17 Outubro 2014
A cúpula está polarizada. Ânimos inflamados, até mesmo exasperados. Contestações abertas à presidência do Sínodo. Coisas que nunca aconteceram antes. Tanto que alguns, em voz baixa, saindo da sala sinodal na manhã dessa quinta-feira, sussurravam desconsolados: "Tentaram nos censurar". Mas quem? Silêncio.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada no jornal Il Messaggero, 17-10-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Depois, pouco a pouco, a história se transformou em um rio. O que os padres sinodais assistiram, quando foram informados pelo cardeal Baldisseri – responsável pelos trabalhos – de que ele não tinha nenhuma intenção de tornar público o trabalho dos grupos de estudo linguísticos, tem bem poucos precedentes.
O trabalho dizia respeito às emendas ao texto da discórdia, aquele que contém aberturas aos gays e à comunhão aos divorciados, não aceito pelos conservadores. O murmúrio na sala logo se tornou intenso, aumentando progressivamente. "A censura." "A cúpula em ação." Palavras pesadas.
Resmungos
Nos dias anteriores, alguns se lamentaram abertamente da falta de transparência, alguns outros tinham pedido a divulgação de todos os textos, a fim de dar aos fiéis a possibilidade de entender o teor do debate em curso.
O primeiro a interromper o zum-zum e a se rebelar contra Baldisseri (homem de confiança do papa) foi o húngaro Erdö, ou seja, o relator do texto a ser emendado, uma operação de maquiagem que está criando algumas dores de cabeça aos "pontas de lança".
Logo depois, intervieram Sistach, Martinez, Burke. O mais duro foi Pell: "Coloquemos isso em votação e vamos ver. Não é possível seguir em frente assim".
No fim, Baldisseri teve que voltar atrás, autorizando a divulgação dos textos novos que deveriam ser inseridos no documento final a ser votado no sábado. O que não agrada diz respeito às aberturas aos casais gays, aos divorciados em segunda união, a certas formulações avançadas.
Nem todos se sentem refletidos e, assim, declararam batalha desde o primeiro momento, pedindo maior atenção às famílias cristãs. O confronto é e continua sendo cerrado. Até mesmo o L'Osservatore Romano escreveu uma crônica honesta sobre o que aconteceu, relatando um "breve e cerrado debate" na presença do papa, que observava as faíscas silenciosamente.
Bergoglio se pronunciará apenas com o Sínodo concluído, no ano que vem, quando ocorrerá a segunda parte da cúpula. Nas emendas, refletem-se as duas visões da Igreja, de um lado, os aberturistas às novidades sociais; de outro os rigoristas, porque "a fé não é mudada por uma maioria".
A Relatio synodi será votada no sábado. Ainda não se sabe com quantas modificações. Não se sabe se Baldisseri escolherá o caminho da mediação. O risco para os padres sinodais é o de fazer uso do ábaco.
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''Queriam censurar as emendas sinodais'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU