25 Setembro 2014
Em muitos aspectos, o caso do ex-arcebispo Jozef Wesolowski, que já foi diplomata do Vaticano e que é acusado de pagar dinheiro a menores de idade na República Dominicana para realizarem atos sexuais, tornou-se um “teste das manchas de tinta” para se ter impressões mais amplas de onde a Igreja Católica se encontra em sua recuperação depois dos escândalos de abusos sexuais infantis.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicado por Crux, 24-09-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Para os críticos, o caso é uma lição sobre a incapacidade da Igreja, ou indisposição, de fazer a “tolerância zero” funcionar.
O enviado polonês foi chamado de volta da República Dominicana, em segredo, no mês de agosto de 2013, poucos dias antes que um jornalista investigativo no país publicou a história dos abusos. Inicialmente o Vaticano fez declarações diversas, e mesmo contraditórias, sobre o motivo desta decisão.
Ao religioso de 66 anos foi lhe permitido circular livremente em Roma, sem nenhuma restrição.
Certa vez, um bispo da República Dominicana que fazia uma visita à cidade viu Wesolowski numa rua próximo ao Vaticano e tuitou: “O silêncio da Igreja magoa o povo de Deus”.
Por causa de seu status como diplomata, muitas pessoas imaginaram que Wesolowski fora trazido a Roma para evitar um processo civil tanto na República Dominicana quanto em seu país de origem, a Polônia.
Aos que simpatizam com a Igreja, Wesolowski está sendo o símbolo de um sistema que está sendo reformado.
No último mês de junho, o Vaticano anunciou que na sequência de uma investigação interna, Wesolowski fora laicizado, que quer dizer que fora destituído de seu status não só como bispo mas também como padre. Esta é uma pena rara para um bispo. Ele tem o direito a apelação, mas, enquanto isso, o Vaticano disso que dele se retirou a imunidade diplomática e que, portanto, poderia ser extraditado para outro país que busque processá-lo.
Na terça-feira, um tribunal criminal no Vaticano teve uma audiência inicial relativa ao caso Wesolowski, visto que o Papa Francisco revisou as leis do Estado da Cidade do Vaticano em julho de 2013 para fazer os atos sexuais com crianças um crime às pessoas sob sua jurisdição, o que inclui os embaixadores do papa. o crime é punível por até 12 anos de prisão.
Enquanto os procedimentos de desenrolam no Vaticano, Wesolowski foi colocado sob prisão domiciliar.
Se Wesolowski for condenado, poderá se tornar a primeira pessoa sentenciada a um período numa prisão vaticana desde Paolo Gabriele, o ex-mordomo do Papa Bento XVI que foi condenado por ser a toupeira no centro dos casos de vazamentos de documentos vaticanos em 2011 e 2012. Gabriele foi condenado a passar 18 meses atrás das grades, tendo sido perdoado depois por Bento XVI.
O Estado da Cidade do Vaticano processa um punhado de infrações penais todo ano, que em sua maioria são atos de furtos pequenos tais como roubos menores nos museus da cidade. Este Estado possui uma pequena prisão; uma cela desta foi usada para detenção de Gabriele. Em anos recentes, porém, quando alguém enfrentava uma demorada pena, um acordo era normalmente selado com as autoridades italianas para transferi-la a uma prisão do país.
Wesolowski está sob prisão domiciliar, e não numa prisão do Vaticano, por causa de problemas de saúde.
Supondo que Wesolowski seja condenado, e especialmente se ele for depois entregue a autoridades de outros países para enfrentar acusações civis, o Vaticano poderia estaria em condições de sustentar aquilo o Papa Francisco quis dizer com o que falou em maio de 2014, de que não haverá “protegidos”, ou seja, pessoas com privilégios especiais só por causa do status clerical.
Alguns defensores as vítimas continuam céticos. A Rede de Sobreviventes de Abusados por Padres – SNAP (na sigla em inglês), o maior grupo de vítimas dos EUA, publicou uma nota hoje em que diz: “duvidamos muito que as autoridades católicas vão pôr em prática esta decisão”, manifestando também a preocupação de que alguma decisão não favorável ao religioso acabe levando muito tempo para ser tomada.
“Estamos gratos que esta ação foi finalmente feita, pensamos que ela deveria ter acontecido há alguns meses e acreditamos ser melhor se as autoridades seculares tiverem condições de processar e prender Wesolowski”, lê-se na nota.
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Prisão de ex-prelado polonês Um teste para reformas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU