mas é um passo; a educacional, que é importante no ideológico, já que proíbe a seleção de alunos por parte dos colégios; a mudança do sistema eleitoral binominal, que deixa para trás uma matemática perversa. A partir de agora, o Chile parecerá o Brasil, com um multipartidarismo mais real e com a busca de votos em cada projeto de lei, já que não haverá dois blocos. Será mais difícil governar, mas para as forças progressistas será mais fácil participar das eleições. A quarta reforma é o direito ao voto no exterior. Na Argentina há 420.000 chilenos habilitados para votar – a metade dos chilenos no exterior -. Para mim o que importa são as regras, não o dinheiro: Bachelet mudou as regras de atribuição de recursos, de arrecadação, de seleção de alunos. Falta aprovar 80% da reforma educacional, mas avançou no ideológico. Antes a esquerda dizia que o problema da desigualdade era o orçamento e isso não é certo. Pode-se aumentar o orçamento e manter a desigualdade. A direita nunca esteve de acordo em mudar as regras neoliberais.
Está pendente reformar a Constituição herdade de Pinochet.
Sim, Bachelet deveria ter começado por aí. É uma estratégia diferente, pedagógica, para que os chilenos, a cada dia, valorizem o debate constitucional. Acredito que há condições de sobra com os jovens para instalar uma assembleia constituinte, mas ela não compartilha disto.
Qual a sua opinião sobre a maneira de reagir da mandatária no caso de tráfico de influências em que está envolvido seu filho? Sebastián Dávalos precisou deixar a Direção Sociocultural da presidência e ele e sua esposa, Natalia Compagnon, renunciaram ao Partido Socialista.
Tenho diferenças a respeito da discussão que está ocorrendo no Chile sobre este tema. O legal é assunto da Justiça e minha tarefa é dizer que se investigue e condene, mas a outra discussão é sobre a ética. O grande patrimônio da esquerda é a ética, a reivindicação de não sermos pragmáticos.
A corrupção pode ser de direita como também de esquerda.
No entanto, a forma como se responde não é apenas legal, mas, sim, ética. Acredito que Bachelet é honesta, conheço sua família e tenho a impressão de que é honesta também. Minha avó é íntima de sua mãe, vivem em edifícios vizinhos. Meu avô era militar da força aérea e era amigo de Bachelet pai. O tema de fundo é o que ela opina a respeito desse tipo de negócio. No país mais desigual da região, junto com o México, o caso do filho de Bachelet encarna a desigualdade.
O presidente da Corte Suprema, Sergio Muñoz, propõe um sistema de controle social da classe política, por exemplo, eliminando os privilégios. Está de acordo?
Propus isto quando era deputado, estou de acordo. Recentemente, descobriu-se que a direita havia criado um grupo econômico para se financiar, o caso Penta, isso é um escândalo. De novo, o legal é gravíssimo, mas discutamos a ética, se os políticos venderam a consciência.
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Chile. “Foram aprovadas reformas importantes” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU