Quem salva o capitalismo de si mesmo?

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

Por: Jonas | 04 Março 2015

“Acabou-se o período histórico em que o capitalismo ainda podia criar a ilusão – nunca foi outra coisa – de que existia uma esfera da economia e uma esfera da política. Com a ilusão das duas esferas se conseguia separar dominação política e exploração”, escreve Juan Domingo Sánchez, em artigo publicado por Rebelión, 02-03-2015. A tradução é do Cepat.

Eis o artigo.

“Vivi no monstro, e conheço suas entranhas: - e meu estilingue é o de Davi.” (José Martí, Carta a Manuel Mercado, 18 de maio de 1895)

1. O problema é o seguinte: Como atuar dentro do Estado, sob a forma Estado e dentro de seus distintos aparatos, sem se tornar aparato de Estado? Como conservar, para além da indispensável atuação na esfera da representação, um exterior da representação? É inegável a necessidade de atuar dentro do Estado e de atravessá-lo, pois hoje não existe nenhum exterior do Estado e do capital que não estejam dentro deles. Hoje, o trabalho vivo se reproduz sob a relação capital e a própria relação capital é inseparável de suas formas políticas.

2. Acabou-se o período histórico em que o capitalismo ainda podia criar a ilusão – nunca foi outra coisa – de que existia uma esfera da economia e uma esfera da política. Com a ilusão das duas esferas se conseguia separar dominação política e exploração. Como a separação entre as duas esferas era operada mediante o tecido conjuntivo do direito, dominação e exploração ficavam invisíveis mediante dois contratos: o contrato social supostamente fundador do Estado e o contrato trabalhista. Hoje, esta separação se vê fortemente questionada, não pelo fracasso, mas pelo êxito da relação capital. Hoje, a esfera da reprodução da força de trabalho, a da vida, foi invadida pela do trabalho sob a relação capital. Estamos diante do que Marx denominou “subsunção real” do trabalho vivo sob o capital.

3. O capital se fez mundo e inclui em si o que foi seu exterior. A própria possibilidade de uma esfera política diferenciada é cada vez mais absurda, pois as ficções jurídicas do indivíduo livre e igual não se mantêm em um âmbito onde a dominação do capital sobre os produtores se apresenta abertamente como mandato do poder financeiro, exercido diretamente e sancionado pelos aparatos de Estado. Estamos dentro do Capital e somos modificações da substância deste monstro (Marx o viu como um monstro, segundo o modelo do Leviatã de Hobbes e quase como uma perversão da substância de Spinoza).

4. Estamos também dentro do Estado, que hoje não passa de outro nome do próprio monstro. Capital e Leviatã se juntaram e são indistinguíveis. Daí a necessidade de salvaguardar do afundamento o monstro no qual vivemos e do qual somos parte. Giannis Varoufakis, um marxista muito próximo ao verdadeiro pensamento de Marx e que, assim como Marx, foi mal compreendido, expressou-se corretamente: “é preciso salvar o capitalismo de si mesmo”. No entanto, a única força que pode “salvá-lo” é a do trabalho vivo, o exterior-interno do monstro. Salvar o Capital de si mesmo significa tomar o controle político da reprodução do Capital. Significa oferecer os meios, a partir de dentro (não existe um fora), para mudar o DNA do monstro, ao mesmo tempo em que preservamos as condições de reprodução da vida em seu interior e evitamos o afundamento político do regime capitalista, do capitalismo “democrático”, que ainda preserva as formas jurídicas da separação entre dominação e exploração, no fascismo que abole esta distinção.

5. Salvar o capitalismo de si mesmo significa que apenas o comunismo – que hoje já representa um aspecto determinante da cooperação produtiva em uma economia onde o mercado se faz rede – salva o capitalismo. É um bem estranho “salvamento”. Hoje, a “social-democracia” que salva o capital é a que liquida seu próprio mando político e o reorganiza em função da cooperação em rede.