Por: Cesar Sanson | 05 Fevereiro 2015
Moradores estocam galões, compram caixas d’água e captam chuva para uso doméstico. Comerciantes também buscam alternativas para economizar e armazenar água. Escassez inspira movimento social para construção de cisternas.
A reportagem é de Marina Estarque e publicada pela agência de notícias Deutsche Welle, 05-02-2015.
Os paulistanos já se preparam para enfrentar um "rodízio drástico", como descreveu o diretor metropolitano da Sabesp, Paulo Massato, na semana passada. Sob o sistema, os moradores de São Paulo passariam cinco dias seguidos com as torneiras secas e apenas dois com abastecimento.
Apesar do modelo do rodízio ainda não estar definido, muitos paulistanos estão comprando caixas d'água, baldes e galões, além de instalar sistemas de captação de chuva.
O governo de São Paulo prevê o início de um rodízio de água até o começo de abril, quando termina o período chuvoso e deve acabar a segunda cota do volume morto do Cantareira, que operava com apenas 5,1% da sua capacidade nesta terça-feira (03/02). O sistema, que abastece 6,2 milhões de pessoas, é um dos mais afetados pela crise hídrica, a pior da história da Grande São Paulo.
Para o professor universitário Claudio Couto, morador da Vila São Francisco, na zona oeste da capital, o rodízio já começou. Ele e a sua família estão sem água há quatro dias.
"Temos duas caixas d'água de mil litros e vou colocar uma terceira. A maior que eu puder", afirma Couto. Ele diz que, por enquanto, a reserva foi suficiente para as necessidades básicas. "Estamos economizando muito e os meus filhos estão tomando banho no clube", diz.
Uma das medidas tomadas pela Sabesp para economizar água é a redução da pressão nas tubulações, o que, na prática, já tem deixado muitos paulistanos desabastecidos durante várias horas por dia.
Na segunda-feira, dia de volta às aulas, duas escolas estaduais na zona norte da cidade dispensaram os alunos mais cedo devido à falta de água.
A seca também tem aumentado o consumo de água mineral. Em alguns supermercados, já faltam as embalagens com mais de cinco litros; sobram apenas garrafas menores.
Por isso, Couto decidiu manter um pequeno estoque de água mineral em casa. "Sempre usei filtro de barro, mas o sabor mudou desde que começaram a usar o volume morto", afirma.
Captação da chuva
A necessidade de economizar água acabou motivando moradores de São Paulo a fundar um movimento, o Cisterna Já. O grupo ensina, através de oficinas, cursos e tutoriais gratuitos, a construir pequenas cisternas caseiras, que captam e armazenam água da chuva.
"Queríamos fazer a nossa parte e não apenas ficar esperando os governos. Sabíamos que haviam perdido muito tempo com brigas políticas e, no curto prazo, havia pouco que eles podiam fazer", explica Ariel Kogan, de 29 anos, um dos idealizadores do projeto.
Em sua casa, o grupo construiu a primeira cisterna. "Tenho usado para limpar o chão, regar as plantas e, no futuro, vou aproveitar para a descarga do banheiro. Também quero comprar um filtro químico, para poder lavar roupa com essa água", conta o engenheiro e empresário.
Ariel garante que as duas cisternas, com capacidade para 200 litros cada, custaram cerca de 250 reais e ficaram prontas em um dia. Ele lembra que é preciso colocar cloro na água e uma tela na parte superior do reservatório, para evitar a proliferação de mosquitos e outros microorganismos.
O gestor ambiental Cláudio Bicudo, que ajuda a construir sistemas de captação da água da chuva, diz que a procura pelo serviço mais do que dobrou em janeiro de 2015. "Antes da crise hídrica, não tinha mercado para trabalhar com isso. Agora estou instalando em casas e em condomínios", diz.
Comerciantes se adaptam
A escassez também está preocupando os comerciantes em São Paulo. Sérgio Santos, dono da padaria St. Etienne, na Vila Madalena, decidiu fazer uma obra para instalar três novas caixas d'água, com capacidade para 15 mil litros. "Gastei quase R$ 20 mil. E as caixas ainda não chegaram, estão em falta em muitas lojas", reclama.
Outro ramo que deve sofrer fortes perdas com a crise hídrica são os salões de beleza. Para reduzir os gastos, cabeleireiros estão optando por borrifar os cabelos antes dos cortes, em vez da tradicional lavagem.
Alexandre Tiso, dono de um salão em Perdizes, diz que tem ficado sem água das 13h até a manhã do dia seguinte. "Até o meio dia conseguimos lavar os cabelos. Depois, só com balde e caneca", diz.
Tiso diz que não há espaço para instalar mais uma caixa d'água, e a atual serve apenas para abastecer o banheiro. "Estou muito preocupado com o rodízio, talvez tenha que suspender alguns serviços", lamenta.
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Assustados com o rodízio de água, paulistanos se preparam para seca - Instituto Humanitas Unisinos - IHU