10 Novembro 2014
Lançado o novo livro de Antonio Spadaro, “Além do muro. Diálogo entre um muçulmano, um rabino e um cristão” (Ed. Mondadori) onde o religioso jesuíta, diretor da “Civilização Católica”, conversa com Omar Abboud e Abrahm Skorka. Os dois são o muçulmano e o hebreu amigos do Papa Francisco que o acompanharam durante a viagem à Jerusalém há poucos meses atrás.
A entrevista é de Alessandro Gisotti, publicada pela Rádio Vaticana, 06-11-2014. A tradução é de Ivan Pedro Lazzarotto.
Tudo o que é ligado ao diálogo hoje, é urgente e necessário. Para impedir a cultura do combate e da morte, que encontra lugar naqueles que mantém o diálogo como uma forma de relativismo e de renúncia para a própria identidade. São falsas representações que vão sendo recusadas para compreender como o diálogo é uma exigência íntima e irrenunciável da existência cristã.
O correto, do ponto de vista da teologia, está ligado ao momento de ir além da prática do diálogo para uma definição teológica precisa. Realizei pesquisas sobre o assunto e estou procurando coloca-las no papel.
“Este livro nasce do fascínio de um abraço, aquele abraço trocado em frente ao Muro das Lamentações entre um cristão (o Papa), um hebreu (Abraham Skorka) e um muçulmano expoente (Omar Abboud). Aquele abraço, a força daquele abraço, está apto a superar, se podemos dizer, a “romper” de qualquer maneira o muro, um muro que podemos chamar de divisor. Quando nós percebemos a força da amizade, tomamos conhecimento de que todas as armas justas da diplomacia e das mediações possuem no seu interior uma forma de hipocrisia. A amizade não: a amizade é simples e franca. Então, eu diria que este abraço indica um caminho, um caminho muito claro de uma estrada longa que, porém não se pode percorrer sozinho”. (Antonio)
Eis a entrevista.
Pode-se dizer que o Papa é sempre um Papa sinodal, ou seja, caminha sempre junto ao próximo, a quem encontra, ele mesmo se torna próximo dos outros?
Para o Papa, antes de um evento o Sínodo é um percurso, é uma dinâmica. Eu diria que nós estamos em pleno percurso sinodal e o ato de caminhar juntos para Francisco não é somente uma estratégia de conversão, mas é uma forma de viver a nossa vida sobre este plano e testemunhar o Evangelho.
O que ocorreu nas conversações que pode ter envolvido Omar Abboud e Abraham Skorka, amigos de longa data de Jorge Mario Bergoglio?
A grande familiaridade e a força da amizade que viveu com estas duas pessoas. No livro estão descritas também particularidades muito intensas, muito vivas desta amizade. Falando com eles, seja em Roma ou em Buenos Aires, duas vezes com ambos, pude ver fisicamente os lugares em que vivem. Por exemplo, a biblioteca de Omar Abboud, que é muçulmano, possui muitos livros de teologia cristã que lhe foram presenteados pelo Papa. Surpreendi-me ao ver estes livros em sua biblioteca e o questionei como pode, e depois percebi que o Papa tem com ele um relacionamento tão forte de amizade que se transforma numa comunicação profunda de sabedoria religiosa e de fé. Neste relacionamento é possível acolher a sabedoria do outro, observando o significado profundo e então além das cercas e das barreiras. Um testemunho vivo que nos faz entender melhor o Papa, visto de uma perspectiva hebraica e de outra muçulmana.
Na capa do livro é relatada uma frase que já está na história de Francisco: “Construir a paz é difícil, mas viver sem paz é um tormento”. No fundo o Papa indica o caminho mais simples, mas a via verdadeiramente resolutiva para a paz seria o diálogo e a amizade?
A paz é muito difícil de se alcançar, porém o Papa não se reúne com outras pessoas em uma mesa para discutir ideias abstratas. A visão que o Papa tem do diálogo é uma visão muito concreta. Para dialogar é preciso fazer algo juntos. É preciso construir algo juntos. Isso é uma parte da lição que vem da experiência argentina que é uma nação construída pela imigração e sobre a confluência de tradições religiosas bem diversas. A experiência destas pessoas é que não realizam conferências, diálogos abstratos, mesas redondas, quanto menos trabalhar juntos, uma vez que conseguem propor para nós um modelo de diálogo e de caminho para a paz.
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Além do muro: a necessidade de diálogo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU