Por: Jonas | 07 Outubro 2014
A descoberta de seis valas clandestinas com 28 corpos nos arredores de Iguala (estado de Guerrero), no México, acirrou o clima de apreensão no país. O município de 131.000 habitantes, onde impera a lei do narcotráfico, viveu na última sexta-feira de setembro uma onda de violência policial contra um grupo de estudantes de pedagogia que terminou com seis mortos, 17 feridos e 40 desaparecidos. A possibilidade de os corpos, localizados em Pueblo Viejo, serem dos estudantes pesa na mente das autoridades e de todo o país, mas, por enquanto, nem a Procuradoria nem nenhum órgão oficial confirmaram essa hipótese.
A reportagem é de Jan Martínez Ahrens e Luis Pablo Beauregard, publicada pelo jornal El País, 06-10-204.
O procurador estadual, Iñaky Branco, afirmou em uma entrevista coletiva no domingo que os corpos estavam calcinados e que a identificação levará entre “15 dias e dois meses”.
A descoberta abalou pais e colegas dos desaparecidos. As tentativas de acalmá-los pouco adiantaram. A casa do governador, Ángel Aguirre, cujo papel é cada vez mais questionado, foi atacada com coquetéis molotov na noite de sábado. Todas as escolas rurais de pedagogia do México declararam greve em solidariedade aos colegas de Ayotzinapa.
O temor de que esses estudantes, um grupo de origem camponesa, muito organizado e tradicional celeiro de guerrilheiros, desencadeiem uma onda de violência maior levou o governador a pedir tranquilidade: “Faço um apelo para manter a concórdia e evitar a violência. Hoje precisamos como nunca da unidade de todos. Seria lamentável alguém tirar proveito político”.
O destino dos desaparecidos em Iguala tornou-se uma incógnita de magnitude nacional. A selvagem violência da polícia contra os estudantes por tomarem três ônibus e a intervenção de pistoleiros junto a agentes municipais contribuíram para deteriorar a situação em Guerrero. O estado, com quase três milhões e meio de habitantes, tem a maior taxa de homicídios no México e é campo de batalha de quatro organizações criminosas. No caso de Iguala, o controle está nas mãos do Guerreros Unidos, uma organização sanguinária surgida das cinzas do cartel de Arturo Beltrán Leyva, o Chefe dos Chefes.
A detenção de 22 policiais municipais por envolvimento nas mortes não conteve o escândalo. O prefeito de Iguala, José Luis Abarca, acusado de ligações com o narcotráfico, fugiu em meio às denúncias sem que nenhuma autoridade fosse capaz de pôr as mãos nele. “O ministério público promoverá um julgamento para que o prefeito perca o foro. Estamos investigando indícios contra ele”, disse o procurador no domingo.
O secretário de Segurança, chefe dos agentes que atiraram contra os estudantes, seguiu o mesmo caminho. As investigações determinaram que muitos policiais detidos eram membros do Guerreros Unidos. A polícia deteve alguns pistoleiros, mas nenhum cabeça foi pego.
A dimensão do caso levou a Procuradoria Geral da República, um órgão subordinado ao presidente, a tomar as rédeas das investigações. O país acompanha com expectativa o resultado das investigações. Ninguém duvida que uma bomba relógio foi acionada.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Descoberta de 28 corpos em valas comuns cria tensão no México - Instituto Humanitas Unisinos - IHU