04 Março 2015
Harvard, a universidade americana que é também uma das mais prestigiadas instituições de ensino do mundo, tem mais de 20 mil alunos.
Mas sete deles se tornaram uma pedra no sapato para os administradores.
A reportagem é de Thomas Sparrow, publicada por BBC Brasil, 02-03-2015.
Em novembro do ano passado, eles entraram com uma ação na Justiça com a qual pretendem pressionar a universidade a deixar de investir em empresas de gás e petróleo, sob a alegação de que Harvard estaria contribuindo para mudanças climáticas.
Como muitas outras universidades, Harvard tem o que inglês é conhecido como um endowment, capital formado basicamente por doações de ex-alunos ao longo da história e que é investido em áreas distintas para gerar mais receita.
Persuasão x interferência
Harvard tem um fundo estimado em US$ 36,4 bilhões. Se fosse um país, seria a 90ª economia do mundo.
Para o grupo de estudantes, ao financiar operações de empresas petrolíferas, por exemplo, Harvard está afetando a vida de seus estudantes e de gerações vindouras. E precisa se distanciar dessas indústrias.
São poucos, mas fazem barulho: por meio das redes sociais, convocaram o corpo universitário para eventos de protesto e "desobediência civil", incluindo uma ocupação da reitoria de Harvard.
Mais de 200 professores já se juntaram à causa por meio de uma carta aberta em que cobram da universidade uma "responsabilidade ética".
Harvard, num comunicado enviado à BBC Mundo, afirmou respeitar o ponto de vista dos manifestantes, mas criticou as ocupações como uma "forma altamente perturbadora de promover suas opiniões".
"Essas táticas cruzam a linha entre persuasão e um interferência desrespeitosa e coerciva", dizia o texto.
Harvard
A universidade tem reservas que passam de US$ 36 bilhões, maior do que a economia de muitos países
Para os estudantes e professores, a universidade não seria afetada financeiramente se interrompesse os investimentos nessas companhias.
Eles argumentam que a instituição mandaria uma importante mensagem política e moral graças a seu prestígio internacional.
Desenvestimentos
"Harvard está dando respaldo a um modelo de indústria que está extraindo e queimando combustíveis fósseis em níveis que ameaçam o futuro do planeta e as pessoas que nele vivem", disse à BBC Mundo um dos sete estudantes responsáveis pela ação judicial.
A universidade alega que seus investimentos fazem parte de sua política educacional e não acredita que "deixar a indústria de combustíveis fósseis seja a resposta apropriada".
Refinaria de petróleo
A Universidade de Stanford foi uma instituição que parou de investir na indústria petrolífera
Harvard, porém, reconhece que o aquecimento global é um dos "problemas mais urgentes e sérios do mundo", mas explica que prefere combatê-lo com a investigação científica, a educação e a redução de sua "pegada de carbono".
A recusa de Harvard vai na contramão de uma tendência de desenvestimentos adotadas nos últimos anos por uma série de organizações, incluindo a família Rockfeller, que fez fortuna com o petróleo, e outra prestigiada universidade americana, Stanford, que em 2014 anunciou o fim de investimentos em 100 companhias ligadas à "indústria do carbono".
Entretanto, já houve ocasiões em que Harvard cancelou investimentos. Nos anos 80 e 90, por exemplo, deixou de investir em companhias sul-africanas, por causa do apartheid, e na indústria tabagista.
Já o movimento contra combustíveis fósseis teve início em 2011 em algumas universidades americanas e hoje teria chegado a a mais de 500 instituições em todo o mundo, segundo a campanha US Fossil Free.
E uma pesquisa da Universidade de Oxford afirma que o lobby contra combustíveis fósseis está avançando de maneira mais rápida que campanhas contra o tabaco, as armas de fogo e a pornografia, por exemplo.
A ação contra Harvard está sendo julgada numa corte do estado americano de Massachussetts.
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