11 Janeiro 2015
“Ahmed foi morto como um animal. Mas os animais são os seus assassinos”. O agente de polícia Christophe Crepin conhecia Ahmed Merabet, 42 anos, o agente que os irmãos Kouachi mataram na boulevard Richard-Lenoir. “Era um policial consciente, discreto, entusiasmado pelo seu trabalho. Tinha origem tunisina, mas era francês. Era um muçulmano praticante. Frequentava a mesquita. Para nós da polícia é um orgulho mostrar que temos agentes de todas as religiões”, explica Crepin, do sindicato UNSA Police. No vídeo postado no facebook se ouve um dos terroristas se aproximar do agente por terra e questioná-lo: “Quer nos matar?”. “Não. Está tudo certo, chefe”, responde Ahmed levantando os braços, pedindo piedade. Em vão.
A entrevista é de Anais Ginori com Christophe Crepin, publicada por La Repubblica, 09-01-2015. A tradução é de Ivan Pedro Lazzarotto.
Eis a entrevista.
Estava há muito tempo na polícia?
Trabalhava há oito anos na agência do décimo primeiro distrito que se encontra a poucos metros da sede da Charlie Hebdo. Chegou de bicicleta quando a central pediu reforços. Geralmente não desenvolvia tarefas de ordem pública. Era um policial comunitário. Na boulevard Richar-Lenoir tem um mercado de hortifrutigranjeiros, vigiava os ambulantes, conhecia todos no bairro. Era muito amado.
Acredita que Ahmed entendeu o que estava acontecendo quando chegou no local?
Tudo aconteceu muito rápido. Os terroristas fizeram com que dois voltassem voando. Ahmed estava logo atrás, com a sua bicicleta. Todos ficamos chocados. A agência de polícia do bairro ficou fechada excepcionalmente por um dia. Os trezentos agentes de polícia são muito bem treinados.
Os agentes deveriam ser melhor preparados?
Sabemos que estamos em guerra. Uma guerra de baixa intensidade mas como sempre uma guerra contra inimigos que não têm um rosto. O fato de que Ahmed era muçulmano praticamente acrescenta horror ao que aconteceu. Quiseram atacar a imprensa e a polícia, dois símbolos da República.
Conseguiu falar com a sua família?
Ahmed era solteiro e não tinha filhos. Os seus pais moram no subúrbio de Paris, será sepultado em Bobigny. Sua mãe e seu pai eram muito felizes de ter um filho na polícia. Ahmed tinha também passado no concurso para ingressar na polícia judiciária e em março seria transferido. Falava perfeitamente o árabe e seguidamente trabalhava como intérprete. Não gostava do que falavam sobre a polícia e sobre o islã. Seguidamente tinha discussões animadas. Morreu como um herói. Um herói normal.
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“O meu amigo Ahmed, muçulmano praticante morto como um animal” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU