20 Outubro 2014
O clima de confronto dos candidatos ao Planalto Dilma Rousseff e Aécio Neves, com embates cada vez mais acalorados, tem exposto mais do que um País dividido entre petistas e tucanos nestes dias que antecedem a votação do 2.º turno, marcada para o dia 26 de outubro. Na internet e nas ruas, os xingamentos e agressões entre eleitores são cada vez mais comuns e frequentes.
Para especialistas, desde a redemocratização do País nunca se viu tanta violência em uma campanha como em 2014. Já há registros até de agressões físicas.
A reportagem é de Edgar Maciel, publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 18-10-2014.
Enquanto Dilma e Aécio se enfrentavam no primeiro debate do 2.º turno na terça-feira passada, na Band, o aposentado Ênio Barroso Filho, de 57 anos, sofria uma tentativa de agressão próximo à Praça Roosevelt, no centro de São Paulo. Deficiente físico, Ênio guiava sua cadeira de rodas pela Rua Augusta. Vestia uma camiseta vermelha e um broche com o slogan do PT. Segundo ele, uma perua com quatro homens começou a segui-lo. “Eles pediram pra eu tirar a camisa e me chamaram de comunista. Falaram pra eu me mudar pra Cuba’’, afirma.
O aposentado reagiu e, em troca, recebeu socos na cabeça. Depois, foi jogado no chão. As agressões só pararam, conta Ênio, quando pessoas que estavam próximas pediram por socorro.
No bairro Artur Alvim, zona leste da capital, a dona de casa Ivânia Vilela, de 47 anos, transformou parte de sua residência em um comitê de Aécio. Com bandeiras e placas na frente de casa, Ivânia conta que recebe ameaça de vizinhos diariamente. Na madrugada da quarta-feira passada, o material de campanha foi incendiado. “Foi constrangedor, triste, porque respeito a opinião dos outros. Só peço que respeitem a minha’’, disse.
Ódio
Para Francisco Carlos Teixeira da Silva, historiador contemporâneo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, episódios como esse reforçam a ideia de que o discurso de ódio dos partidos influenciam os casos de violência dentro da política.
“Estamos na anteporta de ter de volta à cena política brasileira a violência como elemento banal’’, reflete. “Vemos os partidos usarem uma linguagem extremamente agressiva em seus programas e nos debates. Isso é quase como uma autorização escrita para atos violento”, argumenta o historiador.
“É uma ânsia tão grande por conseguir votos que se transforma em radicalização de ambos os partidos’’, diz Vera Chaia, cientista política da PUC-SP. Vera lembra que as acusações eleitorais vêm desde o confronto entre Lula e Collor, em 1994. Mas, naquela época, havia políticos conciliadores dentro dos partidos que conseguiam amenizar os conflitos. “O (Mário) Covas, no PSDB, e o Ulysses (Guimarães), no PMDB, são exemplos de políticos que mediavam conflitos. Hoje nós temos um quadro totalmente ao contrário. O marketing sobressai e extrapola os limites de ataques na televisão.”
Redes sociais
As ameaças e discussões acontecem com mais intensidade no mundo virtual. Eleitores de ambos os candidatos trocam acusações, criam inimizades e até mesmo dão “um tempo’’ no relacionamento por causa das desavenças políticas. Esse quase foi o caso da estudante Camila Dornelas, de 25 anos, que mora no Rio de Janeiro. Em uma conversa informal de casal, Camila mencionou para o namorado que votaria em Dilma. A resposta veio em tom de acusação: “Sua petista!’’. “Ele tentou me convencer de que o Aécio era o melhor. Preferi não discutir mais política pra não perder o namorado’’, conta a estudante.
Na quinta-feira, logo após a presidente Dilma sentir-se mal no debate do SBT - no qual petista e tucano trocaram ataques pessoais no encontro mais “bélico” entre ambos desde o início da campanha -, o médico gaúcho Milton Pires postou a seguinte frase no Facebook: “Tá se sentindo mal? A pressão baixou? Chama um médico cubano sua grande filha d...’’
O post teve mais de 1,4 mil compartilhamentos - a maioria com críticas ao médico. Ontem, segundo ele, sofreu ameaças de morte. “Será necessário caçar meu diploma de médico, me levar preso e ainda assim eu não retiro o que escrevi sobre Dilma nem peço desculpa’’, afirmou.
Rótulos
O professor de inglês Adriano Schneider, de 30 anos, escreve pelo menos um texto por dia defendendo suas ideias e opiniões políticas. Ele diz que vai votar em Aécio no próximo dia 26, o que o fez criar inimizades no Facebook e ter longas discussões de 140 caracteres no Twitter. “Se eu escolho o Aécio, sou rico. Se prefiro a Dilma, sou um beneficiado do Bolsa Família. Todos adoram rotular’’, disse.
Entre os famosos, as discussões também são quentes. Na segunda-feira, o ator Gregorio Duvivier escreveu sobre sua posição de voto a Dilma e as agressões verbais que tem sofrido. Uma delas partiu, via rede social, do também ator Dado Dolabella. Ele afirmou: “estar com Dilma” é o mesmo que “estar com Ebola”.
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Ambiente agressivo entre eleitores nas redes sociais e nas ruas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU