03 Março 2015
O texto é de Luiz Alberto Gómez de Souza, sociólogo e diretor do Programa Ciência e Religião da UCAM.
Eis o artigo.
A grande imprensa a princípio ignorou o Manifesto de intelectuais, "O que está em jogo agora”, que circulava agilmente, multiplicando-se pelas redes sociais e pela mídia independente. Mas não se conteve, com a avalanche de apoios, alguns altamente significativos. Na manhã desta terça-feira, dia 3, o número de adesões passava de 7.650 e vai tendendo a aumentar.
Dia 24 de fevereiro de 2015, veio um editorial iracundo de “O Globo”. Ali falava de manobras em curso: “traçar um cenário pré-64, algo delirante, e colocar no centro dele a Petrobras como vítima de entreguistas, interessados em aproveitar o escândalo para surrupiar as reservas de pré-sal do país. A ponta visível dessa operação política é o manifesto de um grupo de intelectuais redigido para denunciar ‘a campanha para esvaziar a Petrobras’ e ‘entregar o pré-sal às empresas estrangeiras, restabelecendo o regime de concessão’”.
O significativo foi que, ao citar dois parágrafos do manifesto, colaborava em deixar às claras as verdadeiras intenções da direita, isto é, mostrar a Petrobras incapaz, devendo entregar a exploração a outros interesses ávidos. Segue o editorial: “Se a Petrobrás, em condições normais já tinha dificuldade para tocar esse plano de pedigree ‘Brasil Grande’(sic), agora é incapaz de mantê-lo. Não tem caixa nem crédito para isso. Não há como sustentar o modelo”. Solução lógica nas entrelinhas: entregar o petróleo brasileiro ao grande capital! E o editorialista não tem nenhum escrúpulo em negar um emergente Brasil Grande, exibindo sem vergonha alguma, o desenho de um país submisso e colonial, sem “pedigree”, isto é, vira lata. Aliás, era isso que o manifesto denunciava e que o editorial do “The Globe”, a contrario senso, deixou evidente.
Um escrevinhador nesse mesmo jornal, dia 26, tentava passar a ideia de um manifesto governamental ou petista. Na verdade (ver a lista abaixo), dos quarenta e oito que assinaram em primeiro lugar, a maioria não tem filiação partidária (só alguns são do PT ou do PSB) e nenhum faz parte do governo. O núcleo menor que produziu o manifesto não tem, não teve e nem terá ligação alguma com o governo, nem tem militância partidária. Aliás, o texto do manifesto é claro ao final: “Conclamamos as forças vivas da Nação a cerrarem fileiras, em uma ampla aliança nacional, acima de interesses partidários ou ideológicos, em torno da democracia e da Petrobras, o nosso principal símbolo de soberania”.
Pensando dar um furo, o colaborador global atribuiu a autoria a Franklin Martins, para caracterizar uma origem vinda de dentro do aparelho do estado, já que este jornalista fez parte de governo anterior. A verdade é que ele foi, dos quarenta e oito iniciais, um dos últimos a assinar, o que não quer dizer que sua presença não deixe de ser significativa e importante, por sua grande e antiga experiência na mídia.
Trata-se de um Manifesto nacionalista, pela Petrobras e pela Democracia, de quem acredita num Brasil que faz parte dos BRICS emergentes e não um país subserviente. A posição independente e crítica do Manifesto está a serviço da construção da Nação, movimento histórico que vem de mais atrás, dos tempos de Vargas e de Juscelino e da grande campanha: “O petróleo é nosso”. Afirma-se na defesa da Petrobras, prova eloquente de uma maioridade tecnológica e produtiva que nos orgulha a nível internacional.
São condenáveis os malfeitos que vem de muitos anos atrás e há que exigir a punição rigorosa dos criminosos que atentam contra nossa notável indústria petroleira e, numa gatunagem da coisa pública, dão armas ao jogo dos piores entreguismos.
Repito: trata-se de uma grande corrente nacional e patriota, contra os que, vergonhosamente, não confiam no Brasil e de tudo se servem para denegri-lo e torná-lo pequeno. Estes últimos têm uma dimensão mesquinha e liliputiana, ligados a inconfessados interesses anti-nacionais. Tudo parece indicar que estão, conscientemente ou não, a serviço de um grande capital especulativo, ávido de pôr a mão nas riquezas do pré-sal e da produção petroleira em geral.
Nada melhor do que publicar o texto do manifesto, curto e direto:
O QUE ESTÁ EM JOGO AGORA
A chamada Operação Lava Jato, a partir da apuração de malfeitos na Petrobras, desencadeou um processo político que coloca em risco conquistas da nossa soberania e a própria democracia.
Com efeito, há uma campanha para esvaziar a Petrobras, a única das grandes empresas de petróleo a ter reservas e produção continuamente aumentadas. Além disso, vem a proposta de entregar o pré-sal às empresas estrangeiras, restabelecendo o regime de concessão, alterado pelo atual regime de partilha, que dá à Petrobras o monopólio do conhecimento, da exploração e produção de petróleo em águas ultraprofundas. Essa situação tem lhe valido a conquista dos principais prêmios em congressos internacionais.
Está à vista de todos a voracidade com que interesses geopolíticos dominantes buscam o controle do petróleo no mundo, inclusive a través de intervenções militares. Entre nós, esses interesses parecem encontrar eco em uma certa mídia a eles subserviente e em parlamentares com eles alinhados. Debilitada a Petrobras, âncora do nosso desenvolvimento científico, tecnológico e industrial, serão dizimadas empresas aqui instaladas, responsáveis por mais de 500.000 empregos qualificados, remetendo-nos uma vez mais a uma condição subalterna e colonial.
Por outro lado, esses mesmos setores estimulam o desgaste do Governo legitimamente eleito, com vista a abreviar o seu mandato. Para tanto, não hesitam em atropelar o Estado de Direito democrático, ao usarem, com estardalhaço, informações parciais e preliminares do Judiciário, da Polícia Federal, do Ministério Público e da própria mídia, na busca de uma comoção nacional que lhes permita alcançar seus objetivos, antinacionais e antidemocráticos.
O Brasil viveu, em 1964, uma experiência da mesma natureza. Custou-nos um longo período de trevas e de arbítrio. Trata-se agora de evitar sua repetição. Conclamamos as forças vivas da Nação a cerrarem fileiras, em uma ampla aliança nacional, acima de interesses partidários ou ideológicos, em torno da democracia e da Petrobras, o nosso principal símbolo de soberania.
20 de fevereiro de 2015.
Alberto Passos Guimarães Filho, Aldo Arantes, Ana Maria Costa, Ana Tereza Pereira, Candido Mendes, Carlos Medeiros, Carlos Moura, Claudius Ceccon, CelsoAmorim, Celso Pinto de Melo, D. Demetrio Valentini, Emir Sader, Ennio Candotti, Fabio Konder Comparato, Franklin Martins, Jether Ramalho, José Noronha, Ivone Gebara, João Pedro Stédile, José Jofilly, José Luiz Fiori, José Paulo Sepúlveda Pertence, Ladislau Dowbor, Leonardo Boff, Ligia Bahia, Lucia Ribeiro,Luiz Alberto Gomez de Souza, Luiz Pinguelli Rosa, Magali do Nascimento Cunha, Marcelo Timotheo da Costa, Marco Antonio Raupp, Maria Clara Bingemer, Maria da Conceição Tavares, Maria Helena Arrochelas, Maria José Sousa dos Santos, Marilena Chauí, Marilene Correa, Otavio Alves Velho, Paulo José, Reinaldo Guimarães, Ricardo Bielschowsky, Roberto Amaral, Samuel Pinheiro Guimarães, Sergio Mascarenhas, Sergio Rezende, Silvio Tendler, Sonia Fleury, Waldir Pires.
Para aumentar ainda mais as adesões, clique aqui.