Por: Jonas | 29 Janeiro 2015
O novo primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, nomeou seu gabinete ontem, com a presença de colaboradores próximos, críticos da política de austeridade na área econômica. Também nomeou um conservador de um partido aliado para a Defesa, um tecnocrata para as Relações Exteriores e anunciou suas primeiras medidas econômicas.
A reportagem é publicada por Página/12, 28-01-2015. A tradução é do Cepat.
Yannis Varoufakis, de 53 anos, será o ministro das Finanças, portanto, o responsável pelas negociações com os credores internacionais. O vice-primeiro-ministro será Yannis Dragasakis, de 66 anos, e será o responsável por toda a área das finanças e da economia, como também participará nas conversas com a troika (União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional). Até 1991, Dragasakis pertenceu ao Partido Comunista grego, quando então se uniu ao Synaspismos, formação que depois formou o Syriza, e chegou a ser vice-ministro no governo de transição de Xenofón Zolotas.
Tanto Varoufakis como Dragasakis fazem parte do círculo mais íntimo de Tsipras. São dois economistas que defendem o fim imediato da política de cortes que a Grécia vem realizando e incentivam uma redução da dívida como a única solução para diminuir o passivo de 320 bilhões de euros que o país grego arrasta.
Yorgos Stathakis dirigirá o Ministério da Economia, Infraestrutura, Marinha e Turismo, um dos quatro superministérios criado pelo novo governo. Neste sentido, trata-se de uma equipe econômica encarregada de realizar o denominado Programa de Salónica, uma reforma de Estado na qual 80% das medidas propostas são de índole econômica.
De sua parte, o Ministério de Defesa ficará nas mãos de Panos Kammenos, líder do partido nacionalista Gregos Independentes, o partido que apoiará a maioria parlamentar do Syriza e o trabalho de governo de Tsipras. Além disso, o Ministério de Relações Exteriores será ocupado pelo tecnocrata Nikos Kotzias, professor de política da Universidade de Pireu.
O novo gabinete, que hoje se reunirá pela primeira vez, adotará um plano de medidas urgentes. A primeira será elevar o salário mínimo para 751 euros e restabelecer negociações com os sindicatos. O segundo pacote procurará facilitar o pagamento de impostos atrasados e de contribuições para a seguridade social. Neste aspecto, o principal porta-voz da Economia do Syriza, Euclid Tsakalotos, advertiu ontem que os credores da Grécia devem estar dispostos a negociar, porque “é pouco realista” esperar que Atenas possa pagar a totalidade de sua dívida. “Não conheci nenhum economista que honestamente diga que a Grécia pagará toda essa dívida. Não é possível”, sustentou Tsakalotos em declarações à BBC, referindo-se ao passivo que Atenas contraiu.
O porta-voz explicou que o panorama na Europa será muito peculiar e perigoso se as forças políticas tradicionais não estiverem interessadas em conversar com os novos governos. “Será o sinal definitivo de que esta Europa não pode incorporar a mudança democrática, nem a mudança social”, explicou. Tsakalotos disse que se a Grécia for retirada da Zona do Euro, a mesma entrará em colapso. Porém, caso isto aconteça, não será por causa do Syriza, mas, sim, consequência das políticas de austeridade. O economista afirmou que o novo governo grego terá vontade negociadora e não de confrontação. “Estamos dispostos a cooperar e a renegociar pela primeira vez com nossos colegas uma solução justa, viável e de benefício mútuo”, explicou.
Não obstante, o consenso neoliberal ficou em evidência, na segunda-feira, quando vários líderes europeus advertiram, em nome da igualdade dos membros, que não haverá redução da dívida e que são as políticas de austeridade as que permitem o crescimento.
Neste aspecto, a mudança de mandato do conservador Samaras para a do esquerdista Tsipras revelou que as medidas de austeridade somadas à corrupção do proeminente governo afetaram gravemente a administração grega. Os colaboradores do novo primeiro-ministro afirmaram que o palácio governamental foi esvaziado. A equipe que deixou o cargo levou os computadores, incluindo unidades de discos rígidos e outros arquivos digitais, papéis, móveis e até produtos de limpeza. Os mesmos colaboradores também detectaram anomalias orçamentárias, como a perda de fundos europeus por falta de projetos concretos ou o movimento injustificado de fundos entre diferentes registros.
“Todo governo começa do zero. Todo governo e toda nova administração, inclusive em nível local”, afirmou, ao jornal espanhol El País, Alexander Theodoridis, um dos fundadores da ONG Boroume (Podemos). “Desaparecem os contratos e a documentação mais básica, não se recebe informação, é preciso reconstruir os arquivos da maneira que for possível”.
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Tsipras já possui gabinete e negociadores da dívida - Instituto Humanitas Unisinos - IHU