11 Dezembro 2014
Como parte da Operação Condor, aliança político-militar entre os governos ditatoriais da América do Sul nos anos 1970 e 1980, o regime militar brasileiro ofereceu treinamento de técnicas de tortura em presos políticos a agentes argentinos, chilenos e uruguaios. A informação é parte da pesquisa de dez anos do jornalista Marcelo Godoy, que lança nesta semana o livro A Casa da Vovó - Uma Biografia do DOI-Codi (1969-1991), o centro de sequestro, tortura e morte da ditadura militar (Alameda, 612 págs, R$ 69).
A reportagem é de Vitor Sion, publicada pelo Opera Mundi, 07-12-2014.
No caso chileno, as práticas viriam a ser usadas pela Dina (Departamento Nacional de Inteligência), segundo entrevista feita pelo autor da obra com o “Agente Chico”, sargento do DOI entre 1970 e 1991, que não aceitou divulgar o seu nome verdadeiro.
"Eles vieram fazer o que aqui?", perguntou o jornalista na entrevista com o agente. "Aprender como é que se interrogava", responde o agente em trecho reproduzido na página 492 do livro. "Só isso?", insiste Godoy. "Não participaram de operação. Eles chegaram num dia, com aquelas fardas marrom. E no outro dia vieram paisano e foram levados pro interrogatório. E olha como pendura, [choque], e a técnica de bater pra falar. Eram três chilenos. Vieram aprender a 'fazer' a Dina."
A confirmação da vinda de uruguaios e argentinos foi feita pelo sargento Marival Chaves, o “Doutor Raul”, sargento do DOI de 1973 a 1977. Além de consultar diversos arquivos públicos e de jornais da época, Godoy entrevistou 25 agentes do DOI-Codi, que impuseram diferentes condições para falar: há entrevistados que permitiram a divulgação do nome, outros que autorizaram a publicação após a própria morte, uma parte liberou a publicação dos codinomes e, finalmente, alguns que falaram com a condição de usarem nomes falsos.
Trechos das gravações das entrevistas foram publicadas pelo jornal O Estado de S. Paulo, 07-12-2014.
Entre as técnicas exibidas aos chilenos, que passaram dois dias no DOI (Destacamento de Operações de Informações) em 1974, estão o pau-de-arara, as máquinas de choques e a pica de boi, uma espécie de chicote. Antes da vinda de chilenos a São Paulo, um dos chefes do DOI, o capitão do Exército Ênio Pimentel da Silveira, conhecido no departamento como Doutor Ney, já havia viajado a Santiago para orientar colegas locais e “caçar brasileiros” no país, de acordo com o livro.
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DOI de São Paulo ensinou técnicas de tortura a chilenos, uruguaios e argentinos em 1974, revela livro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU