09 Outubro 2014
Fotos: Ricardo Machado/IHU |
Maria Laura, confericista do evento. |
A apresentação foi para uma plateia predominantemente feminina, pois, dos mais de cem participantes que estiveram presentes ao Auditório Central, havia apenas quatro homens acompanhando a explicação sobre o novo Guia Alimentar para a população brasileira. “Temos que lutar por uma urbanização melhor e um transporte adequado para que as pessoas tenham tempo de cozinhar. Não podemos cobrar das pessoas uma prática que é impossível de ser cumprida”, complementou Maria Laura, ampliando e complexificando o debate em torno da alimentação.
Transformações
O novo Guia da Alimentação foge dos antigos padrões e busca apresentar uma proposta mais condizente, tanto do ponto de vista dos hábitos das diferentes regiões do país quanto das complexidades contemporâneas em torno da alimentação. “A maioria dos guias de alimentos dizem respeito aos nutrientes, mas o problema é que o perfil nutricional não é suficiente para explicar o consumo alimentar. As refeições, as combinações de alimentos, são uma construção cultural”, explica. “Há várias questões nisso tudo, entre elas o valor simbólico da alimentação, sua relação com o meio ambiente, com o ato de comer – onde e como as pessoas se alimentam”, completa.
Princípios
Ao explicar os princípios que orientaram a construção do Guia, a conferencista chamou atenção para a necessidade de pensarmos os alimentos não apenas como nutrientes. “A alimentação é mais do que ingestão de nutrientes. Não se trata de dizer que o nutrientes não são importantes, mas, sim, ir além. A alimentação deriva de um sistema alimentar socialmente e ambientalmente sustentável. Diferentes saberes geram conhecimento sobre alimentação”, argumenta.
Recomendações Gerais
As principais recomendações apontam para a necessidade de consumirmos o máximo possível de alimentos não processados ou minimamente processados e evitar os ultraprocessados. “Os alimentos não processados são aqueles que não têm nenhuma interferência da indústria e os minimamente processados são aqueles que passam pela indústria, mas sem acréscimo de novas substâncias. Esses dois grupos fazem parte da maior parte da alimentação dos brasileiros”, destaca.
"Completamente diferente do primeiro grupo, são os ultraprocessados. Eles praticamente não têm o alimento inteiro na preparação e fica difícil reconhecer de onde vêm tais produtos. Além disso, trazem um impacto ambiental muito grande, porque desloca a produção familiar à produção em larga escala, sem contar o alto índice de materiais descartáveis que se gera”, alerta.
Auditório Central da Unisinos recebeu aproximadamente cem pessoas |
Alimentos e reparações culinárias
“O arroz com feijão segue sendo o carro-chefe do almoço brasileiro. Uma surpresa da pesquisa foi que, na média, os brasileiros mantêm o hábito de jantar, sendo que 90% da população baseia a alimentação em três momentos: café da manhã, almoço e janta”, relata Maria Laura.
Como comer
De acordo com a conferencista, é importante que possamos manter os hábitos alimentares regulares. Ela ainda destaca que devemos comer em ambientes apropriados, o que não significa que haja um “local correto” para comer, mas que as particularidades de cada cultura que compõe o cenário brasileiro devem ser respeitadas e servir de parâmetro.
Compreendendo e superando os obstáculos
Para Maria Laura, o primeiro obstáculo é a falta de informação. “É importante que a gente discuta a diferença entre informação e publicidade. A segunda limitação é a oferta, pois há comunidades que não têm locais para compras de frutas e verduras. Não tem como cumprir as recomendações do Guia se o ambiente não nos ajuda”, avalia. Apesar disso, ela ressalta que “o Brasil tem muitos locais que vendem prato feito – o popular PF, a À la minuta, e isso é uma característica muito forte e positiva de nossa cultura, pois estamos consumindo alimentos preparados e não ultraprocessados”.
Dez passos para uma alimentação saudável
Acompanhe uma síntese do Guia Alimentar para a população brasileira em dez tópicos.
1. Fazer de alimentos a base da alimentação;
2. Usar óleos, gorduras, sal e açúcar com moderação;
3. Limitar o uso de produtos prontos para consumo;
4. Comer com regularidade, com atenção e em ambientes apropriados;
5. Comer em companhia;
6. Fazer compras de alimentos em locais que ofertem variedades de alimentos frescos e evitar aqueles que só vendem produtos prontos para consumo;
7. Desenvolver, exercitar e partilhar habilidades culinárias;
8. Planejar o uso do tempo para dar à alimentação o espaço que ela merece;
9. Dar preferência, quando fora de casa, a locais que servem refeições feitas na hora e evitar redes de fast food;
10. Ser crítico quanto a informações, orientações e mensagens sobre alimentação veiculadas em propagandas comerciais.
Dia Mundial da Alimentação
O Dia Mundial da Alimentação é comemorado em 16 de outubro, pois foi a data em que foi fundada, no ano de 1945, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e a Alimentação – FAO (na sigla em inglês). Em 1981, foi o primeiro ano do Dia Mundial da Alimentação e em 2014 está sendo celebrado o Ano Internacional da Agricultura Familiar.
Quem é Maria Laura Louzada?
Maria Laura Louzada é graduada em Nutrição pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre – UFCSPA, onde também realizou mestrado. Atualmente é doutoranda em Nutrição e Saúde Pública da Universidade de São Paulo - USP.
Maria Laura Louzada
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Alimentação, uma manifestação cultural e um ato político - Instituto Humanitas Unisinos - IHU