Por: Jonas | 13 Agosto 2014
“É insólito que o presidente de um país (Estados Unidos) que se arrogou a condição de líder na luta pela liberdade, justiça e direitos humanos faça apologia a uma atividade criminosa, que teve que ser ocultada diante dos olhos dos cidadãos que com seus impostos financiam a Usaid (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) para promover o desenvolvimento e não projetos sediciosos em outros países”, denuncia o cientista político e sociólogo Atilio A. Boron, mencionando a intromissão em Cuba, em artigo publicado por Página/12, 10-08-2014. A tradução é do Cepat.
Eis o artigo.
Dias atrás, a agência de notícias Associated Press divulgou que a Usaid, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, havia enviado a Cuba, como turistas, um grupo de jovens da Venezuela, Peru e Costa Rica com o propósito de promover a politização e a rebeldia da, segunda a Usaid, “apática juventude cubana”.
A iniciativa foi adotada em outubro de 2009, seis dias depois de que as autoridades da ilha prenderam Alan Gross, um suposto especialista em questões de desenvolvimento que, como contratado da Usaid, introduziu ilegalmente tecnologias informáticas em Cuba. Gross teria sido recomendado à Usaid pelo Comitê Judeu Americano e enviado com o aparente propósito de ajudar a comunidade judia cubana a se conectar a Internet.
O recrutamento e envio do grupo de jovens a Cuba é apenas mais um dos múltiplos programas clandestinos que a Casa Branca utiliza para promover a “mudança de regime” – um eufemismo utilizado para evitar falar de “subversão constitucional” ou “sedição” – na ilha caribenha e que é realizado em muitos países sob o guarda-chuva de organizações como a Usaid, a NED (Fundo Nacional para a Democracia) e inúmeras ONGs ou instituições de diversos tipos, supostamente interessadas na promoção dos direitos humanos, do meio ambiente e do desenvolvimento.
Em relação ao caso que estamos tratando, a cobertura para a atividade foi a realização de uma oficina sobre os métodos de prevenção do HIV, o que era, segundo seus organizadores, a “desculpa perfeita” para encobrir seus desígnios sediciosos. Assim como no caso de Gross, a Usaid apelou à terceirização para invisibilizar seu envolvimento, contratando uma empresa internacional, com sede em Washington, Creative Associates, que opera em 85 países oferecendo assessoria e assistência a programas de desenvolvimento. Certamente, por pura casualidade é a mesma companhia que, fazendo honra a seu nome, tentou criar uma rede de mensagens de texto com o nome de ZunZuneo, que tentava ser uma espécie de “Twitter cubano” para favorecer atividades ilegais na ilha.
Para executar a atual missão encomendada pela Usaid, a citada empresa subcontratou os serviços de Fernando Murillo, o chefe de uma ONG de direitos humanos da Costa Rica, a FOGY (Fundação Operação Gaya Internacional), que assumiu a frente da operação ilegal. Assim, os jovens cubanos não tinham como saber se quem estava financiando e organizando a oficina era o governo dos Estados Unidos, que desde o dia 1º de janeiro de 1959 fustiga e agride Cuba sem parar. Um deles declarou que Murillo se apresentou como o líder de uma ONG, ocultando a responsabilidade da Usaid na organização e financiamento do projeto. Segundo a AP, Murillo e os jovens costarriquenses receberam instruções de se comunicarem a cada 48 horas, além de um rudimentar código de segurança para alertar sobre as condições em que o seu trabalho se desenvolvia. Caso suspeitassem que a contra-inteligência cubana estava seguindo os seus passos, deveriam enviar uma mensagem dizendo “estou com dor de cabeça”, a partir do que a missão deveria ser abortada. Os jovens participantes recebiam da FOGY uma compensação de 5,41 dólares por hora, pouco mais da metade do salário mínimo vigente nos Estados Unidos. Estourado o escândalo, o presidente Obama saiu em defesa do programa e reconheceu que o mesmo tinha um duplo propósito: fortalecer a “sociedade civil” cubana (outro conveniente eufemismo) e informar aos jovens sobre o HIV.
É insólito que o presidente de um país que se arrogou a condição de líder na luta pela liberdade, justiça e direitos humanos faça apologia a uma atividade criminosa, que teve que ser ocultada diante dos olhos dos cidadãos que com seus impostos financiam a Usaid para promover o desenvolvimento e não projetos sediciosos em outros países. A legislação dos Estados Unidos penaliza duramente qualquer atividade deste tipo, que possa ser impulsionada dentro do país por ordem e conta de um governo estrangeiro. Basta imaginar qual seria a reação de Washington, caso descobrisse que um grupo de jovens iranianos, iraquianos e afegãos, como turistas, ao percorrer universidades alertando sobre os perigos do HIV, recrutasse jovens para motivá-los e organizá-los para derrubar a ordem constitucional vigente, para perceber a gravidade do ocorrido em Cuba. No entanto, a infame dupla medida do governo estadunidense faz com que aquilo que em casa se considera um crime merecedor de duríssimas sanções, seja uma atividade virtuosa quando praticada no exterior. Mais uma mostra da decomposição moral de um império em decadência, que não para de conspirar com o objetivo de perpetuar, a qualquer custo, a subordinação dos países que lutam por sua dignidade, sua emancipação, sua liberdade.
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A sedição interminável - Instituto Humanitas Unisinos - IHU