Igreja e sociedade civil denunciam a violência de muitos projetos de mineração

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09 Dezembro 2014

Em Brasília, no encontro latinoamericano “Igrejas e Mineração”, leigos, leigas, religiosas e religiosos repudiam o modelo de morte instalado pelas empresas extrativas.

A reportagem é de Luana Luizy, jornalista responsável pela cobertura do encontro “Igrejas e Mineração”, 05-12-2014.

No segundo dia do encontro internacional “Igrejas e Mineração”, que reúne mais de 90 pessoas representando as comunidades atingidas por projetos de mineração em 12 diversos países latino-americanos, o grupo dedicou-se a fortalecer sua identidade e as raízes evangélicas do compromisso das igrejas em defesa da vida e dos territórios.

“Onde estás?”, é a pergunta que desde o primeiro livro da Bíblia Deus faz à humanidade. Dom Leonardo Ulrich Steiner, Secretário Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), valorizou a análise de conjuntura realizada ao longo do encontro e convidou a uma profunda reflexão sobre as perspectivas do modelo econômico latino-americano, cada vez mais pautado pelo neo-extrativismo violento e excludente.

No mesmo dia, o grupo “Igrejas e Mineração” recebeu a notícia do assassinato de José Tendetza, indígena Shuar, defensor de sua terra, de sua medicina e práticas culturais, frente à agressão de empresas mineradoras canadenses e chinesas. José Tendetza estava dirigindo-se com sua delegação a Lima, capital do Perú, para denunciar a violência da mineração em seu território, por ocasião do encontro internacional COP 20, sobre as mudanças climáticas.

Um aprofundado debate sobre a mística que sustenta a resistência das comunidades em defesa da vida ajudou os membros de “Igreja e Mineração” a reafirmar a esperança acima da morte e da desproporção de forças no enfrentamento dessas injustiças.

Essa articulação de diversas igrejas e comunidades de fé nasceu pela indignação frente a numerosas mortes, criminalizações e agressões provocados pelos grandes projetos mineiros nos diversos territórios da América Latina.

“A Igreja tem um papel a jogar em muitos níveis: em primeiro lugar, o compromisso ético, para semear e cultivar os valores evangélicos dentro da sociedade.Tem elementos que na vida não podem ser negociáveis, como por exemplo a água. È da água que nasce a vida, e as empresas mineradoras a primeira coisa que destroem e contaminam é a água. A Igreja na América Latina tem também um papel importante em seus posicionamentos públicos, pois continua sendo uma instituição respeitada pela população e os políticos, os empresários e outras instituições internacionais a escutam”, afirma Pedro Landa, da Equipe de Reflexão, Investigação e Comunicação da Companhia de Jesus de Honduras.

“Para mim, o desafio da Igreja é recuperar a dimensão profética, a denúncia dos atropelos e da exploração do povo, e anunciar condições para outro mundo possível. A voz do Papa está denunciando que é preciso colocar um freio a este modelo, frear os níveis de consumo e acumulação capitalista e buscar a harmonia da sustentabilidade. A igreja inteira precisa acompanhar o povo garantindo presença ao seu lado, e não viver só no discurso”, aponta Pedro Landa.

No Brasil, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tem realizado iniciativas e participado juntamente com a sociedade civil ao debate sobre mineração e os riscos dela na vida dos povos e no meio ambiente. “Eu sinto que dentro nas diversas dioceses já tem um despertar maior em relação à mineração; a CNBB tem tomado a iniciativa de participar das ações, também temos sido procurados pela sociedade para discutir com o governo sobre a mineração, especialmente sobre o Novo Código de Mineração. Temos participado de diversas audiências publicas, juntamente a experientes membros do Comitê em Defesa dos Territórios frente à Mineração, para que não seja aprovado um novo código que priorize apenas os interesses da exportação e do capital, provocando graves prejuízos aos pobres e degradando o meio ambiente”, afirma dom Leonardo.

A sociedade civil também tem se mobilizado a fim de denunciar os grandes males da mineração, tendo as igrejas como aliadas na luta. “Precisamos criticar um modelo extrativista fundado exclusivamente na acumulação do capital. Graças a Deus, as bases estão se mexendo: o mais difícil às vezes é despertar as pessoas para que se mobilizem, devido também –em muitos casos- ao silêncio ou à omissão dos meios de comunicação; se as comunidades estão se movimentando, isso é um grande alento para nós bispos”, reitera dom Leonardo.

O encontro “Igrejas e Mineração” continua, nessa sexta, por mais um dia de definições de objetivos e estratégias. Uma coletiva de imprensa convocada nessa sexta permitirá aos meios de comunicação e à sociedade uma maior interação com essa articulação de comunidades de fé, abertas à participação de novas forças em defesa da vida e dos territórios.