13 Novembro 2014
Compactas, ultraviolentas e com forte implantação territorial. A brutal guerra aberta que o México trava há oito anos contra os cartéis da droga gerou uma nova tipologia de organizações criminosas.
A reportagem é de Jan Martínez Ahrens, publicada pelo jornal El País, 12-11-2014.
A época dos grandes chefes, no estilo de El Chapo Guzmán - preso em fevereiro deste ano -, com redes que operavam em todo o país, capazes de arbitrar nas disputas territoriais e com conexões privilegiadas em capitais internacionais, chegou ao fim e deu lugar a uma era de pequenos bandos em áreas limitadas, de estrutura leve e capazes de se multiplicar em ambientes extremamente hostis.
Nesse universo fragmentado, submetido à pressão constante pelos clãs rivais e a intervenção militar, esses organismos virais deixaram de lado, como principal fonte de renda, o negócio da droga e, segundo especialistas, se dedicaram ao lucro obtido por meio da extorsão, o roubo e o sequestro, três crimes que lhes deram o domínio territorial, mas que exigem o uso constante da violência.
É o caso dos Guerreros Unidos, acusados do assassinato dos 43 estudantes normalistas desaparecidos em Iguala. "Os novos bandos são mais locais e predadores; no caso de Guerrero, o fenômeno alcançou o paroxismo pela histórica fragilidade institucional do território; nada os freou e se apoderaram de povoados como Iguala. Os Guerreros Unidos são o exemplo mais claro. São pouco sofisticados, operam em nível local e a venda de drogas internacional é feita por intermediários. São filhos da fragmentação", salienta o analista de segurança Alejandro Hope.
A organização nasceu das cinzas do império de Arturo Beltrán Leyva, o chamado Chefe dos Chefes, um antigo aliado de Chapo Guzmán que a marinha matou a tiros em 16 de dezembro de 2009. Sua queda deixou sem cetro um vasto território que abarcava amplas faixas do Pacífico e do centro do México. O resultado foi um virulento desmembramento que deu origem a diversas células criminosas (só em Guerrero, segundo fontes da inteligência, dez grupos operam atualmente) que começaram a disputar o butim.
Uma delas se destacou rapidamente. Seu embrião foi um grupo de bandidos de enorme ferocidade que Beltrán Leyva mandou criar em 2005 para controlar Guerrero, o estado mais violento e pobre do México, e enfrentar outros cartéis. A encomenda de abrir esta sucursal recaiu em dois irmãos hábeis na remessa da droga que chegava a Acapulco da Colômbia e da Venezuela.
Chamavam-se Alberto e Mario Pineda Villa e eram exatamente os irmãos da mulher do prefeito de Iguala. Criaram um grupo denominado Los Pelones, que com o tempo formariam a espinha dorsal da Guerreros Unidos.
Em 2009 os Pineda Villa acabaram assassinados, supostamente por terem tentado trair o Chefe dos Chefes. E meses depois, quando este morreu nas mãos da marinha, o controle dessa sucursal do crime foi tomado por Cleotilde Toribio Rentería, chamado de Tilde, e mais tarde por um temível bandido, Mario Casarrubias Salgado, aliás Sapo Guapo. Sob seu comando, o bando experimentou um crescimento acelerado.
Sem escrúpulos para mutilar, torturar ou assassinar, o cartel conseguiu infiltrar-se na vida policial e política de Guerrero, onde estendeu o pagamento de cotas a limites nunca vistos. Sua expansão foi acompanhada de uma luta sem quartel contra os clãs rivais, especialmente Los Rojos [os Vermelhos], cujo líder, Crisóforo Rogelio Maldonado Jiménez, eliminou com silenciador um bandido disfarçado de médico em 14 de dezembro de 2012 em uma unidade de vigilância intensiva na Cidade do México.
Essa liquidação deu início a uma guerra brutal que deixou só no estado do México mais de 70 cadáveres sobre o asfalto. Esse banho de sangue pôs de sobreaviso as autoridades, temerosas de que a violência chegasse à capital.
Em 29 de abril passado, Casarrubias, 33, foi capturado. Como é habitual, foi substituído rapidamente. O cargo foi ocupado por seu irmão Sidronio, o chefe que, tomando os normalistas por integrantes dos Rojos, deu luz verde para seu extermínio "em defesa do território". Sidronio caiu nas mãos da polícia há duas semanas. A esta hora, outro bandido deve ocupar seu posto, preparando o próximo ajuste de contas.
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Cartel que matou estudantes no México faz parte da "nova geração" do crime - Instituto Humanitas Unisinos - IHU