03 Fevereiro 2015
Em Santa Marta, onde mora o Papa Francisco, alguns detalhes aparentemente insignificantes destes últimos dias não escaparam e ajudaram a medir o homem. Como, por exemplo, o fato de que Sergio Mattarella (foto) vai à missa todos os domingos, é alérgico às escoltas, circula geralmente em um carro popular, não ostenta o poder e é apegado aos filhos e aos netos em uma dimensão familiar muito tradicional.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada no jornal Il Messaggero, 02-02-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em suma, tudo em consonância com o estilo tão apreciado pelo pontífice. Não é pouca coisa, considerando que, em perspectiva, isso está destinado a marcar um percurso comum, a ser construído com base em semelhanças.
Afinidades eletivas
Bergoglio e Mattarella vão se entender. No Vaticano, a esse respeito, não há dúvidas. As afinidades eletivas não são difíceis de se identificar. Mais. Em relação à figura de Renzi, ele também de formação escoteira, é justamente um perfil como o de Mattarella que dá boas esperanças, embora, na situação atual, o papa e o chefe de Estado ainda não se conheçam pessoalmente.
Por enquanto, eles só tiveram uma troca oficial. O telegrama enviado pela Secretaria de Estado em nome do papa um segundo depois da eleição. Ao qual se seguirá uma mensagem de resposta, assinada pelo novo inquilino do Colle.
Antes dos contatos telefônicos diretos, espera-se o juramento [que será nesta terça-feira]. Até aqui, a práxis segundo regras protocolares preestabelecidas. No entanto, já entre as linhas do breve texto de Bergoglio, destacam-se duas passagens que refletem uma atenção nada casual.
A primeira referência sublinha a expectativa por uma tarefa institucional a serviço "da unidade e da concórdia do país". Bergoglio havia revelado as suas preocupações também ao presidente Napolitano. A segunda passagem, no entanto, diz respeito ao destaque ao a "bem comum no rastro dos autênticos valores humanos e espirituais do povo italiano", ou seja, as raízes cristãs.
Sob esse aspecto, tanto Mattarella quanto Bergoglio apoiam uma ideia de laicidade capaz de favorecer a pacífica convivência entre as muitas realidades presentes, as confissões, as culturas.
Para Francisco, a laicidade do Estado respeita e "valoriza a presença do fator religioso, favorecendo as suas expressões concretas".
Vaticano
Em suma, nenhuma ingerência, mas respeito mútuo, uma separação bem definida, com papéis não que não devem se sobrepor, embora se encerrem dentro de um marco solidário pelo bem do país.
É certo que Mattarella, mesmo não tendo, no momento, muita frequentação, encontrará no Vaticano uma boa acolhida. O cardeal Pietro Parolin comentou de forma bastante positiva a eleição. O jornal L'Osservatore Romano destacou o percurso humano linear de Mattarella, definido como "crível".
Vice-secretário da Democracia Cristã, ministro em diversos governos, deputado pelo La Margherita [partido político de centro-esquerda], de formação católica, proveniente das fileiras da Ação Católica, órgão que o saudou com amplo entusiasmo.
"Nesse sentido, Mattarella é o sucessor natural de Napolitano, ambos expoentes de uma classe política que, funestada pelos eventos do Tangentopoli [sistema de corrupção política dos anos 1990], foi capaz de expressar estadistas e homens das instituições de cujo estilo e de cujos valores, muitas vezes, nas últimas décadas, sentiu-se a falta." Como que dizendo que Mattarella está a anos-luz de distância do berlusconismo.
Um homem sóbrio e equilibrado, escreveu o jornal de Vian. É estimado por diversos prelados que o encontraram anteriormente: Dom Fisichella, durante anos capelão da Câmara, Dom Paglia, Dom Celli, o cardeal De Giorgi, ex-arcebispo de Palermo e agora aposentado em Roma, Dom Plotti, o padre jesuíta Sorge, conhecido nos tempos do Centro do padre Arrupe.
Naturalmente, os conselheiros católicos não faltarão, mas quem certamente o ajudará a se virar no complicado mundo vaticano, seguramente, será o embaixador italiano junto à Santa Sé, Francesco Greco. Ex-colaborador conhecido por Mattarella quando era ministro da Defesa, foi Greco que lhe preparou, no seu tempo, os dossiês sobre a Otan, Albânia, Kosovo, Polônia e Ucrânia.
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Novo presidente italiano: o apreço do Vaticano e a sintonia com Bergoglio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU