26 Fevereiro 2015
Um e-mail do Papa Francisco que corre o risco de se tornar um caso diplomático. Para o governo mexicano, de fato, não agradou uma nota que o Papa Francisco enviou por e-mail ao seu amigo Gustavo Vera, responsável pela ONG argentina “Alameda”, a qual foi posteriormente publicada.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicado pelo jornal La Repubblica, 25-02-2015. A tradução é de Ivan Pedro Lazzaratto.
O Papa, que não deixa de cultivar relacionamentos de amizade com todos aqueles com quem era próximo no tempo em que estava em Buenos Aires, escreveu a próprio punho, há dois dias, pouco antes de partir para os exercícios espirituais com os chefes dos dicastério da Cúria Romana em Ariccia. Com realismo e conhecimento das problemáticas do seu País – por meio dos esforços dos “curas villeros”, muitas vezes ameaçados por isso, o cardeal Bergoglio combatia o fenômeno da droga nas favelas da capital argentina – o bispo de Roma fala dos graves perigos que afetam a Argentina frente à situação de violência em diversos locais e o aumento crescente do consumo e do tráfico de drogas. E, ao fazê-lo, usa a expressão “mexicanização”.
“Obrigado pela tua carta”, escreve o Papa Francisco a Vera. “Vejo o teu trabalho, inexaurível, caminhando a todo vapor. Peço muito a Deus que te proteja como a todos os alamedenses. E talvez estejamos em tempo de evitar a mexicanização. Conversei com alguns bispos mexicanos e a situação é terrível. Amanhã irei, por uma semana, para um retiro espiritual com a cúria romana. Uma semana de oração e de meditação me fará bem. Boas coisas. Cumprimente sua mãe. E por favor, não esqueça de rezar por mim”.
Palavras privadas, de amigo para amigo, mas que aos olhos do público são suficientes para desencadear a reação mexicana. Tanto que o governo decidiu formalizar um protesto. “Queremos um encontro com o Núncio vaticano”, disse o ministro do exterior José Antonio Meade Kuribreña anunciando o envio de uma nota diplomática para a Santa Sé. E ainda: “O que nos preocupa é que o tráfico de drogas é uma batalha comum”, não interessa somente ao México, país que a esse respeito “realizou grandes esforços”.
Desde o início de 2007, mais de 100 mil pessoas no México morreram, envolvidas pelo crime do cartel do narcotráfico. Em setembro de 2014, o desaparecimento de 43 estudantes que, segundo informações, teriam sido mortos por matadores de aluguel do grupo de traficantes “Guerreros Unidos”, colocou em dificuldades o atual governo. Políticos mexicanos sustentam, a longa data, que o problema é a responsabilidade compartilhada entre o México e os seus vizinhos, uma vez que os Estados Unidos são um excelente mercado para as drogas ilícitas.
Da Argentina, Gustavo Vera explica que as palavras do Papa estavam “no sentido de uma mudança de opinião sobre o problema da criminalidade”. “NA carta – afirma Vera – simplesmente está expressada a grande preocupação para o crescente tráfico de drogas no país e o seu enraizamento”. No início da noite a Secretaria de Estado enviou uma nota ao embaixador do México junto a Santa Sé onde esclarece que o Papa “não pretendia de forma alguma ferir os sentimentos do povo mexicano, o qual ama muito, nem deixar de reconhecer os esforços do governo mexicano para o combate do narcotráfico”.
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E o México se indignou com o Papa argentino - Instituto Humanitas Unisinos - IHU