13 Outubro 2014
Que a eleição presidencial seria apertada era previsível pelo baixo crescimento da economia. Toda vez que o PIB empaca, o governo de plantão se vê em dificuldade e o pleito fica acirrado. O julgamento da Ação Penal 470, com cobertura maciça, e as manifestações de junho de 2013 - explosão de insatisfações várias - completaram o quadro de problemas para a candidatura oficial.
O comentário é de André Singer, cientista político, publicado no jornal Folha de S. Paulo, 11-10-2014.
Em tais circunstâncias, o desempenho de Dilma Rousseff nas urnas do primeiro turno foi bom. Ter o apoio de 42% do eleitorado no meio de tanta adversidade mostra a sobrevivência do projeto lulista, não o seu esgotamento. A vasta base social que o sustenta ficou firme.
No entanto, agora o quadro é outro. Depois da onda Marina em agosto, no fecho da campanha formou-se uma inesperada onda Aécio, cuja força, talvez por ter ocorrido em cima das urnas, não foi captada pelos institutos de pesquisa. O detonador da maré aecista pode ter sido o último debate, que foi pela madrugada de sexta-feira adentro, terminando a quase 48 horas do pleito.
O que aconteceu? Marina Silva chegou aos estúdios da TV Globo ainda três pontos percentuais acima do tucano. Mas pode ter sido fatal ter estado rouca e abatida naquela noite, transmitindo na tela uma fragilidade física que parecia confirmar as suspeitas de fragilidade política. O candidato do PSDB, ao contrário, destacava-se pela vivacidade.
Nas competições eleitorais equilibradas, eventos de campanha que em condições normais pesam pouco, tornam-se decisivos. Convém lembrar o abatimento de Lula no último debate frente a Collor em 1989. Isso ocorre porque os eleitores voláteis são pouco interessados em política.
Optam em função de "sinais", mais do que pelo cansativo acompanhamento dos conteúdos debatidos.
Seja como for, o fato é que a virada do PSDB trouxe sete pontos percentuais a mais para Aécio no domingo, que chegou, assim, a 34% dos sufrágios válidos. O número em si não impressiona, pois repete a votação de José Serra em 2010. Contudo, é importante como parte de uma onda ainda em ascensão, como mostrou o Datafolha anteontem. Com 46% das intenções de voto, sobre o total do eleitorado, no segundo turno o mineiro está quatro pontos percentuais acima do que tinha uma semana atrás, enquanto Dilma perdeu os mesmos quatro pp.
Cabe ver como o time lulista reagirá a essa ascensão. É provável que Dilma se desloque à esquerda, como fez no primeiro turno, em busca de reunificar em torno de si um bloco popular majoritário. Mas as denúncias a respeito da Petrobras, que estranhamente chegaram ao "Jornal Nacional" na forma de longas fitas gravadas justo no dia em que recomeçava o horário gratuito, vão dificultar o trabalho.
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