09 Janeiro 2015
A Grécia está próxima de uma transformação histórica. Syriza (partido de coligação da esquerda radical) não é mais uma simples esperança para o povo grego: encarna a expectativa de uma mudança de rota para toda a Europa, que não sairá da crise sem que se revise, a fundo, suas escolhas políticas. A vitória de Syriza dará impulso às forças que lutam pelas mudanças. Porque se a Grécia acabar em uma estrada sem saída, a Europa de hoje está destinada a ter o mesmo fim.
A reportagem é de Alexis Tsipras, publicada pelo jornal Corriere della Sera, 07-01-2015. A tradução é de Ivan Pedro Lazzarotto.
No dia 25 de janeiro os gregos são chamados a escrever a história com o voto, a traçar um caminho de renovação e de esperança para todos os europeus, condenando as políticas falidas de austeridade e demonstrando que quando o povo quer, tem coragem de ousar e sabe superar medos e angústias, a situação pode mudar. Syriza não é um ogro ou uma ameaça, é somente a voz da razão, e saberá reproduzir o despertar da Europa, para que ela acorde do torpor e da passividade. Para isso, Syriza não é mais considerado um perigo como em 2012, mas como uma provocação para a mudança.
Mas uma pequena minoria dos Países membros, restrita em torno da liderança conservadora do governo alemão e de uma parcela da imprensa populista, continua a fazer circular velhos rumores com o propósito de uma GrExit (a saída da Grécia da zona do Euro). Exatamente igual à Antonis Samaras, na Grécia tais vozes não convencem mais ninguém. Depois de ter experimentado o seu governo, o povo grego sabe distinguir entre mentiras e verdades. Samaras não tem nada a oferecer, com exceção da submissão aos preceitos de uma austeridade danosa e falida que impuseram à Grécia novos aumentos fiscais e cortes nos salários e aposentadorias que se somam a seis anos de sacrifícios. Pede aos gregos para que votem nele para continuar nessa direção. Esconde, porém, o fato de que a Grécia está empenhada a alcançar estes objetivos, não a fazê-lo seguindo uma linha política precisa.
Syriza se compromete a aplicar desde os primeiros dias de mandato o Programa de Tessalônica, economicamente rentável e com o fisco equilibrado, prescindindo as negociações com os credores. O programa prevê ações para colocar fim à crise humanitária; medidas de igualdade fiscal, com o intuito de que a oligarquia financeira, que não surgiu com a crise, seja finalmente obrigada a pagar; um plano de recuperação econômica para contrastar os altíssimos níveis de desemprego e voltar a crescer. Estão previstas reformas radicais na gestão do Estado e da administração pública, porque não queremos voltar a 2009, mas mudar aquilo que levou o País à beira da bancarrota não somente econômica, mas também moral. Clientelismo (de um País hostil aos seus cidadãos), evasão e sonegação, operação às escuras, contrabando, são somente alguns aspectos de um sistema de poder que governou o País por muitos anos, levando-o ao desespero, e que continua a governar em nome da emergência e pelo temor à crise.
Na realidade não se trata de temor à crise, mas sim do medo à mudança. É esse medo, agravado pela incapacidade de um sistema de governo, que levou o povo grego a uma tragédia sem precedentes. E os responsáveis por tudo isso, se conhecem a antiga tragédia grega, tem bons motivos para se assustar, porque a húbris é seguido pela nêmesis e pela catarse!
O povo grego e a Europa não tem nada a temer: Syriza não quer um colapso, mas a salvação do Euro. É impossível salvar o Euro quando a dívida pública está fora de controle. Mas a dívida é um problema europeu, não somente grego: e a Europa deve carregar a função de procurar uma solução sustentável. Syriza e a esquerda europeia sustentam que é preciso cancelar a maior parte do valor nominal da dívida pública para depois introduzir uma moratória sobre o plano de retorno e uma cláusula de crescimento para equilibrar a dívida restante, de modo a utilizar os recursos restantes para estimular a recuperação. Exigimos condições que não afundem o País na recessão e não levem a população ao desespero e à miséria.
Samaras prejudica a Grécia, se obstina a afirmar que a dívida grega é sustentável. (...) Existem duas posições opostas para o futuro da Europa. De um lado a perspectiva delineada pelo Ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble: é preciso respeitar os acordos firmados e prosseguir sobre essa estrada, independentemente dos resultados obtidos. Por outro, a vontade de “fazer todo o possível” – sugerido pelo presidente do Banco Central Europeu – para salvar o Euro. As eleições gregas serão o campo sobre o qual essas duas estratégias irão batalhar. Estou convencido de que esta última prevalecerá, ainda por outra razão: porque a Grécia é a pátria de Sófocles, o qual nos ensinou, com Antígona, que por vezes a justiça é a lei suprema.
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A minha Grécia não irá prejudicar a União Europeia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU