11 Novembro 2014
Foi uma ação e tanto para o governo mexicano, sendo que milhares de manifestantes protestavam, na quarta-feira (5), na Cidade do México e em outras cidades, contra sua incapacidade de encontrar pistas dos 43 estudantes que sumiram há mais de um mês em Iguala, no sudoeste do país. A polícia prendeu na terça-feira o ex-prefeito dessa cidade do Estado de Guerrero, José Luís Abarca, e sua esposa, María de los Ángeles Pineda, os supostos mandantes do sequestro desses estudantes. Esse casal "diabólico", ligado ao crime organizado, mergulhou o país em uma verdadeira crise política, de repercussões internacionais.
A reportagem é de Frédéric Saliba, publicada pelo jornal Le Monde e reproduzida pelo portal UOL, 08-11-2014.
Na terça-feira, os fugitivos foram presos em uma casa abandonada de um bairro popular no leste da Cidade do México, sem que nenhum tiro fosse disparado. Abarca e Pineda, elegantemente vestidos, pareciam esperar por sua prisão, sentados em um colchão inflável.
O casal de 50 e poucos anos havia fugido dois dias depois de ter ordenado o ataque, no dia 26 de setembro, de policiais e narcotraficantes contra uma centena de estudantes, resultando em seis mortos e 43 desaparecidos. Segundo a investigação, o prefeito teria temido que os alunos sabotassem um evento público de uma instituição de proteção à infância, dirigida por sua esposa. Pineda, que acabara de ser eleita conselheira regional do Partido da Revolução Democrática (PRD, esquerda), se preparava para anunciar sua candidatura à sucessão de seu marido em 2015.
"Casal imperial"
Esse caso tenebroso acabou com o nepotismo daqueles que os habitantes de Iguala apelidavam de "casal imperial". Ele comandava policiais municipais corruptos, desde que foi eleito em 2012 pelo PRD, enquanto ela, irmã de três notórios narcotraficantes, dirigia as atividades do cartel dos Guerreros Unidos em Iguala.
Esse conluio entre as autoridades locais e o crime organizado explica a fortuna acumulada por esse ex-vendedor de chapéus de palha e sua exuberante esposa com jeito de manequim. Pais de três filhos, eles comandavam um império de 17 propriedades em Iguala, incluindo luxuosas mansões, joalherias, farmácias e um shopping center, e viviam em grande estilo, com suas roupas de grife.
Esse casal espalhava o terror em total impunidade nessa cidade de 130 mil habitantes. Segundo a investigação, Abarca pagava o equivalente a quase R$ 500 mil por mês aos Guerreros Unidos, sendo que uma parte ia para os assassinos desse cartel, que viraram policiais municipais para reprimir seus opositores. Em 2013, uma queixa chegou a ser feita contra o prefeito pelo assassinato de um líder camponês, Arturo Hernández Cardona.
Proteções políticas
"A prisão deles contribuirá para esclarecer a investigação", disse já na terça-feira o presidente Enrique Peña Nieto. A indignação dos mexicanos não para de crescer, diante de um caso que acabou revelando a extensão da infiltração do crime organizado nas instituições públicas.
Os investigadores esperam que Abarca e Pineda os levem a encontrar os desaparecidos, e suas confissões poderão também esclarecer as proteções políticas recebidas pelo casal. A crise já levou à demissão do governador de Guerrero, Ángel Aguirre, também do PRD, e do ministro regional da Saúde, Lazaro Mazon, padrinho político de Abarca.
"Outros dirigentes locais e membros do governo são responsáveis pela omissão quanto às associações mafiosas do casal", acusa Felipe de Jesús de la Cruz, porta-voz dos pais dos desaparecidos. Na quarta-feira, estes lideraram a terceira manifestação organizada na Cidade do México para pedir por justiça.
A investigação levou à prisão de cerca de 40 policiais municipais. Mas, com exceção de Abarca, nenhum político foi acusado enquanto os 43 estudantes continuam desaparecidos.
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Quem é o casal diabólico que mergulhou o México em uma crise? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU