18 Janeiro 2015
"Temos um Senhor que é capaz de chorar conosco, que é capaz de nos acompanhar nos momentos mais difíceis da vida. Muitos de vocês perderam tudo, eu não sei o que lhes dizer, não tenho palavras... Ele, sim, sabe o que lhes dizer." Chove muito, há fortes rajadas de vento, pela primeira vez, o papa celebra missa vestindo em cima dos paramentos a capa de chuva amarela dos peregrinos. Mas os protagonistas da missa no aeroporto de Tacloban são a comoção e as lágrimas de centenas de milhares de pessoas, que enfrentaram o mau tempo para se reunir em torno do bispo de Roma.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 17-01-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Francisco quis estar aqui, no lugar onde, há pouco mais de um ano, o tufão Yolanda causou mais de 10 mil mortos e devastou cidades e vilarejos. A tempestade tropical Amang que chegava aconselhou o papa – que não quis cancelar a visita – a partir com uma hora de antecedência.
Francisco desembarcou do avião sem querer nem mesmo o guarda-chuva, e, em poucos minutos, a batina branca estava ensopada. No papamóvel, ele vestia a capa de chuva amarela, que também usaria durante a missa no altar, no palco que não consegue protegê-lo da água e do vento. No momento da homilia, o papa nem mesmo começa a ler o texto em inglês que havia sido preparado. Ele quer falar do coração e o faz em espanhol, com o intérprete ao lado, que traduz.
"Jesus é como nós, Jesus viveu como nós, é igual a nós em tudo, menos no pecado. Por que Ele não era um pecador, mas, para ser mais igual a nós, assumiu o nosso pecado. Fez-se pecado, e isso diz Paulo. Jesus vai à nossa frente sempre, e, quando passamos por alguma cruz, Ele passou por ela primeiro. E se hoje todos nós nos reunimos aqui, 14 meses depois de ter passado o tufão Yolanda, é porque temos a segurança de que não vamos nos frustrar na nossa fé, porque Jesus passou primeiro. Em sua Paixão, ele assumiu todas as nossas dores."
"Permitam-me esta confidência – continua Francisco –: quando eu vi essa catástrofe de Roma, eu senti que tinha que estar aqui. E, naqueles dias, eu decidi fazer a viagem aqui. Eu quis vir para estar com vocês. 'Um pouco tarde', vocês dirão, é verdade, mas estou! Estou para lhes dizer que Jesus é Senhor, Que Jesus não decepciona. 'Padre', um de vocês pode me dizer, 'Ele me decepcionou, porque perdi minha casa, perdi minha família, perdi o que eu tinha, estou doente...' É verdade isso o que você diz, e eu respeito esse sentimento. Mas eu olho para Ele ali, pregado na cruz, e de lá Ele não nos decepciona."
"Ele foi consagrado Senhor nesse trono – disse o papa, apontando para a cruz – e ali passou por todas as calamidades que nós temos. Jesus é o Senhor, e é Senhor a partir da cruz, ali Ele reinou. Por isso, ele é capaz de nos entender... Em tudo Ele se fez igual a nós, por isso temos um Senhor que é capaz de chorar conosco, que é capaz de nos acompanhar nos momentos mais difíceis da vida. Muitos de vocês perderam tudo. Eu não sei o que lhes dizer. Ele, sim, sabe o que lhes dizer. Muitos de vocês perderam parte da família. Eu somente guardo o silêncio e os acompanho com o meu coração, em silêncio. Muitos de vocês se perguntaram, olhando para Cristo: 'Por quê, Senhor?' E a cada um o Senhor responde no coração a partir do Seu coração. Eu não tenho outras palavras para lhes dizer: olhemos para Cristo. Ele é o Senhor, e Ele nos compreende porque passou por todas as provas que nos atingem."
"Junto d'Ele, na cruz, estava a Mãe", disse o papa, apontando para a estátua de Nossa Senhora segurando o menino Jesus. "Nós somos como esse menino que está ali abaixo, que, nos momentos de dor, de pena, nos momentos que não entendemos nada, nos momentos que queremos nos rebelar, somente nos resta estender a mão e agarrar-nos à sua saia. Como uma criança quando tem medo, diz 'Mamãe!'. É, talvez, a única palavra que pode expressar o que sentimos nos momentos obscuros: 'Mãe, Mamãe'."
"Façamos juntos um momento de silêncio. Olhemos para o Senhor. Ele pode nos compreender, porque passou por todas as coisas. E olhemos para a nossa Mãe, e, como a criança que está abaixo, agarremo-nos à sua saia. E, com o coração, digamos-lhe: 'Mãe!' Em silêncio, façamos essa oração. Cada um diga-lhe o que sente..."
Depois de um momento de oração silenciosa, ele acrescentou: "Nós não estamos sozinhos, temos uma Mãe, temos Jesus, nosso irmão mais velho, não estamos sozinhos. E também temos muitos irmãos que, neste momento de catástrofe, vieram nos ajudar, e nós também nos sentimos mais irmãos, porque nos ajudamos uns aos outros. Esta é a única coisa que posso dizer-lhes. Perdoem-me se não tenho outras palavras. Mas tenham a certeza de que Jesus nunca decepciona. Tenham a certeza de que o amor e a ternura da nossa Mãe não decepciona. E agarrados a Ela, como filhos, e com a força que nos dá Jesus, nosso irmão mais velho, sigamos em frente e, como irmãos, caminhemos."
No fim da missa, antes da bênção final, Francisco rezou assim, improvisando: "Obrigado, Senhor, por estar hoje conosco. Obrigado, Senhor, por compartilhar as nossas dores. Obrigado, Senhor, por nos dar esperança. Obrigado, Senhor, por tua grande misericórdia. Obrigado, Senhor, porque quiseste ser como um de nós. Obrigado, Senhor, porque sempre estás nos buscando, mesmo nos momentos de cruz. Obrigado, Senhor, por nos dar esperança! Senhor, que não nos roubem a esperança! Obrigado, Senhor, porque no momento mais obscuro da tua vida, na cruz, tu te lembraste de nós e nos deixaste uma Mãe, a tua Mãe. Obrigado, Senhor, por não nos deixar órfãos."
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
''Não tenho palavras para lhes dizer... Temos Jesus que chora conosco'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU