03 Fevereiro 2015
O terminal de contêineres da Autoridade do Porto de Atenas (OLP), a empresa pública encarregada da exploração comercial de parte do porto do Pireu, estava deserto na quinta-feira (29) de manhã. Não havia nenhum navio ancorado, nenhum trabalhador no cais. Só funcionários administrativos cuidavam de seus afazeres nos escritórios.
A reportagem é de Adéa Guillot, publicada por Le Monde e reproduzida pelo Portal Uol, 31/01/2015.
Esse ar de desolação contrastava com a alegria dos cerca de 1.100 funcionários do grupo, que na véspera souberam da suspensão do processo de privatização da empresa.
"É uma excelente novidade", comemora Konstantinos Georges Soros, secretário-geral do sindicato dos estivadores.
"A OLP deve permanecer sob controle do Estado, e o Estado precisa investir para aumentar nossa capacidade de manejo de contêineres, pois por enquanto só temos um terço da capacidade de nosso concorrente chinês ao lado e devemos restabelecer o equilíbrio para por um fim à situação de monopólio que se instalou", alega o sindicalista.
"Nós assinamos um contrato com o Estado grego"
Entre os chineses, justamente, nos dois terminais administrados pela empresa PCT (Piraeus Container Terminal), filial do grupo chinês Cosco, o clima era de agitação.
Dezenas de gruas eletrônicas de última geração, importadas diretamente de fábricas chinesas, manejavam centenas de contêineres em um impressionante balé.
Mas o ministério chinês do Comércio se disse "muito preocupado" com a suspensão da privatização do porto do Pireu, na quinta-feira (29).
"Descobrimos através de artigos na imprensa que o novo governo da Grécia anunciou, no dia 28 de janeiro, que interromperia a privatização do porto do Pireu. Isso nos preocupa muito", declarou Shen Danyang, porta-voz do ministério chinês.
"Pretendemos encorajar o governo grego a proteger os direitos e interesses legais das empresas chinesas na Grécia, entre elas a Cosco", disse Danyang Shen durante uma pequena entrevista coletiva em Pequim.
Isso porque, além de acabar com o plano de privatização da OLP, no qual a Cosco havia demonstrado interesse, o vice-ministro grego da Marinha, Theodore Dristas, também avisou que desejava rever as condições de atribuição da gestão à Cosco dos dois terminais explorados desde 2009 pela empresa.
"Nós assinamos um contrato com o Estado grego, não com um governo específico, e esperamos do Estado grego que ele honre esse contrato", declarou Tassos Vamvakidis, diretor comercial da PCT.
Fechamento do Fundo de Valorização de Bens Públicos
O anúncio do congelamento da privatização da OLP, feito um dia após a formação do novo governo do líder da esquerda radical, Alexis Tsipras, pode ter surpreendido, mas ele se alinha diretamente com as promessas efetuadas ao longo da campanha.
Tsipras repetiu diversas vezes que fecharia o Taiped, o Fundo encarregado da valorização dos bens públicos na Grécia.
No catálogo do Taiped figuram dezenas de aeroportos, portos, praias, hotéis, mas também algumas grandes empresas públicas, como as que gerem a eletricidade, o gás e a água.
Uma vez fechada essa ferramenta, o que será de todos esses bens? Alguns deles, como imóveis vazios e ociosos de propriedade do Estado, hoje são colocados à venda e geram alguma receita através de um sistema de leilão eletrônico.
O que se tornará esse sistema? Será que o governo pretende voltar atrás em outras privatizações, como a do antigo aeroporto de Atenas, o Hellenikon, cedido há alguns meses por menos de 1 bilhão de euros ao grupo Lamda Development?
Hoje há muitas dúvidas mas poucas respostas. Após os anúncios ruidosos de quarta-feira, o governo, por ora, não detalhou nada demais além do fato de que, de maneira geral, gostaria de acabar com a privatização das estruturas que podem ser úteis na retomada do crescimento, uma vez que a Grécia saia da crise.
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Estivadores comemoram fim de privatização de terminal portuário na Grécia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU