Por: Jonas | 02 Março 2015
Refaz os seus passos. A quarta jornada dos Exercícios Espirituais da Quaresma, que são dirigidos pelo carmelita Bruno Secondin e que conta com a participação do Papa e da Cúria romana, na casa paulina Divin Maestro de Ariccia (Roma), começou, segundo apontou a Rádio Vaticana, com perguntas e reflexões: “O que você faz aqui? O que busca? Deseja ser surpreendido por Deus? Quer entender para onde deseja ir?”, então “refaz os seus passos”.
Fonte: http://goo.gl/FUFeF1 |
A reportagem é de Domenico Agasso Jr, publicada por Vatican Insider, 26-02-2015. A tradução é do Cepat.
Secondin expressou estas preocupações na primeira meditação de ontem, que, após os momentos dedicados à verdade interior e à liberdade pessoal, abriu o caminho para a proposta do Senhor.
O ponto de partida foi a história do profeta Elias, que luta com determinação, mas com um egocentrismo exagerado para defender a aliança entre Deus e o seu povo, para acabar derrotado, cansado e atemorizado em uma caverna do monte Horeb.
No encontro da terça-feira à tarde, 24 de fevereiro, Secondin finalizou a proposta de “examinar a própria consciência” enfrentando a trágica situação de Elias, que, como narra o capítulo 19 do Primeiro Livro dos Reis, encontra-se em um estado de “depressão mortal”, em fuga, desiludido pelo próprio fracasso. Uma depressão que, disse o padre Secondin, não é tão rara, “inclusive na vida sacerdotal. Muitos desfalecem, inclusive entre os sacerdotes”. Por isso, é necessário estar atentos a certos sinais que poderiam provocar dificuldades interiores.
Em primeiro lugar, “o medo”. Encontramos o temor quando pensamos no futuro, ou assumindo responsabilidades. E o medo normalmente vai acompanhado pela “solidão”, pelo “sentimento de vazio” em uma vida desiludida pelos fracassos, pelo “desfalecimento psicofísico” e pela “autoacusação” (o próprio Elias disse: “Não sou melhor que meus pais”).
Tudo isto pode provocar uma fuga (concreta, imaginária ou psicológica) ou a repetição maníaca de certos gestos (como o consumo de álcool e comida ou as evasões no mundo virtual), e inclusive o “desejo da morte”. Para enfrentar estes dramas humanos, psicológicos e espirituais, Secondin advertiu que é importante levar uma vida na qual “a relação entre o trabalho, o repouso, a oração e as relações sociais” seja “bem equilibrada”.
É importante reconhecer certas dinâmicas interiores, destacou o pregador carmelita. Dando continuidade à história do profeta Elias, exortou para transformar a “fuga em peregrinação”, alimentando-nos da Eucaristia e sabendo retornar às raízes de nossa fé.
Após ter encontrado a verdade interior, estamos dispostos à escuta da Palavra de Deus, afirmou o padre Secondin. Podemos realizar a experiência da “manifestação misteriosa” que viveu o profeta Elias no Monte Horeb, a experiência do “sussurro do vento, de uma brisa leve” onde o Senhor se manifesta. O diálogo entre o profeta e Deus, caracterizado pelo fracasso de Elias e por suas acusas ao Senhor, foram fonte de inspiração para as sucessivas meditações do carmelita. A pergunta que Deus faz ao profeta: O que você faz aqui? Mostra-nos como Deus se apresenta neste colóquio com uma pergunta e obriga o homem a olhar para dentro de si, a dar espaço às inquietudes interiores.
Às vezes, disse o padre Secondin, também para nós Deus se torna uma espécie de fantoche, e corremos o risco de “manipulá-lo” com a mesma fúria que envolve o profeta. Porém, Deus é livre, o fracasso de Elias não afeta Deus, que já tem um desígnio para seu povo que permaneceu fiel. O profeta é interpelado interiormente. O vento impetuoso, o terremoto, o fogo no qual Elias não encontra Deus poderia ser, disse o pregador carmelita, “as projeções de estados interiores” da pessoa. Desta lectio, explicou o padre Secondin, devem surgir perguntas pessoais: Estamos obcecados pelos problemas, pela carreira? Como é nossa relação com Deus? Sabemos estar em adoração temerosa a Deus? Ou temos vozes ensurdecedoras como: o sucesso, a vaidade, o dinheiro, a acusação aos demais. Finalmente, recordando os 7.000 israelitas que permaneceram fieis ao Senhor, o pregador carmelita disse que eles podem representar a “fidelidade silenciosa do povo”. Por isso, é importante compreender esta fidelidade, ser capazes de escutar as vozes dos pobres, dos simples, dos pequenos que são dons preciosos e não fragmentos perdidos da sociedade.
E se, como disse Elias, encontramo-nos desiludidos, cansados, acreditamos que somos melhores que todos e pensamos que o mundo é habitado somente por diabos soltos, é necessário “se deixar surpreender por Deus” e começar um novo percurso.
Secondin terminou desta maneira a meditação: “Refaz os seus passos”, convite que enriqueceu com sugestões: compartilhe seus bens materiais com os mais pobres, “é preciso abrir os armários cheios de coisas inúteis” e doar, é preciso abrir os braços para “construir a paz sincera com quem não conseguimos suportar”, é preciso abrir os horizontes “à verdade polifônica, à beleza das culturas e à riqueza das tradições” para admirar toda a beleza feita pelo Senhor. “Caminhe até as periferias – foi a última exortação -, vá celebrar nas barracas, almoce com quem tem pouco para comer. Você entenderá onde Deus te espera”.
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Frei Carmelita fala ao Papa e à Cúria: o êxito e o dinheiro distraem de Deus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU