15 Janeiro 2015
Quem pensa que, pelo esgotamento da viajem e as dificuldades do idioma, o Papa Francisco iria limitar-se a cumprir o protocolo e a ler as mensagens já escritas, voltaram a equivocar-se de ponta a ponta. Neste mesmo meio-dia, Bergoglio saltou até em três ocasiões o protocolo para encontrar-se com os bispos cingaleses, saudar o ex-presidente Mahinda Rajapaksa, e visitar um templo budista, respondendo ao convite de um monge que esteve em Roma faz alguns meses.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 14-01-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
“O Papa está muito contente e cheio de energia, tanto assim que agregou à sua agenda três atos”, informou o porta-voz vaticano, Federico Lombardi, durante uma roda de imprensa para avaliar os resultados da primeira etapa da visita de Francisco ao Extremo Oriente. Com quase um milhão de fiéis na missa de canonização de são José Vaz, e 300.000 no santuário de Madhu.
Segundo indicou Lombardi, o templo se chama Mahabodhi Viharaya, é o mesmo que João Paulo II visitou durante sua visita ao país. Nesta ocasião, Bergoglio decidiu por surpresa visitar o templo de um monge budista, Banagala Upatissa, que o havia convidado numa ocasião em que se encontraram no Vaticano e a quem também saudou no aeroporto.
O Papa esteve nesse templo durante vinte minutos, participando da explicação que lhe fez o monge e também dos cantos. Rezou Francisco no templo budista? “Escutou atento as explicações e os cantos de oração dos monges”, limitou-se a responder o porta-voz do Vaticano.
Após a visita a Madhu e a oração no templo budista, Francisco se dirigiu à nunciatura de Colombo, onde recebeu a visita do ex-presidente Mahinda Rajapaksa, que havia organizado a viagem, mas perdeu as eleições celebradas no passado dia 8 de janeiro e não pôde, assim, saudar o Pontífice.
Francisco chegou a Madhu, onde celebrou uma oração no santuário mariano “muito tranquilo e contente”. Também quis manter um encontro com os 20 bispos cingaleses os quais não pôde visitar ontem por ter acumulado demasiado atraso, e aproveitou seu regresso de manhã cedo de Mahdu para visitá-los, também por surpresa, no arcebispado. De fato, quando o Papa chegou, os bispos ainda não haviam regressado, com o que o Pontífice teve que esperá-los.
Sobre os riscos à segurança vaticana durante a visita, Lombardi insistiu em que os serviços da Santa Sé sempre estão em contato com os serviços secretos dos países que o Pontífice visita, mas que “no caso de Sri Lanka não houve problemas. Não há riscos extras”.
Não parece que a viagem às Filipinas, aonde Francisco chegará amanhã, seja igualmente tranquila. Assim, fontes dos serviços de segurança do país estão vivendo um autêntico quebra-cabeças, tentando preparar-se para qualquer eventualidade, desde uma avalanche até um atentado islamita, passando por atos de ‘lobos solitários’.
Mais de 40.000 soldados e policiais serão deslocados durante cinco dias a partir de quinta-feira para garantir a segurança do Pontífice argentino neste arquipélago majoritariamente católico, onde dois de seus predecessores sofreram intentos de assassinato. “Este ano será nosso maior pesadelo em questão de segurança”, comentou o chefe do exército filipino, o general Gregorio Catapang, preparando as suas tropas.
A principal preocupação das autoridades é a gestão de multidões. Calcula-se que até seis milhões de pessoas poderiam assistir à missa do domingo em Manila. Centenas de milhares de pessoas também deveriam seguir os percursos do Papa pelas ruas da capital. Outro momento delicado será a visita prevista à região devastada por um super-tufão em 2013.
O presidente filipino, Benigno Aquino, suplicou aos filipinos que mantenham a calma e evitem criar avalanches que ponham em perigo a segurança do Papa, de 78 anos. “Vo-lo peço. Querem que ocorra uma tragédia nas Filipinas na qual esteja implicado o Papa e que fique para a história?”, perguntou.
As autoridades filipinas sublinham que no dia de hoje não se detectou nenhuma ameaça específica contra o Papa, mas alguns analistas consideram que poderia ser um alvo para os islamitas locais. “Para grupos violentos opostos ao reinado da Igreja Católica, atacar o Papa seria como um troféu, um sucesso importante”, assinala Rommel Banlaoi, diretor de um centro de estudos sobre o terrorismo em Manila.
“O maior desafio seria um ataque cometido por um ‘lobo solitário’. É mais fácil vigiar os maus elementos de grupos violentos identificados”, agregou, sublinhando, sem embargo, que o arquipélago já foi capaz de assegurar no passado visitas de Papas e de presidentes estadunidenses.