03 Dezembro 2014
Em meio a adultos segurando faixas e cartazes, a pequena Ruby Arizabal segurava uma boneca em uma mão e uma vela na outra.
"Eu vim aqui", ela disse ao Catholic News Service, "porque o planeta está triste".
A reportagem é de Barbara Fraser, publicada no sítio National Catholic Reporter, 01-12-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
A menina de 6 anos de idade foi uma das participantes mais jovens de uma marcha e vigília de oração inter-religiosa na véspera da conferência do clima (COP-20) da ONU, que está sendo realizada de 1 a 12 de dezembro em Lima, cidade de 9 milhões de pessoas, que se estende pelo litoral desértico do Peru.
A cúpula é vista como o último e crucial passo no caminho para um novo tratado internacional para conter a emissão de gases de efeito estufa, que um novo estudo da ONU diz poder levar as temperaturas globais para níveis perigosos até o fim deste século.
"Nós não queremos apenas promessas - nós queremos que elas sejam colocadas em ação", disse Elias Szczytnicki, secretário-geral do Conselho Latino-Americano e do Caribe de Líderes Religiosos da Conferência Mundial das Religiões pela Paz, aos manifestantes.
Um desenvolvimento que ignora os impactos ambientais "terá consequências muito significativas para as gerações futuras", disse ele.
A vigília veio no final de uma série de nove dias mensais de jejum inter-religioso pelo clima, explicou Laura Vargas, ex-secretária executiva da comissão de ação social dos bispos peruanos e uma das organizadoras dos jejuns.
"Queremos rezar e mostrar ao público que as comunidades religiosas estão cientes do que está acontecendo e estão comprometidas com a ideia de que devemos reduzir as emissões e devemos pressionar nossos líderes", disse Vargas ao CNS.
"Subjacente a todas as tradições religiosas estão dois princípios básicos", disse ela. "O primeiro é cuidar dos outros e o segundo é o cuidado da natureza".
Além do jejum pelo clima, os participantes da vigília disseram que haviam participado de outras atividades de conscientização ambiental em suas comunidades.
Fonte: CNS/Barbara Fraser
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Valerio Mendoza (foto), 83 anos, segurava um cartaz com a palavra "SOS", com o desenho de uma Terra poluída no lugar da letra "O".
"Nós não estamos nos comportando bem com relação ao planeta", disse Mendoza, um dos mais de 50 paroquianos da Paróquia Santa Cruz de Lima, que têm estudado sobre o cuidado da Criação, organizado campanhas para limpar seus bairros e promovido a reciclagem.
Durante a conferência de 12 dias, os negociadores vão tentar terminar a elaboração de um acordo para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e ajudar os países a se adaptarem à mudança climática. A versão final, a ser aprovada em dezembro de 2015, em Paris, entraria em vigor em 2020.
Conferências climáticas do passado têm esbarrado em diferenças entre países industrializados e em desenvolvimento. Alguns observadores estão mais otimistas neste ano, depois que os Estados Unidos e a China, os dois maiores emissores de gases do efeito estufa do mundo, anunciaram conjuntamente metas de redução de emissões, e mais países prometeram contribuir para o Fundo Verde para o Clima da ONU.
No entanto, cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima dizem que passos maiores são necessários para evitar que as temperaturas globais subam além do ponto onde mudanças irreversíveis provavelmente ocorrerão.
Enquanto as maiores emissões nos países industrializados vêm da geração de energia e do transporte, o desmatamento é o principal culpado em países amazônicos, incluindo o Peru, anfitrião da conferência.
Os ambientalistas criticaram o Peru por promover a produção de petróleo - uma das principais fontes de gases de efeito estufa - para ajudar a impulsionar sua economia. O país também ganhou as manchetes internacionais recentemente quando quatro índios Ashaninka foram assassinados, na fronteira com o Brasil, supostamente por madeireiros ilegais.
O Ministro do Meio Ambiente peruano, Manuel Pulgar-Vidal, disse que espera que a conferência aumente a conscientização dos peruanos sobre as questões climáticas e leve a uma maior pressão por políticas energéticas e de uso do solo favoráveis ao clima.
Em seu discurso na vigília, Szczytnicki recomendou ao governo peruano a "adotar uma política clara com relação ao clima e não se esconder por trás do argumento do crescimento econômico como uma desculpa para relaxar as normas ambientais".
Ele também pediu que os participantes da cúpula adotem um "acordo justo e equitativo" e "garanta políticas nacionais eficazes que estimulem economias de baixo carbono e redução de emissões".
Os grupos religiosos devem se tornar "congregações verdes" e educar os fiéis sobre "a obrigação urgente de enfrentar a mudança climática", disse ele.
Os oradores da vigília apelaram a todos os homens e mulheres de boa vontade, crentes ou não, para tomar decisões pessoais que sejam ambientalmente corretas e que reduzam a sua "pegada de carbono", que mede o uso de combustíveis fósseis.
"Quando as pessoas começam a sentir que a Terra não é algo a ser comprado e vendido, mas é parte de nós, que se você abusar dela, você está prejudicando a si mesmo, isso cria uma relação holística", disse Vargas.
Enquanto as chamas das velas tremulavam em frente ao parque a poucos quarteirões do quartel do exército do Peru, onde a conferência do clima começou no dia 01 de dezembro, Szczytnicki agradeceu os participantes da vigília por trazer "a luz da esperança" para as negociações.
"Nelas", disse ele, "está o futuro do mundo".
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''O planeta está triste'': Manifestantes rezam pelo sucesso da COP-20 no Peru - Instituto Humanitas Unisinos - IHU