12 Dezembro 2014
Quase um século une os Etchegoyen ao Exército Brasileiro. Mais do que a tradição, o nome da família está ligado às agitações nos quartéis e revoltas militares desde os anos 1920, quando os tenentes Alcides e Nelson Etchegoyen sublevaram o regimento de artilharia montada de Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, em uma tentativa de impedir a posse do presidente Washington Luís.
A reportagem é de Marcelo Godoy, publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 12-12-2014.
Derrotado e perseguido, o tenente Alcides, avô do general Sérgio Etchegoyen, participaria quatro anos depois da Revolução que derrubou a República Velha. Durante o governo Vargas, ele trabalhou no gabinete do ministro da guerra Eurico Gaspar Dutra e, depois, substituiu Filinto Müller como chefe da polícia do Distrito Federal, então sediado no Rio.
Nos anos 1950, Alcides encabeçou a chapa Cruzada Democrática nas eleições para a presidência do Clube Militar em oposição à liderada pelo general nacionalista Newton Estilac Leal. Venceu. Em agosto de 1954, assinou o manifesto que exigia a renúncia de Getúlio Vargas. Acabou preso em 1955 pelo ministro Henrique Teixeira Lott, quando este resolveu depor o presidente interino Carlos Luz.
Alcides morreu em 1956. Deixou dois filhos no Exército: Leo Guedes e Cyro. Leo é o pai do general Sérgio. Participou da derrubada de João Goulart em 1964 e se tornou secretário da Segurança Pública do Rio Grande do Sul até 1965. Foi assessor do presidente Emílio Garrastazu Médici. Enquanto isso, Cyro trabalhava com o general Milton Tavares, o todo-poderoso chefe do Centro de Informações do Exército (CIE).
Identificados com a linha dura, os Etchegoyen perderam espaço no Exército quando Ernesto Geisel iniciou a abertura do regime. Em 1979, Leo foi nomeado chefe do Estado-Maior do então comandante do 2.º Exército (São Paulo), Milton Tavares. O irmão chefiou a 2.ª Seção do Estado-Maior (Informações). Juntos, cuidaram da repressão às greves do ABC. O pai de Sérgio decidiu passar para reserva após o irmão ter sido preterido na promoção para general, em 1983.
Leo acreditava que "quem enfrenta a guerra suja tem de usar métodos semelhantes ao do inimigo, sob a pena de ser derrotado". Em 2003, depois dos atentados de 11 de setembro no Estados Unidos, deu uma sugestão aos americanos sobre como lidar com Osama Bin Laden: "Bastava oferecerem US$ 1 bilhão para o Mossad - o serviço secreto israelense - que eles iriam lá e resolveriam o problema". Leo morreu em 2003.
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Uma família ligada aos levantes nos quartéis há 90 anos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU