17 Janeiro 2015
Comentando as palavras do papa no voo do Sri Lanka para as Filipinas, De Paolis, Lajolo, Cacciari, Tarquinio e De Masi têm posições diferentes. "Ele colocou um limite." "É pouco cristão."
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no jornal La Stampa, 16-01-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O "soco" do papa abala o Sagrado Colégio, os intelectuais laicos, os meios de comunicação católicos. "Trata-se de uma constatação do pontífice: na vida de todos os dias, acontece isso", afirma o cardeal canonista Velasio De Paolis. "Se eu ofendo alguém, devo esperar uma contraofensiva. Infelizmente, de fato, a cotidianidade não segue o espírito do Evangelho, e é desatendida a advertência de Jesus a dar a outra face."
Mas "a reação a uma ofensa verbal deveria ser, ao menos, outra ofensa verbal e não um ato de violência física." No entanto, "quem fez aqueles cartuns deveria ter se abstido de fazê-las, na consciência das previsíveis consequências", acrescenta De Paolis.
O purpurado da Cúria Giovanni Lajolo reitera que "o mal só pode ser vencido com o bem", mas reconhece que "existe a liberdade de opinião, não a do insulto," caso contrário "viveríamos em um mundo de rixa contínua".
O Quinto Mandamento
De todos os modos, destaca Lajolo, "é o espírito que faz a música", e "um soco moral pode ser mais duro do que o físico". É claro, especifica, "nada justifica a reação extrema e vil aos cartuns posta em ação pelos agressores de Paris", que "não combatem face a face, mas agridem pelas costas pessoas desarmadas". Da mesma forma, "não deve ser pisoteado o quinto mandamento: não matar, não ofender", adverte o cardeal.
Em Milão, o arcebispo Angelo Scola não comenta as palavras do pontífice, mas se refere ao dia de oração contra a violência no dia 18 de janeiro. "É uma frase não exatamente cristã, mas simpática", observa o filósofo Massimo Cacciari. "Francisco expressa a impossibilidade neste século de dar a outra face e de respeitar as Bem-aventuranças evangélicas que pedem para amar o próprio inimigo. O papa buscou um efeito humano, talvez até humano demais."
Para o sociólogo Domenico De Masi, "o soco vem pouco antes do tiro de kalashnikov". Além disso, "não é verdade que a sátira pode dizer tudo: nada está desvinculado da lei", mas, adverte De Masi, "é preciso de um princípio de proporcionalidade entre ofensa e defesa: a quem insulta Alá ou Nossa Senhora, responde-se com uma ação judicial, não com um tiro de revólver nem mesmo com um murro".
Sacralidade íntima
Marco Taquinio, diretor do jornal dos bispos italianos, Avvenire, acha a imagem do soco "uma imagem genial". Segundo ele, o pontífice, ao indicar a figura da mãe, remete a uma sacralidade íntima, válida no plano humano seja para os crentes de qualquer fé, seja para os ateus: "Mesmo entre amigos pode acontecer que se ultrapasse o senso do limite e se provoque uma reação violenta. Mas, se nada for respeitado, caímos em uma condição de confronto permanente, e a trivialidade é cega".
Indiferença e presunção
Segundo Taquinio, quando fechamos os olhos para qualquer perseguição contra qualquer pessoa, onde quer que seja perpetrada, preparamos a irrupção do ódio e da violência também nas nossas cidades, nos lugares-símbolo das nossas liberdades, nas nossas próprias casas.
"O mal se alimenta de indiferença e de presunção." E só uma escolha límpida e clara pela paz na justiça e na liberdade podem frustrar os planos de dominação e de morte dos terroristas que ousam agir "em nome de Deus".
E "as nossas sociedades abertas são vulneráveis", por isso, a expressão do papa "é uma síntese perfeita entre a rejeição da lógica da morte".
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A frase do ''soco papal'' que desnorteia laicos e fiéis - Instituto Humanitas Unisinos - IHU