26 Setembro 2014
Não quer levantar polêmicas e até está um pouco desconcertado. “Dizem que quero contrapor-me, mas eu não quero contrapor-me a ninguém!”. O cardeal Gerhard Ludwig Müller, prefeito do ex-Santo Ofício, não se capacita do que está acontecendo. Repetiu-o às pessoas mais próximas: “Aquele texto saiu há mais de um ano, publicou-o até o Osservatore Romano!”. De resto, no Vaticano há certa irritação por uma “operação editorial” que apresentou um texto precedente como uma “resposta” à relação introdutória de Walter Kasper ao Sínodo sobre a família.
A reportagem é de Jean Guido Vecchi, publicada pelo jornal Corriere della Sera, 19-09-2014. A tradução é de Benno Dischinger.
Tudo nasceu com a publicação do livro “Matrimônio e comunhão na Igreja católica” que reúne os escritos de cinco cardeais contrários às aberturas de Kasper, a possibilidade que os divorciados e re-desposados sejam readmitidos à Comunhão. O livro, já preparado nos EUA pela Ignatius Press (Remaining in the Truth of Christ, “Permanecer na Verdade de Cristo”), foi traduzido ao italiano pela Cantagalli. Entre os autores, aquele mais em vista é obviamente o prefeito da Congregação para a Doutrina da fé.
Só que o texto do cardeal Müller é o mesmo que o cotidiano da Santa Sé publicou aos 23 de outubro de 2013, quatro meses antes que Kasper – por solicitação de Francisco – fizesse a sua relação aos cardeais (20 de fevereiro de 2014). Mas, não basta: o ensaio saído no Osservatore, se explica, era por sua vez a tradução de um texto saído na Alemanha, no cotidiano católico Tagespost, aos 15 de junho de 2013.
Um texto que reconstruía na história a doutrina sobre a indissolubilidade do matrimônio e as razões do não aos sacramentos, teses por mais vezes afirmada pelo cardeal, aludindo, aliás, a uma possível solução, ou seja, o reconhecimento da nulidade das núpcias: vista a "mentalidade contemporânea", os matrimônios "são provavelmente com mais frequência inválidos em nossos dias do que o tenham sido no passado".
O Osservatore, em vista do Sínodo anunciado, escreveu que o publicava "para aprofundar com serenidade o tema". O cardeal falara antes a esse respeito a Francisco: o prefeito do ex-Santo Ofício não sai com duas páginas sobre o jornal vaticano sem que o Papa o saiba. Mais tarde o Osservatore publicou também um ensaio de Kasper.
Agora aquele livro sai quinze dias antes do Sínodo, quando “o momento não é feliz”. As pessoas próximas a Müller explicam que o cardeal havia simplesmente respondido que sim à publicação do seu velho texto, sem depois ocupar-se do livro. E agora, além Tibre se quer abaixar os tons: também por temor que haja aqui “sopro sobre o fogo” para obstaculizar Francisco e o Sínodo.
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Müller estupefato: o meu texto saiu há mais de um ano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU