Por: Cesar Sanson | 30 Outubro 2014
"Vamos cair na real: o Marcelo Freixo não vai ser ministro da Justiça. O João Pedro Stédile não será o ministro do Desenvolvimento Agrário. E o economista Eduardo Suplicy não vai ser o ministro da Fazenda. E tudo indica que Kassab será, sim, ministro —pelo jeito, das Cidades". O comentário é de Lino Bocchini em artigo publicado por CartaCapital, 30-10-2014.
Eis o artigo.
Não leve a mal, mas você votou para escolher, dentre duas opções, qual era a melhor (ou menos pior) para o país. Não foi votada a queda do capitalismo, o fim das trocas de cargos por apoios ou uma maior participação da população.
Aliás, o interesse da maioria dos políticos é justamente o contrário: menor participação popular. Nesta terça-feira 28 a Câmara dos Deputados derrubou o decreto presidencial que cria Política Nacional de Participação Social – que prevê mecanismos para acompanhar, monitorar, avaliar e articular políticas públicas. Foi uma “vingança” pela vitória de Dilma.
Foi só um aperitivo do que virá por aí. Teremos no Senado duros opositores como José Serra (PSDB-SP), Aloysio Nunes (PSDB-SP) e Ronaldo Caiado (DEM-GO), uma base aliada acostumada a trocar apoio por favores, como Fernando Collor (PTB-AL), Jáder Barbalho (PMDB-PA) e Blairo Maggi (PR-MT), e senadores "aliados" (assim, com aspas) como Ana Amélia (PP-RS) e Cristóvão Buarque (PDT-DF). Até o PSB inteiro, agora com Romário, estará na oposição.
Na Câmara, a situação também não será nada fácil. Não à toa, antes mesmo da posse dos parlamentares no dia primeiro de janeiro, este já vem sendo considerado “o pior Congresso eleito desde 1964”. A bancada da bala aumentou, os homofóbicos ganharam força, os ruralistas também cresceram e os partidos mais à esquerda, à exceção do Psol, perderam força. No que depender desse pessoal, o país ficará ingovernável até 2018, quando tentarão conduzir Aécio Neves ou Geraldo Alckmin à Presidência.
A própria reforma política, considerada uma solução universal para todos os males do sistema, dificilmente virá da forma defendida pelas 8 milhões de pessoas que assinaram o “plebiscito popular”, ou seja, com financiamento público de campanha e paridade de gênero nas cadeiras, entre outros temas de difícil aceitação pelos congressistas em geral.
Você acredita mesmo que os políticos eleitos vão mudar o sistema que lhes garante o poder? Algum deputado vai lutar, por exemplo, pelo financiamento público de campanha, sendo que já armado um eficiente esquema de financiamento privado que o colocou lá?
Uma reforma política com o mínimo de efetividade só virá com muita pressão popular e com um movimento muito mais organizado, claro e progressista do que o promovido pelos “Gigantes Acordou” da vida.
E aí, lamento, mas parte da culpa é sua. Acabamos de sair do processo eleitoral e boa parte das pessoas já se esqueceu em quem votou para deputado estadual ou federal. As regras do jogo político atual foram definidas por você, por meio do seu voto.
Isto posto, voltemos ao Gilberto Kassab, o ex-prefeito de São Paulo que fundou o PSD, o mais novo e poderoso PMDB da praça. Ele é o presidente e o líder absoluto do partido com a 4ª maior bancada do Congresso, atrás apenas de PT, PSDB e PMDB. Tem ainda, de quebra, quatro senadores, dois governadores, dezenas de deputados estaduais e centenas de prefeitos e vereadores Brasil afora. Em um cenário no qual mais 6 partidos ganharam representação parlamentar –eram 22 e agora são inacreditáveis 28— como convencer essa turma a aprovar qualquer projeto?
A população brasileira deu a Kassab, por meio de seu voto, o enorme poder de controlar a quarta maior bancada de deputados federais. Logo, como ignorá-lo? E o que dizer do PMDB, a segunda maior força da casa, com 66 deputados?
Para garantir as mudanças constitucionais, como as previstas em qualquer modelo de reforma política, serão necessários três quintos dos votos. E um partido como o Psol, apontado como um exemplo de ética política e com ótimos parlamentares como Ivan Valente, Jean Wyllys e Chico Alencar, tem apenas 5 votos, menos de 1% dos 513 eleitos. E aí?
Vamos cair na real: o Marcelo Freixo não vai ser ministro da Justiça. O João Pedro Stédile não será o ministro do Desenvolvimento Agrário. E o economista Eduardo Suplicy não vai ser o ministro da Fazenda. E tudo indica que Kassab será, sim, ministro —pelo jeito, das Cidades.
Impedir a vitória de Aécio e seu grupo político e tudo o que ele representa foi uma importante vitória. O país barrou um grave retrocesso e sinalizou que aprova as mudanças que vêm sendo promovidas pelos governos do PT. Agora, para seguir rumo a uma sociedade mais justa e moderna, ainda há um longo trabalho pela frente. E o caminho passa por um debate político diário, maduro e que precisa ser feito á luz da realidade. Sem mimimi despolitizado.
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"Ah, mas eu votei na Dilma para o Kassab ser ministro?" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU