Por: Cesar Sanson | 26 Agosto 2014
Os rebelados de uma cadeia do Paraná arrancaram as cabeças de dois homens
Nove meses após as decapitações na penitenciária maranhense de Pedrinhas assombrarem o país, presos de outra cadeia voltaram a agir da mesma maneira. No último final de semana, um grupo de detentos da penitenciária estadual de Cascavel, no Paraná, iniciaram uma rebelião que até o início da tarde desta segunda-feira já tinha resultado no assassinato de quatro homens. Duas das vítimas tiveram suas cabeças arrancadas e outras duas morreram após serem jogadas de uma altura de 15 metros, o equivalente a um prédio de cinco andares.
A reportagem é de Afonso Benites e publicada pelo jornal El País, 25-08-2014.
O motim começou na manhã de domingo, quando um agente penitenciário foi entregar o café da manhã dos detentos. Quando ele chegou ao pavilhão, um cadeado que trancava uma das celas estava serrado e o funcionário acabou rendido pelos presos. Na sequência outros agentes foram feitos reféns e impedidos de sair. Nesta segunda, ao menos dois deles continuavam proibidos de deixar o complexo penitenciário.
Segundo a Polícia Militar, 800 dos 1.040 presos da penitenciária estadual participam da rebelião. Os detentos afirmam que o protesto foi uma forma de chamar a atenção das autoridades para as péssimas condições do presídio e para maus tratos que eles estariam recebendo. Durante o motim, os detentos estenderam uma bandeira com a sigla PCC, em referência à organização criminosa Primeiro Comando da Capital, uma das principais facções do Brasil.
Professor da Universidade Federal do Paraná e pesquisador na área de segurança pública, o sociólogo Pedro Bodê de Moraes diz que a ação demonstra a falência do Estado na questão penitenciária, na qual mais reprime do que reeduca. “A presença do PCC no Paraná mostra a força de uma organização criminosa que cresce na ausência do Estado”, ponderou Moraes.
Assim como no restante do país, as cadeias paranaense estão superlotadas, há cerca de 31.000 detentos em 17.000 vagas. Em todo o Brasil, são 547.000 presos em 310.000 vagas.
De acordo com as autoridades, além dos quatro mortos, outras quatro pessoas acabaram feridas. As vítimas dos detentos são homens presos por estupro, um ex-policial e um acusado de matar crianças. Um dos decapitados era um ex-policial que estava detido em uma cela comum sob a acusação de comandar um esquema de furto e desvio de peças de veículos apreendidos pela polícia.
Nesta segunda-feira, familiares dos presos bloquearam o tráfego em uma rodovia em protesto contra a falta de informações sobre a situação dos detentos que continuam nesta penitenciária. Na noite anterior já haviam queimado um ônibus e um carro na cidade de Cascavel sob o mesmo argumento. Uma comissão formada por representantes de secretarias estaduais, da Justiça e da polícia negociam com os detentos o fim da rebelião e a libertação dos dois reféns. Nos próximos dias, vários presos devem ser transferidos de unidade prisional.
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As decapitações voltam a assombrar o sistema penitenciário brasileiro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU