Por: André | 02 Março 2015
A pedido do Conselho Família e Sociedade, o jesuíta Christoph Theobald deve escrever uma nota teológica sobre o tema para ser debatido pelos bispos em sua Assembleia Ordinária, no final de março, em vista do segundo Sínodo sobre a Família, em outubro próximo.
Fonte: http://bit.ly/1BnVq2y |
A reportagem é de Claire Lesegretain e publicada no sítio do jornal francês La Croix, 26-02-2015. A tradução é de André Langer.
“Chocado e magoado”, é dessa maneira que o bispo Luc Ravel não hesita em qualificar a sua decepção com a leitura do relatório final do primeiro Sínodo sobre a Família, de outubro de 2014, ao constatar que os celibatários sequer foram mencionados.
Ordinário militar desde 2009, dom Ravel tornou-se conhecido por ter animado muitas peregrinações para celibatários e fundado a associação Notre-Dame de l’Écoute (Nossa Senhora da Escuta), que reúne celibatários para momentos de convivência e espiritualidade. “O celibato é um fato social massivo das nossas sociedades ocidentais e é surpreendente que não se lhe consagre uma única linha num quadro de famílias que se pretende exaustivo”, insiste, ao recordar que esse fenômeno não para de crescer. [1]
As razões para um costumeiro esquecimento
Este esquecimento dos padres sinodais não surpreende as pessoas habituadas a acompanhar celibatários cristãos. “O Sínodo está centrado sobre os divorciados recasados e sobre a contracepção, que levantam questões gritantes para a Igreja, ao passo que esse não é o caso dos celibatários”, estima o Pe. Denis Sonet, que há muito tempo vem organizando sessões para celibatários.
“Nas paróquias, os celibatários são pouco visíveis”, reconhece Capucine Couchet, conselheiro matrimonial do CLER em Paris, que atende mulheres solteiras entre 35-45 anos, “idade em que a pressão social e familiar é mais dolorosa” de ser vivida.
“Elas não se queixam, não reivindicam nada, de modo que os líderes da Igreja não veem onde está o problema”, lamenta Capucine Couchet, reconhecendo a existência de um “círculo vicioso”: “A Igreja não percebe as demandas dos celibatários porque eles mesmos não ousam manifestar seus sofrimentos e expectativas, como se estivessem com vergonha”. O que o faz dizer, com humor: “Na Igreja, os celibatários são verdadeiramente os pais pobres!”
Dom Ravel vai nesse sentido ao considerar que “a questão dos celibatários não deve ser deixada para os psicólogos e sítios de internet” e que é um “dever” da Igreja refletir sobre este estado de vida e proporcionar às pessoas que o vivem “alimento humano e espiritual para sua existência. Assim como uma mãe, a Igreja deve exercer um ministério de consolação para com os celibatários, mostrando-lhes que ela os compreende”, prossegue.
Bispos atentos
Sensibilizado com a questão do celibato não escolhido pelas “duas mulheres celibatárias de (sua) equipe episcopal”, dom Hervé Giraud, bispo de Soissons, lamentou publicamente o esquecimento do Sínodo na Assembleia dos Bispos da França em Lourdes, em novembro passado.
“Devido à insistência na família e na vida consagrada, aqueles e aquelas que não se casam nem entram no sacerdócio ou na vida religiosa se sentem esquecidos, até mesmo desvalorizados, pela instituição eclesial”, resume.
De repente, em dezembro, o Conselho Família e Sociedade, da Conferência dos Bispos da França, solicitou ao jesuíta Christoph Theobald, professor do Centre Sèvres de Paris, uma reflexão sobre a questão pastoral: “Que caminho de vida a Igreja deve propor às pessoas que não são chamadas nem para o casamento nem para a vida consagrada?” Assim como dezenas de outros teólogos que são encarregados de aprofundar muitas questões graves e delicadas (ler mais abaixo: 16 questões teológicas), deve enviar até 1º de março uma nota teológica de “de, no máximo, duas páginas”.
“Os celibatários, sinais da diversidade”
“Tenho a intenção de abordar, em primeiro lugar, a diversidade de situações dos celibatários e suas dificuldades de serem reconhecidos, tanto na sociedade como na Igreja”, enuncia o Pe. Theobald apoiando-se num “Documento Episcopal” [2] publicado em 2010.
O teólogo também quer distinguir “vocação humana” e “vocação batismal” à luz do Concílio Vaticano II que recorda a igualdade fundamental entre os batizados. “Não devemos absolutizar os estados de vida, mas, ao contrário, relativizá-los”, insiste, recordando alguns discursos eclesiais que idealizam o casamento.
O Pe. Theobald quer, enfim, propor pistas para o desenvolvimento do acompanhamento e a formação nas comunidades cristãs a fim de que elas percebam os celibatários como “um sinal do princípio da diversidade, cara a São Paulo”. Proposições que vêm confortar as observações do seu coirmão jesuíta Alain Thomasset, professor de Teologia Moral no Centre Sèvres e presidente da Associação de Teólogos para o Estudo da Moral (Atem). “Há algo a ouvir do sofrimento e da pobreza daqueles e daquelas que têm o desejo de formar uma família, mas que não chegam a concretizar esse desejo, insiste. E também as suas expectativas e esperanças!”
16 questões teológicas
Os bispos franceses também quiseram que os teólogos trabalhassem sobre outras questões, 16 ao todo, em relação ao Sínodo sobre a Família. Eis algumas delas:
“O ensinamento da Igreja sobre a Família e o casamento faz jus à riqueza e à complexidade da Palavra de Deus? A abertura à vida, vocação do amor conjugal, reduz-se à procriação? A missão social da família: uma questão negligenciada? A fé é uma condição para o casamento sacramental?”
As 16 questões foram submetidas pelo Conselho Família e Sociedade, da Conferência dos Bispos da França, a um grande número de moralistas, canonistas e exegetas. Eles – homens ou mulheres, padres, religiosas ou leigos, casados ou celibatários – devem escrever uma nota teológica “de, no máximo, duas páginas” até o dia 1º de março e enviá-la ao Conselho Família e Sociedade. Essas notas (em média duas por questão) serão apresentadas na Assembleia Ordinária de 24 a 27 de março, em Lourdes, para alimentar a reflexão dos bispos, que deverão enviar sua síntese para Roma até o dia 15 de abril.
Notas:
[1] Na França, estima-se que entre 4 e 6 milhões de pessoas, sobre um total de 12 milhões de celibatários (no sentido oficial do termo: “Uma pessoa em idade de se casar, mas que não está casada, nem nunca esteve”), vivam sozinhas.
[2] “Celibatos, celibatários: quais as perspectivas na Igreja?”
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Os bispos da França vão refletir sobre os celibatários, esquecidos pelo Sínodo sobre a Família - Instituto Humanitas Unisinos - IHU