Por: Jonas | 04 Novembro 2014
Estela Barnes de Carlotto (na foto, à direita do neto reencontrado), a histórica presidente das Avós da Praça de Maio se prepara para viajar a Roma, convidada pelo Papa Francisco. Chegará à Itália na sexta-feira pela manhã e nessa mesma tarde acontecerá o encontro na Casa Santa Marta. Será acompanhada pelo neto que acaba de recuperar, Ignacio Guido Montoya, junto com outros vários membros da família. “Nós que vamos, somos uns dezoito Carlotto, convidados pelo Papa, então que tome cuidado...”, disse brincando Carlotto, segundo informa em Buenos Aires o jornal Página/12.
Fonte: http://goo.gl/QZrcve |
A reportagem é de Alver Metalli, publicada por Vatican Insider, 01-11-2014. A tradução é do Cepat.
Esta será uma viagem diferente das anteriores. Em abril de 2013, Estela de Carlotto voltou de Roma reivindicando em voz alta uma colaboração mais ativa da Igreja argentina no esforço de recuperar os filhos roubados pela ditadura; e para que ficasse bem claro que não eram apenas palavras, pediu para que fossem facilitadas as cópias das atas de batismo das crianças que haviam recebido o sacramento, entre 1976 e 1983, nas capelas da região de San Miguel e Bella Vista, onde se presume que possam ter sido entregues alguns dos netos que procuram. Nessa ocasião, o “conte comigo” do Papa abriu as portas em Buenos Aires. Poucos dias depois, as famosas avós foram recebidas pelo Presidente da Conferência Episcopal, José María Arancedo, que confirmou o compromisso da Igreja e lhes entregou uma cópia do documento da Assembleia plenária de 2012, onde os prelados argentinos se referem à necessidade de “um estudo completo desses acontecimentos, com a finalidade de continuar procurando a verdade”.
Contudo, a viagem também é diferente porque a campanha para encontrar os netos desaparecidos já não é a obstinada e solitária batalha de um grupo de irredutíveis mulheres, que muitas vezes eram vistas com suspeita e comiseração. Ocorreram alguns fatos, como o caso de Guido Ignacio Montoya, por exemplo, recuperado depois de 36 anos, no último mês de agosto. Em 36 anos, restituiu-se a identidade de 114 pessoas. Eram 105 em julho de 2012, sendo nove a mais em dois anos. Entre elas Ana Libertad, que também é neta de outro nome histórico das Avós, Alicia “Licha” de La Cuadra, a primeira presidente e uma das fundadoras.
Ainda resta muito trabalho pela frente. Faltam ainda 400 netos. Porém, a sensibilidade está à flor da pele. Uma prova é a publicidade que há dias aparece nos canais públicos e privados de televisão, onde um benévolo dom Arancedo, ao lado de duas avós da Praça de Maio, a presidente Estela de Carlotto e a vice Rosa Roisinblit, convida seus compatriotas, sobretudo os católicos, a proporcionar às autoridades todas as informações as quais tenham conhecimento direto ou indireto sobre o lugar onde vivem “crianças roubadas” ou sobre “lugares de sepultura clandestina” dos que morreram ou nunca foram identificados.
“Moralmente obrigados” ressalta o primeiro presidente dos bispos argentinos da era Francisco, que sucedeu ao próprio Bergoglio, no dia 8 de novembro de 2011, e que está a ponto de concluir seu mandato. Precisamente nestes dias, entre 10 e 15 de novembro, o plenário dos bispos argentinos renovará toda a sua liderança.
A propaganda na televisão inaugura uma campanha com um título contundente, que não tem precedentes na história do país desde o dia em que a ditadura ruiu em pedaços, há 32 anos: “A fé move para a verdade”.
Mais comprometida, ainda que menos propagandeada, é a participação do número dois dos bispos argentinos, Jorge Lozano, presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social. Dom Lozano não apenas pede para que se fale, saindo do anonimato em que se está encerrado, talvez até mesmo pelo bom nome da Igreja, mas, sim, que a isso se une o reconhecimento de que durante todos estes anos houve “uma rede de silêncio e de cumplicidade”, diante da qual a Igreja não foi estranha, uma rede de silêncio “formada por vizinhos, parentes adotivos, pediatras, sacerdotes e religiosas” que “erroneamente” acreditam que “é melhor que não conheçam sua verdadeira identidade”.
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Bergoglio e os filhos roubados pela ditadura argentina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU