Por: Jonas | 08 Outubro 2014
A socióloga turca Zeynep Tufekci, em sua palestra hoje (7) na TEDGlobal, destacou o papel das mídias sociais nos protestos que ocorreram em vários países nos últimos anos. De acordo com ela, o problema é que, ao mesmo tempo em que se torna muito fácil reunir as pessoas em torno de uma causa, como ocorreu na Turquia, no Barein, com os Indignados na Espanha ou o Occupy Wall Street nos Estados Unidos, a mobilização por meio das redes sociais ainda não foi capaz de trazer as mudanças profundas que os ativistas e manifestantes desejavam.
A reportagem é de Akemi Nitahara, publicada pela Agência Brasil, 07-10-2014.
“Três anos depois do Occupy, o sistema ainda está lá. Voltei à Turquia um ano após os protestos e descobri que os manifestantes estavam frustrados, porque tinham conseguido muito menos do que queriam. A internet ajuda na organização logística, de poder pensar junto, seguir pelas diferenças. Os movimentos começam muito rápido e crescem rápido, mas não conseguem se manter. Os movimentos, hoje, precisam ir além das organizações em grande escala, criando formas como plataformas abertas e jornalismo cidadão”, disse.
Foi o que a ativista política da Argentina Pia Mancini fez. Ela relatou a experiência de tentar mudar a forma como é exercida a democracia no país que, segundo ativista, é a mesma há 200 anos. “Nós estamos em um sistema em que podemos escolher as nossas autoridades, mas somos totalmente excluídos de como eles tomam as decisões,” disse. Pia criou o aplicativo DemocracyOS, que explica todas as leis em discussão no Congresso argentino e as pessoas podem opinar. Na teoria, os representantes deveriam seguir essa opinião popular para votar o projeto, destacou.
Também foi apresentada uma experiência brasileira, com a ativista política Alessandra Orofino. Ela lembrou que a participação da população em eleições tem diminuído em várias partes do mundo, como nos Estados Unidos, na França e também no Brasil, onde houve quase 30% de abstenção e voto nulo na última eleição para prefeito no Rio de Janeiro. De acordo com ela, é preciso mudar a forma de tomada de decisão, já que “o direito de votar como única forma de participação não é mais o suficiente”.
Alessandra disse ainda que a tecnologia pode contribuir muito para isso. “Os governos ainda não usaram a tecnologia para beneficiar o cidadão e permitir a participação naquilo que importa. Não precisamos esperar o governo para fazer isso. Há três anos cofundei uma organização chamada Meu Rio, que estimula as pessoas a se engajarem nas localidades sobre o que importa para eles”.
Ela citou o uso da plataforma chamada de Panela de Pressão, que conseguiu mobilizar a sociedade e fazer o governo tomar decisões favoráveis em casos como a manutenção da Escola Municipal Friedenreich, no entorno do Estadio Jornalista Mario Filho, o Maracanã, e a criação da Delegacia de Descobertas de Paradeiro. “Nós estamos prontos, como cidadãos, para decidir o nosso destino comum e distribuir poder”, ressaltou.
As novas formas de mobilização social e a falta de privacidade na internet estiveram em debate hoje (7) na segunda sessão do TEDGlobal, que ocorre no Rio de Janeiro e tem como tema o Hemisfério Sul. O evento ocorre em uma estrutura fechada montada na Praia de Copacabana, mas, pela primeira vez, está sendo transmitido online para locais como escolas, bibliotecas e universidades cadastradas, com tradução simultânea para o português.
A privacidade na internet foi debatida pelo jornalista norte-americano Glenn Greenwald, responsável pela divulgação dos programas de vigilância dos Estados Unidos pela NSA, revelados por Edward Snowden, então consultor da NSA. De acordo com Greenwald, é errada a visão de que quem não tem nada a esconder não deve temer a invasão de privacidade na internet.
“Existe a mentalidade de se você tem vergonha de estar fazendo alguma coisa, não deveria estar fazendo. Somos seres sociais, mas precisamos ter espaço livre de pensamento. Todos nós temos coisas a esconder. Tem coisas que só estamos dispostos a falar para o médico, advogado ou analista, mas não queremos que o mundo todo saiba”, disse.
O jornalista ressaltou que diversos estudos mostram mudança de comportamento quando a pessoa sabe que está sendo monitorada. “Quando estamos em um estado em que podemos ser monitorados, nosso comportamento muda drasticamente, é bem mais conformista com as regras. O Estado não precisa mais das armas da tirania, a vigilância cria uma prisão na mente, é bem mais eficaz do que a força bruta. A vigilância restringe nossa liberdade de escolha. Quem não se mexe não percebe as suas correntes”.
O último palestrante da sessão, Andy Yen, é especialista em desenvolvimento de sistemas de segurança e participou do desenvolvimento do Protomail, serviço criptografado que não permite ao servidor ler as mensagens, como ocorre atualmente. Ele lembrou que os dados pessoais ficam para sempre na internet e devem, sim, ser preservados.
“O primeiro passo é mostrar que a tecnologia não pode ser difícil, tem que ser algo acessível. Mas podemos manter a privacidade sem todo o dinheiro que a propaganda nós dá? Acho que sim, o Protomail tinha tanta gente que não tínhamos mais dinheiro. Então as pessoas se uniram e doaram meio milhão de dólares. Precisamos de um novo modelo de negócios na internet, menos dependente de propaganda. Os nossos dados online são muito mais do que conjuntos de zeros e uns, são nossas vidas, nossas aspirações. Chegou a hora de dizer que sim, queremos vive num mundo de privacidade online. E podemos fazer isso”, disse.
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Mobilização pela internet ainda não trouxe mudanças profundas, diz socióloga - Instituto Humanitas Unisinos - IHU